Os moinhos de trigo avaliaram de forma positiva a decisão do governo de zerar a tarifa de importação do grão, anunciada na quarta-feira (11/5) pelo Ministério da Economia. O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, disse que a medida já vinha sendo reivindicada pelo setor, neste momento de alta de preços e a desorganização do mercado internacional do cereal com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
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Plantação de trigo. Cereal importado teve a tarifa zerada pelo governo brasileiro (Foto: REUTERS/Enrique Marcarian)
De acordo com o MInistério da Economia, a retirada da tarifa foi feita com a inclusão do produto na chamada Lista de Exceções da Tarifa Externa Comum (Letec). É um instrumento previsto no Mercosul que permite, em caráter temporário e excepcional, aplicar taxas de importação diferentes da Tarifa Externa Comum (TEC), cobrada de produtos de fora dos integrantes do bloco sul-americano.
A medida vale até 31 de dezembro de 2022, conforme informado pela pasta. Atinge também a farinha de trigo, carnes bovina e de frango, ácido sulfúrico, o fungicida Mancozeb, bolachas, biscoitos e alguns produtos de padaria e pastelaria, além de dois tipos de vergalhão de aço. O milho, que já estava incluído na Letec, foi mantido.
No caso da indústria do trigo, a tarifa zero para o grão atende um setor que, no Brasil, é altamente importador. Em torno de 60% do cereal consumido no país vem de fora, principalmente da Argentina e outros países do Mercosul. No primeiro trimestre de 2022, o Brasil importou 1,528 milhão de toneladas. Desse total, 1,308 milhão era argentino. Depois aparecem Uruguai (93,928 mil) e Paraguai (70,480 mil).
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Segundo o presidente da Abitrigo, a Argentina já exportou grande quantidade de trigo e não teria mais o suficiente para atender a demanda do Brasil. O país teria apenas uma "pequena margem" para vendas externas, produto que está nas tradings e que pode ir para qualquer mercado. "Se esse trigo vier para o Brasil, uma boa parte da demanda nossa pode ser atendida, mas isso não é certo, porque a gente não sabe para onde vai esse trigo", diz.
A estimativa, de acordo com Barbosa, é de que os moinhos nacionais ainda tenham que importar entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas até outubro. Sem a incidência da Tarifa Externa Comum (TEC) sobre o grão, as indústrias poderão comprar de outras origens a preços similares aos praticados no Mercosul. No primeiro trimestre, o Brasil comprou 45,973 mil toneladas dos Estados Unidos, por exemplo.
Apesar das dificuldades na logística internacional enfrentadas por diversas cadeias produtivas, Rubens Barbosa cita entre os fornecedores os Estados Unidos, Canadá e a própria Rússia, que, segundo ele, ainda está exportando e a preços abaixo dos praticados no mercado internacional. "Não vai faltar trigo. O abastecimento está garantido. O problema é o preço praticado hoje no mercado internacional", diz ele.
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Segundo Barbosa. Apenas entre fevereiro, quando começou a guerra no leste europeu, e março, os preços internacionais do trigo, referenciados na Bolsa de Chicago (EUA) aumentaram mais de 30%. No mercado brasileiro, o indicador do cereal medido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), com base no Paraná, tem alta de 2,35% neste mês, até a quarta-feira (11/5), quando fechou a R$ 1.963,54 a tonelada. Em todo o mês de abril, a valorização foi de 2,36%.
A referência com base no Rio Grande do Sul acumula alta de 2,9% neste mês. Na quarta-feira (11/5), ficou em R$ 1.968,38 a tonelada. Em abril, tinha acumulado alta de 5,1%. "A tendência continua sendo de alta ou, pelo menos, de manutenção dos preços altos", diz o presidente da Abitrigo. "Enquanto durar a guerra, vai continuar esse aumento de preços. Depois que acabar a guerra, pode haver uma diminuição, mas não muito significativa, porque o preço, com a desorganização do mercado, deve continuar alto", acrescenta.
Farinha de trigo
Com relação ao imposto zero de importação para a farinha de trigo, Rubens Barbosa diz acreditar que essa competição pode aumentar para os moinhos brasileiros, mas não de uma forma significativa a ponto de afetar a competitividade da indústria nacional.
"Pode ter algum efeito na importação de farinha da Argentina. A Argentina já vem exportando para o Brasil, nos últimos anos, razoavelmente para o Brasil. E exporta em concorrência com os moinhos brasileiros. Pode haver um pequeno aumento, mas não vejo desorganização do mercado interno. Os moinhos brasileiros produzem competitivamente", afirma.
Apesar do aumento dos preços de produtos alimentícios, evidenciado pelos indicadores de inflação, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo afirma não ver, pelo menos até o momento, redução na demanda por farinha de trigo no mercado brasileiro. O consumo atual, segundo ele, está em torno de 12 milhões de toneladas.
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Rubens Barbosa pontua que medidas como a concessão do auxílio emergencial ajudam a compensar, em parte, a perda do poder de compra da população. E, do lado da indústria, ele diz que o repasse do aumento de custos para os preços da farinha foi "muito pequeno", justamente temendo um eventual efeito negativo sobre o consumo.
"Não há nenhum sinal de redução da demanda. Pode ser que, no futuro, se essa situação continuar, haja algum impacto. Mas, até agora, não houve nenhum impacto significativo na demanda por farinha. Não houve mudança significativa no consumo", afirma.
No mês de abril, a farinha de trigo para o consumidor aumentou 7,34%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira (11/5). Nos quatro primeiros meses do ano, a alta é de 15,44% e no período de 12 meses encerrado em abril, de 23,23%.
Source: Rural