Skip to main content

Desde o início da pandemia temos acompanhado com preocupação o retrocesso nos esforços para acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição até 2030, não só no Brasil, mas em toda a América Latina e o Caribe. A COVID-19 impactou de forma devastadora a economia, e a fome atinge 60 milhões de pessoas na região, seu ponto mais alto em 20 anos. Diante de um cenário pandêmico que ainda não acabou, a situação da insegurança alimentar deve piorar ainda mais.

Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil (Foto: Divulgação/FAO Brasil)

 

Os sistemas agroalimentares da América Latina e do Caribe produzem mais alimentos do que o necessário para alimentar toda a população de 664 milhões de pessoas –das quais quase um terço vive no Brasil–, e a rica biodiversidade de seus ecossistemas terrestres e marinhos, aliada a força das 18 milhões de pessoas que trabalham na agricultura e na pesca, são os motores que podem superar essa crise, que atingiu a região com mais força do que qualquer outra do planeta.

Diante deste contexto, os governos dos 33 Estados Membros da FAO na América Latina e no Caribe se reúnem entre os dias 28 de março e 1º de abril, na 37ª Conferência Regional da FAO, em Quito, no Equador, para estabelecer as prioridades regionais da Organização para o próximo biênio. É uma oportunidade única para os países compartilharem inovações tecnológicas, institucionais e organizacionais e encontrarem soluções conjuntas para os desafios da alimentação, agricultura e nutrição.

Será realmente difícil alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 em todo o mundo. No entanto, a partir de experiências anteriores, acreditamos que a região tem as ferramentas e conhecimento necessário para caminhar rumo ao cumprimento da Meta 2.1, de garantir o acesso a alimentos seguros, nutritivos e suficientes para todas as pessoas durante todo o ano, e da Meta 2.2, de erradicar todas as formas de má nutrição.

É preciso pensar a curto, médio e longo prazo para uma recuperação pós-pandemia que levará a uma melhor produção, melhor nutrição, melhor meio ambiente e uma vida melhor para todas as pessoas, sem deixar ninguém para trás. No entanto, resultados práticos só virão se começarmos a agir hoje, de maneira urgente e colaborativa.

A COVID-19 impactou de forma devastadora a economia, e a fome atinge 60 milhões de pessoas na região, seu ponto mais alto em 20 anos. Diante de um cenário pandêmico que ainda não acabou, a situação da insegurança alimentar deve piorar ainda mais"

Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil

Transformar os sistemas agroalimentares é uma responsabilidade de todos nós, e a FAO vem trabalhando com centenas de parceiros no governo, sociedade civil, setor privado e comunidades científicas e acadêmicas. São mais de 400 projetos nacionais, sub-regionais e regionais, alcançando milhões de famílias que participam de toda a cadeia de valor agroalimentar, do campo à mesa. A FAO também aumentou os recursos financeiros para seu trabalho em quase 80%, e passou por uma profunda reforma não apenas global, mas também regional, para se tornar mais transparente, ágil, eficiente, digital e inovadora.

Aguardamos as deliberações e recomendações que emanarão desta Conferência Regional para possamos fazer mais e, sobretudo, fazer melhor, pensando grande e agindo concretamente. Esse é um momento em que nossas fragilidades estão expostas, e temos uma oportunidade única de definir estratégias para avançar rumo a uma verdadeira erradicação da fome.

O caminho para a transformação agroalimentar começa a ser desenhado hoje, e esperamos que essas ações profundamente enraizadas nas condições, prioridades e necessidades específicas da América Latina e do Caribe, nos levem a um amanhã mais justo, mais saudável e mais seguro para todas as pessoas.

*Rafael Zavala é representante no Brasil da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

Leave a Reply