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O vírus H3N8 foi transmitido pela primeira vez de animais para humanos, de acordo com o governo chinês. O vírus foi detectado no último dia 5 de abril, na província central de Henan, na China, em um menino de quatro anos que teve contato com aves de criação em sua residência e patos silvestres. Ele foi hospitalizado com febre e outros sintomas. O Conselho Nacional de Saúde (CNS) da China afirmou o registro foi uma “transmissão única entre espécies e o risco de transmissão em larga escala é pequeno”. De acordo com o órgão, não foi verificada a transmissão da doença para as pessoas que tiveram contato com a criança.

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aves_frango_galinha_gripe_aviaria (Foto: Getty Images)

 

O que é o vírus H3N8?

O que é esse vírus, que já foi encontrado em cães, focas e cavalos? Segundo o professor Paulo Eduardo Brandão, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), trata-se de um vírus mais freqüente em cavalos, que provoca sérios problemas respiratórios nos animais. Para Brandão, a princípio, é mais possível que o menino infectado na China possa ter se contaminado com os patos silvestres, embora não haja qualquer relato de transmissão de cavalos para pessoas. “Aves aquáticas podem ter infecção por qualquer tipo de influenza, mas não quer dizer que elas chegam a ficar doentes”, diz.

De acordo com a pesquisa “Prevalência de anticorpos para o vírus da Influenza Eqüina, subtipo H3N8, em eqüídeos apreendidos no Estado do Rio de Janeiro”, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “a Influenza Equina se destaca dentre as inúmeras doenças que podem ser consideradas de risco para a equinocultura”. “Essa infecção pode ser fatal para asnos, potros, animais mantidos em más condições zootécnicas, não vacinados, e lactentes que não ingeriram o colostro”

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O vírus da Influenza Eqüina pertence à família Orthomyxoviridae, gênero Influenza virus A e apresenta dois subtipos: H7N7 e H3N8. De acordo com o estudo, desde 1980, tanto nos Estados Unidos como na Europa não há confirmações de casos de influenza eqüina causados pelo subtipo H7N7; todavia, o subtipo H3N8 tem sido relacionado a vários casos de doença respiratórias endêmicas e epidêmicas em cavalos de todo o mundo. Esse vírus causou surtos no Brasil em 1963, 1969, 1985 e 2001. E, segundo Brandão, da USP, o último surto ocorreu em 2015, no hospital veterinário da USP, em São Paulo.

O professor explica que não há risco de transmissão para humanos, ao menos no caso da infecção em cavalos. E que há vacina muito eficaz contra a doença, que causa nos animais “febre, depressão, descarga nasal e, conseqüentemente, queda de performance física”, informa o estudo da UFRJ. Segundo Brandão, a doença está controlada no Brasil, embora competições no exterior sejam fatores de risco, pois expõe o animal no contato com outros cavalos. E o H3N8 é extremamente transmissível entre cavalos.

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Como o vírus foi transmitido para uma criança?

Como um vírus que normalmente afeta cavalos foi parar em aves e, depois, em uma criança? A pesquisadora da Embrapa Aves e Suínos e PHD em virologia molecular, Janice Zanella, explica que as aves são hospedeiros definitivos do vírus influenza de todos os tipos – incluindo o H8N3, que acomete cavalos e outros mamíferos. 

"Por serem hospedeiros definitivo dos virus de influenza, o vírus é superadaptado a aves e não causa problemas ou doenças neles. Os animais se infectam e não ficam doentes e esse é o grande probelma da gripe aviária", explica a pesquisadora ao destacar o coportamento migratório desses animais, carregando consigo o vírus para diferentes continentes. Além disso, como podem carregar diferentes vírus influenza ao mesmo tempo, as aves se tornam um hospedeiro propício para o surgimento de novas variantes.

"O influenza tem dois sistemas de mutação: um mais simples, que é de mutação de alguns nucleotídeos conferindo pequenas mudanças, mas que são suficientes para driblar o sistema imune e o outro sistema de mutação com troca de genoma", detalha Janice. "Se uma célula se infecta com dois virus diferentes de influenza, quando os vírus vão se replicando dentro da célula, na hora da montagem, eles pegam pedaços um do outro sendo capaz de gerar uma progenie diferente, quase como um cruzamento, mas nós chamamos de rearranjo", explica a pesquisadora da Embrapa.

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Pandemia?

É essa possibilidade de rearranjo que assustou a comunidade internacional após a notificação chinesa – prinicpalmente porque se trata de uma variante de baixa patogenicidade. "É a primeira infecção em huamnos com esse vírus H3N8, que é um vírus novo, então isso assusta a gente porque estamos no meio de uma pandemia cujos primeiros casos surgiram justamente na China", observa Janice.

No caso da H8N3, ela explica que trata-se de um vírus de baixa capacidade de produzir doença em aves, o que torna mais fácil a sua transmissão para humanos quando comparado com variantes de alta patogenicidade, cuja infecção em humanos é mais rara (embora já tenha ocorrido). "Por ser um vírus de baixa patogenicidade encontrado em uma ave, existe a suspeita que possa ter havido rearranjo com vírus de alta patogenicidade, mas isso não está confirmado", esclarece Janice ao também minimizar o risco de que o episódio se converta em uma nova pandemia.

"Claro que risco zero não existe, mas não deve se converter em uma pandemia como a de H1N1, que foi a última pandemia de influenza que a gente teve. Mas não deixa de ser algo que levanta um sinal de alerta porque a gente sabe que as pandemias sempre surgiram e vão continuar sugrindo. A gente só não sabe quando vai ser e qual será o agente", completa Janice.

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Source: Rural

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