Três granjas de suínos da BRF, uma das maiores companhias de alimentos no mundo, passaram a receber doses de sêmen por drones. Os equipamentos aéreos não tripulados, também conhecidos como drones delivery, substituem as operações que eram feitas por camionetes climatizadas na unidade de Faxinal dos Guedes, no oeste de Santa Catarina, que tem seis granjas e uma Central de Difusão de Genética (CDG) em seus 1.300 hectares.
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“Na BRF temos que fazer nascer um leitão a cada três segundos. A operação não para nunca e dependemos da entrega do sêmen das centrais com velocidade e qualidade para inseminar as matrizes nas granjas. A cada semana, nossos carros rodam 40 mil km para fazer essas entregas, o equivalente a uma volta completa no globo”, disse à Globo Rural Guilherme Brandt, diretor corporativo de Agropecuária da empresa, que, além de Santa Catarina, tem unidades e produtores integrados de suínos no Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
Drone BRF (Foto: Divulgação)
A aeronave utilizada leva peso máximo de 2,5 quilos e pode transportar em torno de 40 doses, realizando, em média, 23 viagens diárias ou 900 doses por semana. As doses são coletadas na CDG e colocadas em caixas. O piloto que fica no escritório acopla a caixa ao drone, que parte para o destino. A primeira granja fica a 542 metros do CDG e o transporte leva sete minutos de duração entre a ida e a volta do drone. A segunda granja, a 296 metros, demanda um tempo total de seis minutos. Para ida e volta da terceira granja, que fica a 840 metros, o voo dura oito minutos.
Os aparelhos decolam de forma automatizada com rota pré-definida e usam softwares de navegação, câmeras e sensores para voar até o destino onde a carga é desacoplada e deixada no campo de pouso, uma espécie de “droneponto”, retornando de forma automatizada ao ponto de origem. Os voos, que operam numa altura máxima de 120 metros, somente são autorizados em condições climáticas favoráveis e durante o dia.
Antes, o transporte era realizado por camionete climatizada, que levava cerca de 1h30 a 2h para atender as seis granjas. As outras três granjas do complexo de Faxinal devem passar a receber o material genético por drone até o final de junho.
Toda a operação é controlada pela Speedbird Aero, primeira empresa do país certificada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para trabalhar com logística aérea não tripulada. Instalada em Franca (SP), a Speedbird, parceira da BRF desde o projeto piloto desenvolvido em Toledo (PR) no ano passado, também fabrica os drones e desenvolve os sistemas de navegação.
“Na BRF temos que fazer nascer um leitão a cada três segundos. A operação não pára nunca e dependemos da entrega do sêmen das centrais com velocidade e qualidade para inseminar as matrizes nas granjas. A cada semana, nossos carros rodam 40 mil km para fazer essas entregas, o equivalente a uma volta completa no globo”,
Guilherme Brandt, diretor corporativo de Agropecuária da BRF
Vantagens de usar drones
Brandt afirma que, além da logística, três fatores pesaram na decisão pelos drones. O primeiro é a biosseguridade. A entrega de material genético por via aérea diminui o risco sanitário de veículos e pessoas levarem doenças ou patógenos para a área protegida das granjas. O segundo motivo é a segurança, já que o transporte por carros passa pelas estradas rurais com poeira, lama, buracos e riscos de acidentes etc.
“Pensamos também na questão de ESG. Ambientalmente, estamos trocando o combustível fóssil dos carros com emissão de gases pela energia limpa dos drones, que funcionam com baterias elétricas. E na parte social, consigo colocar novidades e tenho a opção de reter os filhos dos produtores integrados no campo como pilotos ou desenvolvedores de drones”, diz Brandt.
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Questionado sobre o investimento e se foi feito um cálculo de economia da troca dos carros por drones, o diretor diz que não pode revelar o investimento e que não foi feito um cálculo, a tecnologia ainda é bem cara, mas só a questão de aumentar a biosseguridade das granjas já vale todo o investimento e representa uma economia incalculável.
Brandt diz que não é possível prever em quanto tempo e se todas as granjas da BRF e dos integrados vão passar a receber o material genético por drone. Um fator limitador é a regularização feita pela Anac que permite voos apenas na área da propriedade. A maioria das granjas integradas da BRF fica a um raio de 60 km das CDGs, mas há unidades a 150 km também.
“Acreditamos que vai haver uma mudança na legislação que permita o voo entre propriedades, mas nosso projeto é uma ação de futuro”.
Outro limitador é a necessidade de expansão da rede de infraestrutura de celulares e conectividade para a realização dos voos. “Estamos avançando bastante nessa área entre os 10 mil integrados de suínos e aves.”
O diretor acredita que, no futuro, os drones poderão ser usados em outras atividades da empresa, como a coleta de material biológico ou a entrega de medicamentos para os integrados de aves, por exemplo.
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“Rompemos uma barreira com o transporte de sêmen. A ideia, no futuro, é realizar voos mais longos, cobrindo áreas maiores e utilizar tecnologias que sejam funcionais no campo, mas já podemos começar a pensar em outros usos para a tecnologia, trocando quilômetros de gasolina por voos a bateria.”
"Cada vez mais, empresas de vanguarda como a BRF vão incluir os drones na construção da eficácia logística, complementando os modais já existentes. Esta visão, certamente, trará ganhos para o negócio como um todo", diz Manoel Coelho, CEO e cofundador da Speedbird Aero.
De onde veio a ideia?
Foi de Brandt, que está há 32 anos na BRF, a ideia de transportar sêmen voando. “Eu tinha voltado de uma corrida num domingo, sentei em frente à TV e vi que a Anac havia liberado a entrega de iFood por drone. Aí, falei para a família: ‘Vou entregar semên voando. Minha mulher e a minha filha de oito anos acharam engraçado.”
O primeiro teste do Projeto Cegonha, que integra a Jornada de Transformação Digital da BRF, foi feito em 12 de maio de 2021 na granja do produtor integrado da BRF Ademir Geremias em Toledo, que tem também uma central de genética. O teste comprovou os ganhos com tempo, praticidade e segurança do transporte.
Brandt, que tem formação em veterinária e paixão por inovação e genética, gosta de lembrar que há 30 anos poucas pessoas falavam em inseminação no país e hoje 100% da produção suína comercial é feita com inseminação artificial.
“Antes, os produtores buscavam o material genético nas granjas, com todos os riscos que isso representava de contaminação, atraso, acidentes etc. Depois, veio o transporte por motoboys,que chacoalhava as doses. O terceiro passo foi o envio por camionetes climatizadas. Agora, o semên está voando. Gosto de tentar imaginar que inovações teremos em 30 anos…”
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Source: Rural