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O dólar caiu nos últimos dias, passando a operar abaixo de R$ 5 . De acordo com economistas, existe a possibilidade da tendência atual se manter, o que tem impacto no agronegócio, com parte dos custos e receitas referenciado na moeda americana. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, explica que um dos fatores que está levando à queda atual do dólar é a alta das commodities. A guerra entre Rússia e Ucrânia colocou pressão sobre o mercado internacional de petróleo e outras matérias-primas, inclusive as agrícolas, como soja, milho e trigo. E como o Brasil é um importante exportador mundial de commodities, acaba atraindo capital estrangeiro via balança comercial.

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Dólar, que chegou a estar mais de R$ 5, está em torno de R$ 4,80 (Foto: Gary Cameron/Reuters)

 

 

Perfeito lembra também que o mercado financeiro brasileiro é muito ligado a commodities. As ações de mais peso nas negociações da bolsa de São Paulo (B3) são as da Vale e da Petrobras, companhias de minério de ferro e de petróleo.

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O economista destaca que a valorização das commodities no mercado internacional ajuda a reforçar a expectativa de alta da inflação, já em níveis elevados no Brasil. Com inflação em alta, o Banco Central aumenta juros (a taxa Selice está em 11,75% ao ano), atraindo capital estrangeiro para a renda fixa. "O Brasil está exportando as duas coisas que o mundo quer: commodities e juros", resume o economista-chefe da Necton Investimentos.

Andté Perfeito avalia que a tendência é do dólar continuar a cair, mas, talvez, não com a mesma intensidade dos últimos dias. Olhando para os gráficos, ele diz acreditar que, se a cotação da moeda americana cair a R$ 4,80, existe a possibilidade de continuar a se desvalorizar até chegar ao nível de R$ 4,65.

"Não acredito que caia mais do que isso. O real é a moeda que mais se valorizou em relação ao dólar ao longo de 2022. O mercado já vai ter chegado a um preço justo", pondera o economista, destacando que os Estados Unidos também estão em um movimento de elevação de taxa de juros, o que pode levar o capital para lá e limitar o movimento de valorização do real.

Com o real mais forte, a alta é menor em reais para esse produtor. É verdade que a receita dele vai ser menos alta. Para alguns segmentos do agro, pode ser bem difícil agora"

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos

O que não significa que o mercado não deva ter momentos de maior tensão. André Perfeito lembra que 2022 é ano de eleição. A expectativa é de um processo eleitoral mais tenso, dado o nível de antagonismo dos pré-candidatos que aparecem mais evidência no cenário: o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"A eleição vai trazer volatilidade para o câmbio. Não tenha dúvida", reforça o economista Roberto Troster. Para ele, mesmo com esse movimento atual de baixa, a cotação do dólar ainda está em um nível mais alto do que deveria.

Ele avalia que o fundamento atual do mercado indica que a moeda americana deveria estar valendo algo como R$ 4, não próximo de R$ 4,80, como agora. A situação, segundo ele, tem a ver com a própria estrutura do mercado de câmbio no Brasil.

"A subida anterior foi muito pela volatilidade de curto prazo. As operações de câmbio são tributadas no mercado à vista e não são no mercado futuro. Qualquer volatilidade nesse mercado mexe com a taxa de câmbio", explica. "A tendência é baixar. Agora, se vai chegar nos R$ 4, não dá para saber", acrescenta.

Como fica o agronegócio?

Para o agronegócio, o movimento da taxa de câmbio é fator fundamental. De um lado, o produtor rural tem custos que são dolarizados, como o dos fertilizantes, por exemplo, do qual o Brasil tem alta dependência de importações. Por outro lado, um dólar mais valorizado favorece a receita de setores altamente exportadores do país, como os de grãos e carnes.

De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), as exportações do agronegócio superaram os US$ 10 bilhões em fevereiro deste ano, uma valor recorde, que, de acordo com a pasta, foi resultado, entre outros fatores, pelos preços elevados de produtos no mercado internacional.

A tendência é baixar. Agora, se vai chegar nos R$ 4, não dá para saber"

Roberto Troster, economista

Esses preços, aliados a um dólar mais valorizado, traduzem-se em mais receita, já que a conversão de moeda resulta em mais reais por dólar. Mas, na outra ponta dessa conta, pesa. Há a necessidade de mais reais para converter em moeda americana na compra do insumo importado.

É fato que os preços de commodities agrícolas já vinham em patamares elevados, por causa da incertezas trazidas pela pandemia de Covid-19, e esse movimento se acentuou com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Soja, milho e trigo atingiram patamares históricos no mercado internacional. Mas também é fato que os fertilizantes explodiram de preço, com incertezas na oferta da Rússia, em guerra, e de países como Belarus, sob sanções econômicas.

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"Com o real mais forte, a alta é menor em reais para esse produtor. É verdade que a receita dele vai ser menos alta. Para alguns segmentos, pode ser bem difícil agora", alerta Perfeito. "Mas depende de caso a caso. Se o fertilizante subir mais que a soja, o produtor de soja pode ser dar mal", exemplifica o economista.

Pensando no efeito do câmbio, lembra Roberto Troster, o ponto fundamental é como está a cotação da moeda americana na compra dos insumos, a despesa, e na venda do produto, a receita. Se o dólar, associado aos preços no mercado, estiver mais alto no momento da compra do que no da venda, a rentabilidade do produtor tende a ser menor. E vice-versa.

"O agronegócio hoje está dependendo mais da cotação do dólar do que da própria produtividade para fins de receita", destaca Troster. "O que o produtor precisa fazer é escalonar compras e vendas", indica o economista.
Source: Rural

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