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Jhulia, filha caçula do casal idealizador da banca, arruma os produtos do sítio. (Foto: Divulgação)

 

Na beira da estrada secundária que liga o distrito de Água Boa à cidade de Doutor Camargo, Norte do Paraná, tem uma barraquinha que vende produtos feitos por sitiantes locais. Quem para por ali pela primeira vez estranha a ausência de atendente até ler os cartazes e entender que se trata de um autoatendimento.

O próprio cliente escolhe o que quer — tem geléias, mel, pimenta e outros produtos frescos –, abre o caixa, põe o dinheiro lá e pega o troco, se necessário. Não tem câmeras de vigilância e o marasmo do lugar permite notar a aproximação de um ser humano muito antes de ele realmente chegar por perto. Cartazes com os dizeres “Deus tudo vê” e “nós confiamos na sua honestidade” deixam claro que os idealizadores do ponto comercial apostam na boa índole da freguesia.

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Até o sargento Jefferson Martins Silva, da patrulha rural da Polícia Militar do Paraná, admirou-se quando passou por ali e viu o dinheiro no caixa e os produtos à vontade para quem quisesse pegar.

Há 25 anos na polícia, ele nunca tinha visto nada igual. Acostumado a pegar gatunos, ficou feliz por ver que tem gente que aposta na honestidade, gravou um vídeo enaltecendo a iniciativa e postou nas redes sociais. Foi um impulso para o pequeno comércio, que vendeu mais nos últimos finais de semana. Sem desfalques. O autoatendimento funciona aos sábados, domingos e feriados.

 

  

“Em um primeiro momento fiquei assustado, procurando câmeras por perto. Depois entendi que é um incentivo à honestidade. Já havia lido sobre iniciativas semelhantes no Japão, na Alemanha, nos Estados Unidos. Fiquei feliz quando me deparei com isso na área onde eu atuo. O povo da região é honesto e solidário. Que se multiplique”, comenta o sargento.

Os idealizadores

Os idealizadores da barraquinha são Wilson Jardinetti, 49 anos, e Virlene Jardinetti, 43. Há um ano, o casal trocou a vida urbana em Maringá, que tem 417.010 habitantes,  pela zona rural do município de Doutor Camargo, que conta com 5.828 pessoas.

Foi uma mudança radical no jeito de viver. Wilson era sócio de uma empresa de retífica e venda de turbinas para picapes. Virlene, doutora em agronomia, trabalhava com pesquisas em programas de pós-graduação. Ambos nutriam o sonho de morar no campo.

Estamos todos sem tempo, envolvidos com os trabalhos de formação do sítio. Então resolvemos apostar no autoatendimento e na honestidade alheia"

Virlene Jardinetti

Os filhos Jhulia, 10 anos, Pedro Henrique, 15, e Gabriel, 21, apoiaram a decisão dos pais.
Com as economias, compraram o Sítio São Francisco, de nove hectares, que era todo coberto por pastagens. Aos poucos, estão transformando o local. Já fizeram horta orgânica e estão formando o pomar, que também será orgânico. Quando tudo estiver produzindo, pretendem abrir a propriedade para o turismo rural.

Enquanto isso, tiveram a ideia de vender as delícias que produzem na cozinha, aproveitando o leite da vaca Malhada, algumas frutas já disponíveis e outros vegetais, como pimentas. Vizinhos também fornecem produtos da agricultura familiar, como mel, por exemplo.“Daí surgiu o problema: quem ficaria cuidando? Estamos todos sem tempo, envolvidos com os trabalhos de formação do sítio. Então resolvemos apostar no autoatendimento e na honestidade alheia”, explica Virlene.

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Faz mais de dois meses que a barraquinha está funcionando. A maioria dos compradores é de gente da cidade, que passa os finais de semana em chácaras e sítios da zona rural. Motociclistas que fazem trilhas e ciclistas que pedalam pela região também compram.
Os produtos são colocados nas prateleiras logo cedinho. Vinte reais trocados ficam no caixa. Também tem caneta e papel para sugestões, sacolinhas e produtos para degustação. Só ao meio-dia a família sobe para a beira da estrada para fazer reposições. Depois, só haverá outra inspeção às 16h. Quando anoitece, recolhem tudo.

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“Temos uma planilha para controlar os produtos que saem e o dinheiro que entra. Nunca notamos déficit. Às vezes tem até sobra no caixa, pois há pessoas que deixam o troco”, conta Virlene. Questionada se não teme que haja furtos com o aumento da divulgação, ela é otimista. “Muitos nos chamaram de doidos quando começamos com o negócio. Mas sabemos que a grande maioria das pessoas é honesta. O problema é que o mal faz muito barulho. O bem é silencioso. Não vamos desistir”, ela finaliza.

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Source: Rural

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