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Odiados por muitas pessoas e, não raras vezes, eliminados com o uso de inseticidas e outras armadilhas, os insetos podem ser grandes aliados na produção de hortas e canteiros mantidos no ambiente doméstico ou rural. Considerados bioindicadores pela agroecologia, esses animais invertebrados são de grande valor para o controle biológico de outras pragas, podendo ser manejados de forma ecológica e sustentável e evitando a necessidade de matá-los, seja com o uso de pesticidas químicos ou orgânicos.

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Comum em lavouras de milho, tesourinha é importante no controle de lagartas (Foto: Pixabay)

 

“Precisamos desmitificar a ideia de que a planta deve estar em um ambiente estéril porque esse ambiente não oferece muita coisa. Um cultivo de alimentos não é e nem pode ser estéril porque os inimigos naturais dependem desses recursos e só existe inimigo natural onde há alimento para ele”, explica a pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, Alessandra de Carvalho Silva. Agrônoma formada pela universidade de Lavras, ela foi, durante 14 anos, professora de entomologia, ciência voltada à identificação e estudo do comportamento dos insetos.

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Atualmente, Alessandra se dedica à pesquisa de técnicas de controle biológico conservacionista, que consiste na manutenção da biodiversidade de artrópodes e outros invertebrados que ajudam no controle de pragas em cultivos agrícolas. A vantagem, explica a pesquisadora, está no fato desses agentes controladores manterem-se presentes no sistema produtivo, descartando a necessidade de introduzir agentes externos para controlar possíveis infestações – o que, hoje, encarece o uso de controle biológico.

“Nesses casos, o efeito positivo de redução de pragas é mais eficiente porque os inimigos naturais já estão na área, eu não preciso que eles venham de uma distância maior ou de uma área de refúgio que esteja a quilômetros dali”, destaca a agrônoma ao afirmar que a ideia de que o controle biológico é caro é um mito que precisa ser quebrado. “As biofábricas estão muito concentradas no sudeste e deslocar, pagar o transporte desses inimigos naturais, que têm que chegar rápido e na hora certa, é bem complicado. Muitas vezes o frete se torna mais caro que o próprio inseto”, pontua a pesquisadora.

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Por outro lado, o controle biológico conservacionista, realizado por Alessandra na Embrapa Agrobiologia, exige um manejo cuidadoso e paciente não só das plantas de interesse comercial – como frutas, verduras e legumes – mas também de espécies atrativas de insetos temidos pelos produtores, como pulgões, grilos e cochonilhas. “A gente começa a chamar um inseto de praga quando ele atinge um patamar, que chamamos de nível de dano econômico, que justifique uma ação de controle. Antes de atingir esse nível, é apenas uma convivência pacífica entre insetos e plantas”, completa a pesquisadora.

O nível de dano econômico varia de espécie para espécie. No controle biológico conservacionista, a estratégia inclui manter plantas que atraem esses inimigos naturais de potenciais pragas ao servir de abrigo para outras presas. O segredo, conta Alessandra, está no equilíbrio. “Às vezes é preciso fazer uma capina seletiva na área e manter essas plantas benéficas, que muitas vezes estão de fora do canteiro e sequer estão concorrendo com as plantas que estão sendo cultivadas, mas cumprem esse papel”, observa a pesquisadora. V

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Vespas

 

 

Picada dolorosa contribui para o medo de vespas, mas insetos só atacam caso sintam-se ameaçados (Foto: Pixabay)

 

Temidas devido à dor e ao perigo representado por suas picadas, vespas são importantes predadoras de lagartas, sendo usadas para o controle do bicho mineiro do café – uma mariposa pequena cujas larvas se alojam nas folhas do cafeeiro, prejudicando a produtividade. As vespas têm a capacidade de rasgar as folhas e retirar a praga, sendo recomendada a instalação de vespeiros em lavouras de café atingidas pela praga.

Tesourinha

 

 

Ferrão em formato de tesoura no abdôme assusta, mas tesourinha é inofensiva ao ser humano (Foto: Pixabay)

 

Apesar do formato assustador, que lembra um escorpião, a tesourinha é inofensiva para os seres humanos e também ajuda no controle de mariposas e suas larvas. Nesse caso, o inseto se alimenta dos ovos das mariposas e das lagartas em estágios iniciais de desenvolvimento, sendo comum sua presença em lavouras de milho. “É uma associação perfeita porque existem várias mariposas e lagartas que são pragas importantes para cultura do milho e a tesourinha age antes que elas se desenvolvam”, explica Alessandra.

Percevejo

 

 

Quando mantidos sob controle, percevejos também ajudam a atrair outros controladores biológicos (Foto: Pixabay)

 

Apesar de algumas espécies serem inimigas do produtor, os percevejos também podem ajudar no controle de larvas e outros insetos. É o caso do Reduviidae, da mesma família do barbeiro e de grande importância para o controle de pragas em plantações de soja e eucalipto.

Aranhas

 

 

Argiope argentata, conhecida popularmente como aranha de prata, é comum em jardins e inofensiva para humanos e animais (Foto: Pixabay)

 

Grandes estrelas de filmes de terror, as aranhas não são insetos, pertencendo à classe dos aracnídeos. Generalistas em sua alimentação, elas são importantes no controle populacional de outros invertebrados, inclusive aqueles usados no controle biológico como a própria vespa, o percevejo ou a tesourinha. “Inclusive é um hábito dos chineses de séculos fazer buracos no solo para abrigar aranhas próximo dos cultivos – um hábito interessante que deveríamos ensinar aos agricultores”, avalia a pesquisadora da Embrapa.

Moscas

 

 

Mosca da família Tachinidae é feia, mas útil no controle de outros insetos (Foto: Pixabay)

 

Associadas à falta de higiene e ao incômodo causado pelo som que emitem, algumas moscas também são essenciais no controle biológico. Dentre essas espécies, a pesquisadora da Embrapa destaca a Tachinidae, cuja aparência tende a despertar repulsa entre os desavisados. “Elas são um pouco assustadoras porque os pelos são bem longos, o que caracteriza bem essa família, mas fazem controle biológico parasitando uma infinidade de insetos”, explica Alessandra.

Libélulas

 

 

Espécie de libélula descoberta no ano passado em São Carlos (interior de SP) foi batizada como Heteragrion gorbi (Foto: Rainer Guillermo Nascimento Ferreira/Ufscar)

 

Menos odiadas quando comparadas aos demais insetos, as libélulas podem assustar pelo tamanho de algumas espécies, chegando a ultrapassar 10 centímetros. No entanto, são controladoras de moscas e mosquitos, incluindo o Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela. Facilmente encontradas em lagos e lâminas d’água onde depositam seus ovos, as libélulas também podem ser atraídas pelo plantio de crotalária, unindo controle biológico e adubação verde.

Joaninhas

 

 

Larva de joaninha é pouco conhecida, mas tão eficaz no controle de pulgões quanto seus pares em fase adulta (Foto: Pixabay)

 

Clássicas no controle de pulgões, as joaninhas estão longe de serem temidas. A sua forma larval, contudo, ainda é pouco conhecida e pode gerar confusão entre produtores menos experientes devido à semelhança com as cochonilhas. “Pouquíssimas pessoas associam aquele inseto jovem, aquela larva feinha, sem muitos atrativos, ao inseto adulto, que é tão querido. Mas a joaninha larva também é importante porque é predadora assim como é a adulta”, completa a pesquisadora da Embrapa.

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Source: Rural

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