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Finalmente o mundo viu o fantasma da segurança alimentar começando a assombrar grandes países não autossuficientes na produção de comida e compreendeu que isso não é uma expressão idiomática: é a condição essencial para a estabilidade política e social de uma nação.

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Em 2020, quando a tragédia da Covid-19 se instalou no planeta, vários países dependentes de importação de alimentos correram ao mercado em busca de abastecimento. Não havia grandes estoques, a demanda maior que a oferta fez os preços aumentarem (em alguns casos dobrarem) em dólar. Instalou-se uma inflação global.

Para suprir os mercados, governos e agricultores ao redor do mundo decidiram plantar mais. Precisariam de mais insumos: fertilizantes, defensivos, sementes, máquinas. Mas o desarranjo das cadeias de produção não permitiu aumentar sua oferta, e os custos dos insumos também cresceram demais.

A invasão da Ucrânia pela Rússia potencializou o problema, seja pela importância dos dois países na oferta global de milho e trigo, seja pela dificuldade de logística para o suprimento de insumos ao mundo.

Para complicar ainda mais o cenário dantesco, ondas de seca recentes reduziram a produção rural em importantes nações exportadoras, e seus governos decidiram proibir as exportações, para salvaguardar o abastecimento interno. Ou seguraram insumos para seu próprio consumo.

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Temos reiterado neste espaço que não haverá paz onde houver fome, e até já publicamos o livro Agro é paz há quase quatro anos, chamando a atenção para esse fenômeno e para o papel exponencial que cabe ao Brasil na alimentação mundial. Estudo da Embrapa mostra que já alimentamos cerca de 800 milhões de pessoas em mais de 170 países e que, em breve, esse número ultrapassará 1 bilhão.

Pois agora governos e instituições multilaterais se preocuparam com o cenário vigente. O presidente Joe Biden chegou a “pedir” aos seus agricultores uma segunda safra, como fazemos há três décadas. Os países do G7 se reuniram em meados de maio para traçar estratégias com o mesmo objetivo. E o baixo crescimento da economia (mais o desemprego e a falta de renda de milhões de consumidores) desenha uma tempestade perfeita: oferta limitada, custos de produção explosivos, preços inflacionados dos alimentos e baixo poder aquisitivo de parcelas enormes de populações em todo o mundo.

Só existe uma solução: aumentar a oferta, produzir muito mais que o normal de tempos de paz. Há que se declarar guerra à fome.

Temos de pôr as mãos à obra aqui no Brasil. E esse não é um problema do Ministério da Agricultura. Nem mesmo apenas do governo.

É uma missão para o Estado como um todo. Bancos, seguradoras, tradings, cooperativas, fabricantes e importadores de insumos e máquinas, instituições de representação rural, indústria de alimentos, transportadores, empreiteiras, trabalhadores, todo mundo, enfim, deve se organizar para apoiar os homens e mulheres do campo a produzirem uma safra de alimentos gigantesca. Mais de 300 milhões de toneladas de grãos, para começar.

Com isso, o Brasil mostrará que tem capacidade e competência para alimentar mais de 1 bilhão de consumidores e assim resgatará sua imagem positiva tão injustamente desfigurada atualmente.

*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as cooperativas e titular da Cátedra de Agronegócios da USP

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural

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Source: Rural

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