No país da safra recorde, a fome avança sobre a zona rural. É o que mostra o 2º Inquérito Nacional Sobre a Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), nesta quarta-feira (8/6).
"As dificuldades de acesso aos alimentos, aparentemente paradoxal, foi proporcionalmente mais frequente em domicílios rurais do que naqueles de áreas urbanas", diz o relatório.
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Agricultora trabalhando na lavoura (Foto: Divulgação)
As estatísticas foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022. Segundo a pesquisa, a insegurança alimentar na sua forma mais grave atingiu 18,6% dos domicílios rurais e 15% dos urbanos. Na moderada, os índices foram 16,9% e 14,9%, respectivamente. "Nas áreas rurais, a insegurança alimentar (em todos os níveis) esteve presente em mais de 60% dos domicílios", diz a Rede Penssan, em nota.
(Foto: Reprodução/Rede Penssan)
A pesquisa mostra que a fome atinge até mesmo quem produz comida. Entre agricultores familiares, chegou a 21,8% dos lares. Outros 16,1% tinham insegurança alimentar moderada, e 31,8% insegurança leve. Na região Norte, foi registrada a maior proporção de agricultores em insegurança alimentar grave: 40,2%. A menor proporção está no Sul: 10,3%.
"Entre os domicílios rurais, o segmento da agricultura familiar sofreu o impacto da crise econômica, mas foi especialmente afetado pelo desmonte das políticas públicas voltadas para o pequeno produtor do campo", concluem os pesquisadores.
Tabela mostra os níveris de insegurança alimentar entre agricultores familiares nas diversas regiões do Brasil (Foto: Reprodução/Rede Penssan)
Segundo o levantamento, os piores níveis de insegurança alimentar (IA) entre agricultores familiares foram observados em domicílios rurais onde a perda de produção foi asociada à dificuldade de comercializar os produtos.
"A alta de preços dos alimentos, que chegou rapidamente aos consumidores brasileiros, não foi refletida na mesma proporção em termos de valoração da produção de alimentos entre os produtores, de forma que a queda nos preços dos produtos da agricultura familiar resultou em maiores proporções de IA nestas famílias", diz a Rede Penssan.
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Quem ainda não conseguiu trazer de volta as condições de comercialização dos seus produtos aos níveis pré-pandemia sofreu mais, segundo os pesquisadores. "Os níveis de IA foram maiores para as famílias que ainda não puderam retomar as condições anteriores à pandemia, especialmente daquelas que não conseguiram restabelecer completamente sua produção e as quantidades comercializadas", diz a pesquisa.
Tabela mostra os níveis de insegurança alimentar entre agricultores familiares que tiveram perda de produção ou redução de preços dos seus produtos (Foto: Reprodução/Rede Penssan)
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A pesquisa feita por amostragem, incluindo habitantes das áreas rurais e urbanas nas cinco regiões do país. De acordo com os responsáveis, foram feitas entrevistas em 12,745 mil domicílios de 577 municípios, sendo obtidas informações de 35,022 mil indivíduos.
Para classificar os resultados, foi usada a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), adotada também pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento tem intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 0,9 ponto porcentual para cima ou para baixo.
De acordo com a Rede Penssan, 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer em 2022. A fome no Brasil retornou aos níveis de 1990. Os pesquisadores concluíram que apenas 4 em cada 10 lares ainda consegue ter acesso pleno à alimentação. Em números absolutos, significa dizer que 125,2 milhões de pessoas possuem algum grau de insegurança alimentar.
(Foto: Reprodução/Rede Penssan)
Source: Rural