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Embora a Rússia tenha sido destino de apenas 2% das exportações de carnes do Brasil no último ano, a decisão do país de iniciar uma guerra na Ucrânia que já dura mais de um mês se tornou mais um fator de risco para a indústria frigorífica nacional. Com as negociações suspensas com o país desde o início do conflito, o setor amarga novo aumento nos custos de produção, sobretudo em aves e suínos, e tem visto piorar uma crise logística que, desde 2020, vem inflacionando o frete marítimo internacional.

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Suspensão de novos contratos pode levar a perda de participação no mercado russo, afirma Abiec (Foto: Getty Images)

 

“A gente suspendeu um pouco as negociações de contratos novos porque existe dificuldade com armadores, dificuldade de efetuar seguro da carga, dificuldade mesmo de encontrar companhias que estejam aceitando o Booking, às vezes também tem dificuldade de largar essa mercadoria no porto onde foi feito o acerto, então a gente optou por consolidar os produtos que já estavam chegando e resolver os impasses e aguardar um pouco até que isso se normalize de alguma forma”, relata o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antônio Camardelli.

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Apesar da suspensão das vendas para a Rússia não preocupar o setor, dada a baixa participação no total das vendas internacionais do Brasil, Camardelli destaca prejuízos enfrentados pelos exportadores: “Tem um prejuízo imediato que é o financeiro e comercial, depois o prejuízo da retirada do seu produto na gôndola, da sua participação no mercado, seja no mercado direto seja na participação como ingrediente em embutidos. Então, a gente avalia, estuda e considera isso progressivamente todo dia praticamente”, conta o executivo.

Já do ponto de vista dos custos, o cenário é preocupante, sobretudo para a indústria de aves e suínos, mais dependentes do consumo de grãos e derivados. “Isso é algo que é inevitável. Quando a Rússia e Ucrânia, que têm 30% do mercado mundial de trigo e 20% do mercado mundial de milho, saem nem que seja momentaneamente do mercado de oferta, isso acaba gerando uma maior pressão nos outros fornecedores e entre eles está o Brasil”, reconhece o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. Segundo ele, o repasse da alta dos grãos ao consumidor é inevitável.

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“O setor tem duas alternativas: o produtor está com o frango no campo comendo o milho que ele pagou R$ 80, mas tem que cobrar nesse frango um preço que vai pagar o milho a R$ 95 senão ele tem que comprar o milho com dinheiro equivalente a R$ 80 e produzir menos frango”, calcula Santin. A queda na produção nacional de aves e suínos também é uma das consequências do conflito Rússia-Ucrânia no mercado interno de carne apontadas pelo consultor de agronegócios do ItaúBBA César de Castro Alves.

“O setor de proteína animal já está com a corda no pescoço, com custos muito estrangulados e dificuldade de repassar preços. Essa alta vai esmagar mais ainda a indústria, principalmente frango e suíno e, num segundo momento, eles vão reduzir produção. Isso já está acontecendo e a tendência é que isso ganhe força e aí o preço [da carne] sobe imediatamente”, explica o consultor, ao destacar que a oferta de milho no mercado interno só deve apresentar melhora no segundo semestre, quando será colhida a safrinha. “Até aqui está tudo bem, mas a gente ainda tem que ver como vai ser o clima, se vai ter onda de frio… É um ano bem perigoso”, completa César.
Source: Rural

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