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No momento em que o mundo discute os riscos da segurança alimentar provocados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, dois dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo, o Brasil dá um passo para tentar reduzir sua dependência do trigo importado, que hoje representa quase 60% do consumo no país. O plano, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é aumentar a área plantada no Cerrado de 252 mil hectares em 2021 para 353 mil hectares até 2025, com uma produção extra de 300 mil toneladas e uma desoneração de R$ 450 milhões na balança comercial do grão.

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Plantação de trigo em área no Cerrado. Maior parte das lavouras hoje é irrigada, mas plano do governo pretende incentivar plantio de sequeiro com variedades mais resistentes ao calor (Foto: Paulo Bonato/Arquivo Pessoal)

 

Esses são os principais objetivos do Termo de Execução Descentralizada ou TED do Trigo Tropical, aprovado na semana passada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em nota, o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, afirma que o investimento em pesquisa e transferência de tecnologia será de R$ 2,9 milhões e as ações devem envolver diversos setores da cadeia produtiva de grãos nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e no Distrito Federal.

“O projeto de expansão do trigo tropical pode ser viabilizado financeiramente pela redução de gastos com as importações de trigo, além da geração de renda com a dinamização da economia no Brasil Central”, disse Lemainski, no comunicado.

O TED do Trigo Tropical foi apresentado ao Mapa pela primeira vez em setembro de 2020, mas não foi incluído no Orçamento de 2021, como o setor esperava. O cereal, assim com oos fertilizantes, está entre os principais itens do agroengócio importados pelo Brasil, onerando a balança comercial do País em R$ 10 bilhões por ano.

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Em 2021, a produção brasileira de trigo avançou e chegou a 7,7 milhões de toneladas, com importação de outros 6,2 milhões. Mais de 80% da produção vem do Rio Grande do Sul e Paraná, mas o plantio avança também no Cerrado, onde a produtividade do trigo irrigado chega a ser três vezes maior que a do grão gaúcho.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), o embaixador Rubens Barbosa, disse, nesta segunda-feira (28/3), à Globo Rural, que o plano técnico de organização da produção da Embrapa, embora esteja atrasado, é muito positivo porque pode elevar em 40% a produção no Cerrado. “A decisão de investimento foi influenciada pela situação global, mas há muitos anos a Abitrigo destaca a necessidade de se reduzir a vulnerabilidade do país na produção do trigo por uma questão estratégica.”

Em 2019, a entidade apresentou ao Mapa um documento formulado pela cadeia intitulado Política Nacional do Trigo, que já sugeria ações para ampliar a produção. Questionado sobre o que as indústrias podem fazer para estimular o plantio no Cerrado, Barbosa disse que o aumento da oferta pode ser aproveitado pelas indústrias do Centro-Oeste e Nordeste, que hoje importam. “Mas se houver aumento da demanda, novos moinhos certamente vão se instalar naquela região.”

Lavouras de sequeiro

Atualmente, 40% da área de plantio no Cerrado é irrigada, mas o plano técnico da Embrapa é elevar em 75 mil hectares o cultivo de sequeiro, que rende menos, mas tem custo de produção menor e menos competição por terras com feijão e outros produtos. A Embrapa desenvolve cultivares de trigo resistentes à seca e ao calor na região desde a década de 80.

O chefe da Embrapa afirma que o trabalho será coordenado pela empresa de pesquisa pública, mas terá a participação da indústria moageira, cooperativas, extensão rural, associações de produtores e federações da agricultura, além de lideranças regionais. “Os produtores de sementes terão papel fundamental, já que a expansão da área depende da disponibilidade de sementes de trigo em quantidade e com qualidade para suprir a demanda crescente.”

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Além da transferência de tecnologia, por meio de dias de campo, visitas técnicas e ensaios de pesquisa, o TED vai promover estratégias de combate à brusone, principal doença limitante da cultura no Cerrado, com seleção de cultivares e indicação de manejo mais eficientes no combate à doença que é causada por um fungo que seca as espigas e derruba a produtividade e a qualidade. Não há produtos específicos para o combate à brusone, que preocupa também triticultores de outros países. No próximo ano, a Embrapa deve lançar uma cultivar mais resistente ao fungo.

Também haverá foco no refinamento das simulações de risco climático a partir das lavouras expositivas e experimentos que serão conduzidos em 36 municípios em sete estados, além de reforço de pessoal, aquisição de máquinas e implementos para suporte à base de pesquisa e transferência de tecnologias da Embrapa instalada na cidade mineira de Uberaba.

“É preciso considerar que, além de prover segurança alimentar ao país, a expansão do trigo no Cerrado também promove agregação de renda e empregos na região, principalmente em empresas de insumos e produtores de sementes, já que a cultura do trigo é inserida em áreas que ficam em pousio na estação seca”, diz Lemainski, no comunicado.
Source: Rural

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