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Thiago Luis Dalaqua Padeigis, de 29 anos, é formado em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Osni Manoel Lima, de 64, é químico e trabalhou 30 anos na área industrial de usinas sucroalcooleiras. Os dois integram um grupo de 315 produtores de cana-de-açúcar de 118 municípios do norte do Paraná e sul de São Paulo que mantém parceria com a Usina Jacarezinho recebendo mudas de cana, assistência técnica no preparo do solo, plantio e colheita, garantia de compra, fomento e aval na hora de comprar os insumos.

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Usina Jacarezinho tem programa de integração com produtores de cana (Foto: REUTERS/Marcelo Texeira)

 

Inspirada em usina paulista que tinha modelo semelhante, a Jacarezinho, que leva o nome do município paranaense em que fica sua sede e integra o Grupo Maringá, decidiu criar, em 2016, uma área específica para negociar a compra de matéria-prima e integrar produtores, visando garantir o fornecimento constante de cana para o seu negócio, que inclui a produção de açúcar e etanol e a geração de energia. Foi criado o departamento de Produtores Integrados de Cana (PIC), que investiu desde então R$ 15 milhões, segundo o diretor operacional sucroalcooleiro da Jacarezinho, Condurme Aizzo.

“Saímos de uma moagem de 1,8 milhão de toneladas em 2012 para 2,6 milhões de toneladas há dois anos. Desde a criação do PIC, já ampliamos em 11,14% o volume de Açúcar Total Recuperado [ATR] e em 2,62% a taxa de Tonelada de Cana por Hectare [TCH]”, afirma. No ano passado, os produtores do PIC entregaram mais de 1,5 milhão de toneladas de cana, cultivadas em 17.149 hectares, com produtividade média de 87,47 toneladas por hectare e 136 quilos de açúcar por tonelada.

O diretor conta que o PIC nasceu com cerca de 300 integrados. Desde então, alguns saíram e outros entraram. Os contratos são de cinco anos até a exaustão do canavial. “O modelo nos ajuda a fidelizar o fornecedor, que sofre o assédio anual de outras usinas da região e também pode ser atraído para o plantio de grãos que é forte por aqui.”

Perfil variado

Thiago Padeigis, produtor de cana integrado da Jacarezinho (Foto: Arquivo pessoal)

 

O perfil dos produtores integrados é bem variado, com áreas plantadas de cana a partir de 2 hectares até 400 hectares, segundo Aizzo. O tipo de contrato também varia porque o fornecedor pode cuidar de todos os tratos culturais, da colheita e do transporte da cana até a usina ou pode terceirizar para a usina uma ou mais partes do processo.

Osni Lima, que planta 50 hectares em Cambará (PR), é fornecedor da Jacarezinho desde 2007, antes da criação do PIC. Ele integra e administra um condomínio formado em 2013, de produtores que plantam no total 960 hectares, fazem todos os tratos culturais e a colheita e entregam 100% das cerca de 80 mil toneladas colhidas por ano à usina.

“Temos boa remuneração, assistência e a garantia de que vamos receber pelo que entregamos na data combinada. A usina financia nossos custos de operação que são pagos em toneladas de cana em cinco anos, fornece mudas, avaliza nossa compra de insumos em cooperativas da região e chega a pagar os insumos agrícolas se a gente não tiver o dinheiro no vencimento do contrato para nos descontar depois”, elogia Lima, acrescentando que nesta safra as mudas foram entregues ao produtor sem custo.

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Thiago Padeigis mora em Andirá (PR) e já era prestador de serviços da Jacarezinho em frentes de colheita mecanizada com sua empresa de máquinas agrícolas antes de se tornar fornecedor de matéria-prima. Ele planta cana com o pai, Waldemir, na vizinha Bandeirantes (PR) e em Palmital (SP). No total, cultiva 320 hectares e entrega a produção média anual de 25 mil toneladas para a Jacarezinho desde a criação do PIC.

“Eles viabilizam a diluição do custo de plantio que chega a R$ 15 mil por hectare, fornecem mudas e garantem o aval na compra de adubos, com a emissão de uma NPR (Nota Promissória Rural) que desburocratiza a operação e ainda dá poder de negociação de preço ao produtor porque a revenda tem a certeza de que vai receber pelo produto e na data certa.”

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Só as mudas que saem sem custo ao produtor neste ano, representam uma economia de R$ 3 mil por hectare, diz ele. Outra vantagem, segundo Padeigis, é que a usina fornece assistência técnica e também adianta recursos no caso de necessidade de crédito para compra de terras visando a expansão do plantio.

Aizzo, o diretor da usina, ressalta que a busca de maior produtividade é a chave do negócio. “Se o produtor colher mais, nós também ganhamos. Temos quatro agrônomos dando suporte aos integrados, inclusive na questão de tecnologia. Aplicamos herbicidas por drones, investimos em variedades melhores e em automação.”

Nova safra

Osni LIma, prdutor de cana integrado da Jacarezinho (Foto: arquivo pessoal)

 

No ano passado, a moagem da Jacarezinho caiu para 2,4 milhões de toneladas, com produção de 167,8 mil toneladas de açúcar e 94,6 metros cúbicos de etanol. Mesmo assim, o resultado líquido da empresa, que é uma das cooperadas da Copersucar, foi de R$ 182,8 milhões, um aumento de 111% em relação ao ano anterior devido ao cenário global de preços e aos investimentos realizados pela empresa nos últimos anos.

Nesta safra, que começa em abril, a expectativa é processar 2,5 milhões de toneladas. A Jacarezinho aplica vinhaça por aspersão em 7.500 de seus 14 mil hectares próprios e está investindo agora em compostagem de torta de filtro e cama aviária para baixar os custos com fertilizantes. Está em estudos o investimento futuro em aplicação localizada de vinhaça enriquecida. 

O preço atual dos fertilizantes é mesmo o grande gargalo, segundo os produtores. Lima diz que já tem os insumos desta safra e espera repetir a produtividade de seu canavial do ano passado, quando colheu 117 toneladas por hectare com canas de 1º corte e 6º corte. No condomínio, a média de produtividade ficou em 103 toneladas por hectare. Um dos trunfos dos produtores é estender os anos de colheita do canavial antes de precisar fazer a renovação.

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“Selecionamos as melhores variedades, caprichamos no manejo, cortamos a cana na hora certa, não pisoteamos a área. Enfim, tentamos fazer tudo certo para ganhar mais anos de colheita. Temos cana de 10, 12 e até 14 anos que ainda produzem bem, cerca de 90 toneladas por hectare”, conta Lima.

Para a safra 23/24, no entanto, ele ainda não comprou insumos. Diz que vai aguardar mais um pouco. “O preço está fora da órbita. Todos os dias sobe na revenda. O dólar cai, mas o petróleo sobe…”

Padeigis, que colheu 85 toneladas por hectare no ano passado, espera um desempenho melhor agora porque as chuvas se distribuíram melhor desde setembro, mas ainda não comprou 100% dos fertilizantes que vai precisar. “Estávamos vivendo uma turbulência nos insumos causada pela Covid, que foi agora acirrada pela guerra no leste europeu, de onde vem a maior parte dos nossos fertilizantes. Travei uma parte dos custos no ano passado e estava aguardando alguma janela de  promoções das cooperativas para comprar o restante e passar o ano tranquilo… Pelo menos o mercado está remunerando bem a cana.”
Source: Rural

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