A pandemia trouxe uma nova perspectiva para o setor vitivinicultor – e certamente diferente da esperada no início de 2020, quando diversos países adotaram medidas de isolamento social. Naquele momento, literalmente não havia muito o que comemorar. A região de Champagne, na França, famosa pelo seu espumante, teve uma queda de 17,8% na produção em relação a 2019, o equivalente a 53 milhões de garrafas. Igual movimento também foi observado no Brasil, que tem o espumante como carro-chefe do setor.
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No ano passado, o Brasil chegou a comercializar 489 milhões de litros (considerando vinhos e espumantes), aumento de 27% se comparado a 2020 (Foto: Unibra)
O que foi uma surpresa para os fabricantes foi a retomada desse mercado já em 2021. Na França, houve recorde de produção, com 332 milhões de garrafas comercializadas no ano passado, 36% a mais que em 2020 e 11,8% maior em comparação a 2019. Movimento semelhante foi observado no Reino Unido, Canadá, Austrália, Espanha, Alemanha e no Brasil.
Segundo a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), o consumo per capita do brasileiro também teve alta significativa desde o início de 2020. E no ano passado, o país chegou a comercializar 489 milhões de litros (considerando vinhos e espumantes), aumento de 27% se comparado a 2020. Mais expressivas que o consumo no Brasil foram as exportações de espumante brasileiro. Em 2021, o crescimento foi de 58% frente ao ano anterior, ou aproximadamente 9 milhões de litros exportados. A expectativa para 2022 é que um novo recorde de exportações seja batido, já que nessa categoria o Brasil é um importante player na América do Sul.
Pensando nesse mercado, o Brasil participou em maio da ProWein, principal feira internacional da indústria de vinhos e bebidas alcoólicas, realizada em Düsseldorf (Alemanha). Essa edição foi a primeira pós-pandemia e, apesar do número reduzido de expositores e visitantes, a expectativa é de US$ 1 milhão em novos negócios para os seis expositores que representaram o país – Casa Perini, Garibaldi, CRS Brands, Salton, Miolo e Casa Valduga. Atualmente, o Brasil tem 1.100 vinícolas, que produzem mais de 750 mil toneladas de uvas por ano.
Além de ser uma plataforma central de networking, a ProWein apresenta novas tendências do setor. Nesta edição, os especialistas avaliaram os impactos da pandemia e constataram a aceleração das vendas on-line de vinhos e espumantes para o consumidor final, principalmente por meio dos distribuidores. O que era uma tendência se tornou um serviço necessário no mundo, principalmente durante o isolamento social. As pessoas se acostumaram com a praticidade das compras pelas telas. Por isso, apesar da retomada das vendas nas lojas físicas, o mercado on-line deve se manter aquecido, em patamares acima dos de 2019.
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Outra tendência observada foi a preocupação com o meio ambiente. Tão importante quanto a qualidade do produto, o consumidor está cada vez mais interessado na relação entre o processo produtivo e a adoção de práticas sustentáveis. As conhecidas garrafas PET (polietileno tereftalato), que entraram no mercado por questões de segurança, para atender às companhias aéreas, tiveram significativa expansão durante a pandemia, principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. As versões atuais contam não só com uma shelf life mais longa, mas também com o armazenamento mais adequado do produto.
As bag in box apresentadas nesta edição também não são novidade no mercado de embalagens ecologicamente corretas. No entanto, o que se discutiu foi a economia de espaço e os menores custos, tanto na aquisição da embalagem em si quanto no armazenamento e transporte. O fechamento hermético garante uma qualidade de vinho consistente de até seis semanas, mesmo após a abertura. A comercialização da bag in box é mais comum nos países escandinavos, na Grã-Bretanha, na Austrália e na Nova Zelândia. Resta saber se ela conseguirá substituir as garrafas de vidro nas tradicionais regiões produtoras, como na Itália, na França e na Espanha.
A valorização da regionalização, apresentada pela ProWein como uma das principais tendências desta edição, busca destacar as singularidades das diferentes regiões produtoras. Mais do que mostrar as variedades de uva, a ideia é não associar a qualidade do vinho ao teor de açúcar e, portanto, de álcool na bebida. Assim como não é possível produzir um primitivo (vinho tinto típico da Puglia) na Alemanha, também não é impossível produzir um pinot blanc (casta Weißburgunder, típica do Palatinado) na Espanha. É fato que o mercado já havia apontado anteriormente uma tendência de aumento na demanda por bebidas com menor concentração de álcool. No entanto, a expectativa, no caso da regionalização, é valorizar a diversidade.
A adoção de algumas estratégias de vendas, identificadas antes da pandemia, foram intensificadas pelo aumento da demanda mundial durante o isolamento social, que fez o setor usar a criatividade para superar mais um momento de crise.
*Ana Cecília Kreter é economista e pesquisadora
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Source: Rural