É unânime que a legislação ambiental brasileira é uma das mais rigorosas do mundo. O atendimento aos seus regulamentos proporciona uma produção agropecuária sustentável e o bem-estar da sociedade como um todo, assim como na preservação da vegetação nativa, conservação dos recursos hídricos e controle do uso de agroquímicos.
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Vozes do Agro (Foto: Estúdio de Criação)
Desde a aprovação do Código Florestal, em 2012, houve grande esperança para contenção do desmatamento no país, considerando o reforço da fiscalização e maior controle das áreas de produção agrícola, algo que pôde ser observado até 2018 quando as taxas oficiais publicadas pelo PRODES, programa de monitoramento coordenado pelo INPE, não ultrapassaram os 8 mil km², patamar quase quatro vezes inferior aos picos históricos de desmatamento registrados em 1995 e 2004. No ano passado, vivenciamos a maior taxa dos últimos 15 anos, foram 13.235 km² identificados como corte raso de floresta no bioma Amazônia.
Esses números recentes somados à conjuntura política atual do Brasil colocaram um holofote sobre o país, gerando preocupação de grandes empresas, governos e consumidores internacionais. A União Europeia, no final do ano passado, publicou a minuta de uma nova legislação que visa a redução da parcela de participação do bloco nos fluxos de produtos ligados ao desmatamento, assim como seus derivados, tanto no mercado interno quanto nas exportações, e a probabilidade de o Brasil ser classificado como um país com origem de alto risco são grandes.
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Esforços como esse partem do pressuposto de que a redução do desmatamento só ocorrerá quando as empresas exportadoras e processadoras cumprirem com o seu papel ao enrijecer seus critérios de originação e operacionalizar processos de rastreabilidade (due diligence) desde a originação até a exportação, assim evoluindo na transparência da cadeia produtiva. Entretanto, tal movimento gera custos elevados que precisariam ser compartilhados com todos os atores envolvidos, desde os produtores até os consumidores finais.
Muitas empresas do agronegócio já anunciaram compromissos para eliminar o desmatamento embutido em suas cadeias de suprimento e possuem programas de controle da origem dos produtos que comercializam, tanto no mercado interno quanto no externo. Para atingir esse feito, se faz necessário monitorar, por imagens de satélite e dados geoespaciais, o comportamento da expansão das commodities sobre áreas recentemente abertas, algo que somente foi possível realizar com precisão nessa última década face ao grande avanço tecnológico dos satélites utilizados na geração de imagens com altíssima resolução.
Um outro fator de destaque pouco divulgado é referente às contribuições que a ciência e as novas tecnologias, a exemplo do melhoramento genético e da agricultura de precisão, aportaram para reduzir o desmatamento histórico.
Ao longo da história, no que diz respeito à agricultura, sempre houve a busca por melhores práticas de produção e formas de incrementar os índices de produtividade. Neste sentido, os cultivares, utilizados pelos competitivos produtores brasileiros, são resultados de programas sofisticados de melhoramento genético conduzidos por instituições públicas e privadas de pesquisa e biotecnologia. Estas novas tecnologias garantem a obtenção de cultivares adaptados às mais variadas condições de clima e solo, além da maior resistência a pragas e doenças, o que permite cultivos em ambientes diversos e proporciona volumes de produção cada vez maiores dentro de um mesmo espaço. Em uma outra perspectiva, a evolução dos cultivares contribui para a redução da necessidade de novos desmatamentos e ainda melhora a produtividade.
Tenhamos a cultura da soja como exemplo. De acordo com dados da CONAB, em 1978, o Brasil produzia 9,7 milhões de toneladas em 7,8 milhões de hectares, o que resultava em uma produtividade média de 1.250 kg/ha. Em contrapartida, a última atualização publicada pela companhia para a safra de 2021 traz uma produção de 137,3 milhões de toneladas, recorde histórico, produzida em uma área de 38,9 milhões de ha. Essa relação apresenta uma produtividade de 3.528 kg/ha, um índice quase três vezes maior ao registrado no final da década de 70.
Evolução da produtividade da soja (kg/ha) (Foto: Divulgação/ABIOVE)
Os números mostram que, nesses 40 anos, a área plantada com soja no Brasil aumentou cinco vezes, enquanto a produção da oleaginosa foi 14 vezes maior. E qual o impacto que isso proporcionou na preservação da vegetação nativa brasileira? A resposta para este questionamento surge quando, em números, analisamos o quanto este aumento de produtividade, promovido pelas boas práticas agrícolas aplicadas no campo pelos produtores rurais combinadas aos novos cultivares, fez desnecessária a expansão da sojicultura sobre imensas áreas de vegetação nativa.
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O raciocínio é simples: para produzirmos as atuais 137,3 milhões de toneladas de soja com a produtividade que tínhamos em 1978, seriam necessários 109,8 milhões de hectares, uma área muito superior aos 38,9 milhões registrados atualmente. Ou seja, com o avanço da ciência aplicada ao meio rural, um total de 70,9 milhões de hectares deixaram de ser convertidos, um número que equivale a 1,5 vezes do desmatamento total registrado pelo PRODES Amazônia desde sua concepção, em 1988, que foi de 47,1 milhões de ha.
Esse raciocínio se estende a todas as atividades agropecuárias do Brasil e torna evidente a contribuição que os avanços tecnológicos e científicos trazem para a melhoria do bem-estar da sociedade. A tecnologia contribui para segurança alimentar com o aumento da produção de alimentos, assim como na preservação dos nossos recursos naturais, tanto das florestas quanto dos recursos hídricos e da biodiversidade, que tanto colaboram para a manutenção da sustentabilidade do planeta para as futuras gerações.
*Pedro Garcia é Engenheiro de Produção e atua como especialista de projetos na ABIOVE.
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Source: Rural