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“O peixe que vocês estão almoçando foi ele quem pescou”, disse o garçom animado, apontando para o homem de camiseta vermelha. Antes que eu soubesse que ele era o pescador, o caiçara com seus 50 anos já havia passado pela minha mesa e perguntado se a moqueca capixaba estava gostosa. “Uma delícia!”, eu respondi, já querendo repetir o prato. 

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O pescador de Guarapari, na Praia de Meaípe  (Foto: Mariana Grilli)

 

Depois de conhecer o responsável por colocar peixes, camarões e o gostinho de Guarapari na minha mesa, comecei a reparar na calmaria do homem, andando de bicicleta pela vila de pescadores de Meaípe. O vermelho da camiseta combinava com a areia um pouco mais terrosa, mas destoava do verde marfim do mar.

Na realidade, uma paleta de cores se formava no horizonte, com barcos coloridos que me levaram para uma pintura em tela. Hipnotizada pelo reflexo do sol no mar, despertei ao ouvir novamente a voz do rapaz que nos atendia. “Nosso pescador vai lá buscar mais alguns peixes fresquinhos para vocês!”

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Pacientemente, o caiçara foi ao barco, caminhando como a toada das ondas. Ninguém mais estava no mar gelado daquele canto de Guarapari, mas o pescador já não pensava mais na temperatura da água. Empurrou o barco sem motor pela areia, desfez os laços das cordas e as enrolou lentamente. Em seguida, pegou duas âncoras improvisadas com embalagens grandes de desinfetante, cheias de areia, e um punhado de rede verde escura. 

Mais um pouco de força para colocar a pequena embarcação na água e lá foi ele. Remava de costas, dando ré sem precisar de retrovisor. Parecia conhecer o trajeto como a palma da mão, apenas olhando para trás para manobrar o barco num trecho estreito de água, entre duas grandes rochas. Remou até virar silhueta entre o brilho do sol e a água cristalina. Voltou cerca de uma hora depois, com o cesto cheio de peixes como robalo e manjubinha, e os fregueses comemoraram a chegada com os olhos e a boca. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), no Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas estão ligadas diretamente à pesca artesanal. A estimativa é que sejam responsáveis por pelo menos 60% da produção de pescado do país. No entanto, desde 2008, o Brasil não possui dados e estatísticas sobre a pesca artesanal, o que dificulta esta parcela da população a acessar benefícios e auxílios destinados aos trabalhadores do setor. 

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A pesca artesanal no Brasil possui um papel importante na conservação da biodiversidade, mas o extrativismo exige ordenamento adequado para o equilíbrio e manutenção dos ecossistemas e das comunidades ribeirinhas. O pescador de Guarapari, cujo nome eu não consegui perguntar, ainda é um anônimo entre tantos outros. Mas, naquela tarde de domingo, ele foi o protagonista da praia.

O pescador de Guarapari, na Praia de Meaípe (Foto: Mariana Grilli)

 
Source: Rural

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