Mediante a urgência da rastreabilidade nos mercados de commodities, proteína animal e ainda outros produtos como madeira e hortifrúti, o sensoriamento remoto tem ganhado escala para mostrar processos produtivos com mais transparência.
Feito por imageamento orbital através de satélites, a resolução espacial permite o monitoramento do uso do solo, a exemplo do monitoramento dos desmatamentos e focos de queimadas.
Até 2011, os satélites utilizados comumente pesavam toneladas, exigindo uma logística complexa para a saída deles à órbita. Mas esta realidade tem mudado com a chegada dos nanossatélites, de acordo com Sumaia Resegue Aboud Neta, mestra e doutora em Geociências Aplicadas e Geodinâmica pela Universidade de Brasília (UnB).
Ilustração do nanossatélite com tecnologia CubeSat 1U produzido pela UnB (Foto: Reprodução/UnB)
A tecnologia de nanossatélites é empregada pela empresa estadunidense Planet, única no momento a oferecer esse imageamento diário de toda a faixa terrestre no mundo com resoluções tão detalhadas.
São mais de 130 nanossatélites, pesando até 5 quilos cada, que cobrem toda a superfície da Terra, monitorando mais de 300 milhões de quilômetros quadrados por dia.
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Sumaia explica que, com a tecnologia, é possível realizar o processamento, a análise e a disponibilização de informações geoespaciais, com sistemas que geram dados precisos e atualizados. Com base em modelos matemáticos voltados à agricultura, é possível verificar propriedades do solo, disponibilidade hídrica e desenvolvimento da planta, entre outras características.
“Tem uma gama de possibilidades para encaixar essas tecnologias, como melhorar a quantidade de sacas por hectare, e extrair índices para que a propriedade seja mais eficiente nos processos. O processamento dessas imagens, atrelado ao uso de big data e machine learning, possibilita maior previsibilidade aos agricultores”, diz.
Segundo ela, o Brasil ainda é principiante neste uso, mas “de 2019 para cá aumentou mais de 300% com as agtechs, sendo um mercado em franca expansão”.
Nanossatélites passam diariamente em qualquer ponto da superfície terrestre, oferecendo uma repetitividade de cena, o que possibilita comparações de antes e depois e o processamento de um banco de dados.
Neste sentido, Sumaia conta que a tecnologia ajuda na tomada de decisão e, inclusive, tem sido ferramenta para liberação de créditos agrícolas, pois além da transparência de informações, também retira a necessidade de uma vistoria presencial por parte da instituição financeira.
Sumaia Resegue Aboud Neta, mestra e doutora em Geociências Aplicadas e Geodinâmica pela Universidade de Brasília (UnB) (Foto: Divulgação/Arquivo pessoal)
A pesquisadora menciona que a Resolução nº 4427/2015 do Banco Central (Bacen) recomenda a bancos e instituições financeiras a utilização do sensoriamento remoto para a contratação e a fiscalização de operações de crédito agrícola. Segundo ela, cerca de 85% das propriedades rurais no Brasil tem até 100 hectares, o que equivale a 6 milhões de propriedades.
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"Com a vistoria in loco em todos os empreendimentos do país, isso pode gerar desperdício de tempo e de recursos, além de elevar os custos operacionais por conta do deslocamento de pessoal, especialmente quando se trata de regiões remotas, onerando o processo”, comenta.
Ela ainda adiciona que o uso do nanossatélite não depende do acesso à internet. “O nanossatélite está lá rodando, processando informações, independente da internet. Com os dados em software, o produtor vai verificar a qualidade nutricional da planta por aplicativo no celular”, explica ao dizer que este universo propiciou contato com tecnologias que pareciam distantes.
Sumaia também indica que o crescimento acelerado das startups deve facilitar o acesso também para o pequeno produtor e agricultura familiar, olhando pelo lado da sustentabilidade. “Não podemos desprezar esse grande segmento e talvez, mais do que nunca, ele precise dessas tecnologias para fazer mais com menos, com crescimento sustentável”, diz.
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Source: Rural