Skip to main content

“O que faz andar o barco não é a vela

enfurnada, mas o vento que não se vê…”

– Platão

O vento das mudanças dos últimos anos é o vento minuano, “trazendo o frio, girando as areias, fazendo tormentas. Mas também pode ser outro, com calor, fogo que queima e aquece a noite fria”, nas palavras da poeta Tere Marcellino, nesses momentos tem-se a impressão de estragos maiores do que realmente acontecem e os mais otimistas sempre esperam que o vento mude a direção e que venha a soprar onde se deseja. Pampero ou Minuano, é o vento que vem do sul da América do Sul, trazendo desconforto, mas levando as nuvens cinzentas.

Leia Também: O agro e a paz universal

Vozes do Agro (Foto: Estúdio de Criação)

 

 

Dois anos de pandemia, guerra entre Rússia e Ucrânia e eleições majoritárias trouxeram as rajadas geladas do minuano, reacendendo lembranças e passagens criadas como “o tempo e o vento”, da literatura brasileira. O mundo está em fase de outono, antecipando o inverno e a queda das folhas. Deve-se olhar isso sob o prisma do rejuvenescimento, do preparo à primavera e ao verão.

Essas imagens de retórica são a suavidade que uso para reduzir a dura realidade que se vive nesses dias bicudos: “vão-se os anéis, mas ficam os dedos”. Estados Unidos e União Europeia estimulam seus agricultores a utilizarem áreas ambientalmente protegidas para expandir a oferta de alimentos com os receios da insegurança alimentar. Países queimam mais carvão com a sombra assustadora do aquecimento global. Ambas as ações são um claro retrocesso!

Leia mais análises e opiniões em Vozes do Agro

Todos esses choques foram analisados pelo Goldman Sachs e J.P.Morgan, que alertaram para tempos ainda mais difíceis à frente. Inflação crescente para todos, com política monetária restritiva e logística global em frangalhos deverão ser a base dos momentos mais complexos dos últimos 40 anos.

Toda crise exibe oportunidades e estar alerta permite aproveitá-las. Como um protagonista na área de alimentos e energias renováveis, o Brasil e o seu agronegócio vêm brilhando no meio da escuridão instalada e, mesmo assim, sofrendo a pressão externa face índices mais elevados de desmatamento da Amazônia e oportunismos políticos internos de poder.

O agro brasileiro alicerçado nas bases sólidas da ciência, mostra crescimento efetivo da sua produtividade, em processo produtivo de baixo carbono. Não fossem as narrativas perversas dos competidores do Agro brasileiro, seu impacto ao mundo seria certamente melhor. Pressionado, segue recebendo capital internacional, promovendo fusões e aquisições e sendo voz atuante na defesa das instituições globais fundamentais como a OMC – Organização Mundial do Comércio.

Ao Brasil, o agro ser competitivo é fundamental, enfrentando a nova onda de protecionismos e subsídios e seus oportunismos explícitos como os da Índia, aproveitando-se da insegurança por açúcar e trigo, por exemplo.

O Brasil continua investindo em processos de intensificação sustentável, com destaque para a produção de safras por ano em mesma área e para o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação à Mudança do Clima para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), com o uso de tecnologias mais sustentáveis, tais como: recuperação de pastagens degradadas; integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF); sistemas agroflorestais, sistema de plantio direto (SPD), fixação biológica de nitrogênio (FBN); florestas plantadas e tratamento de dejetos animais, além de dar seguimento à oferta crescente de biocombustíveis, contribuindo para o processo global na luta pela chamada descarbonização do planeta.

No campo político, ações também fortalecem a sustentabilidade do Brasil, a Política Nacional de Biossegurança, o Código Florestal e as suas demandas, assim como o RenovaBio (lei nacional dos biocombustíveis) e o Programa Combustível do Futuro, que geram confiança para os investimentos.

O agro segue, nos ventos da competência. Brigará, em Genebra, na OMC, por regras éticas e estáveis. Lutará, internamente por reformas fundamentais que reduzam o custo Brasil e que o submete a limites.

*Luiz Carlos Corrêa Carvalho é Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural

Quer ter acesso a conteúdos exclusivos da Globo Rural? É só clicar e assinar!
Source: Rural

Leave a Reply