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Ao volante de uma caminhonete fabricada em 1973, com a pintura original de cor laranja, a
agricultora Lígia Jung, de 33 anos, acelera pela estrada de terra que corta as lavouras de grãos do Sítio Roda D’Água, no município de Floresta, no Norte Central do Paraná, onde ela mora e trabalha com os pais e o irmão.

É tempo de colheita da soja e há muito serviço por se fazer. A propriedade, de 130 hectares, garante a renda e o sustento de toda a família, produzindo, além de soja e milho, mel e morangos. Para a subsistência, os Jung também criam porcos caipiras, plantam arroz e mantêm uma horta.

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CASTROLANDA: Elizete, Débora e Elsa fazem parte da Comissão de Mulheres da cooperativa (Foto: Sergio Ranalli)

 

Lígia representa um movimento que está crescendo no Brasil, principalmente nas áreas de atuações das cooperativas do agronegócio: as mulheres estão se unindo e conquistando espaços nas propriedades rurais, contribuindo para resultados melhores de produtividade e lucratividade dos negócios.

Albertina Ambiel Jung, de 59 anos, mãe de Lígia, foi quem mais a incentivou a se envolver com os trabalhos da Integrada Cooperativa Agroindustrial, da qual são associados. Em 2004, a mãe começou a participar de um dos núcleos femininos e inscreveu a filha, então uma adolescente tímida e envergonhada, no núcleo de jovens. “Eu era a caipira”, recorda-se Lígia. “Pensa num trem envergonhado”, completa a mãe.

Participando dos cursos que a cooperativa oferecia aos jovens – Albertina a inscrevia em todos –, a moça foi se desenvolvendo e perdendo a timidez, o que foi importante quando se viu na feira, vendendo o mel produzido pela família e, aos 18, já na faculdade, na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Na mesma época, engajou-se também no Núcleo Feminino, do qual a mãe participava. “Antigamente, a gente ia à cooperativa com o marido e nem descia da caminhonete. No começo dos núcleos, os cursos oferecidos para as mulheres eram de culinária, hoje, são de gestão e liderança”, conta Albertina.

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Lígia começou a participar de todas as oportunidades, trocando experiências e saberes com outras mulheres, aprendendo e abrindo portas, inscrevendo-se em atividades como os dias de campo, que eram frequentados somente por homens. “Teve vez de eu ser a única mulher inscrita e participante”, rememora. Mas as outras mulheres viam o exemplo e também se animavam em fazer parte das edições seguintes.

Formada na faculdade em 2012, ela trabalhou como extensionista e auditora de um projeto do governo do Paraná para certificação de produtores orgânicos. Depois, quando passou a trabalhar dentro de escritórios, decidiu retornar para o sítio.

Ao receber um pedaço de terra como herança, tornou-se ela própria cooperada, voltou a participar ativamente dos núcleos de jovens e mulheres e logo estava fazendo curso de formação para participar dos conselhos fiscal e de administração. Em 2019, tornou-se a primeira mulher a integrar o conselho de administração da Integrada, que tem 11.400 cooperados, dos quais 20% são mulheres.

"Dentro do cooperativismo, uma mulher fortalece a outra. Eu senti muito isso nos núcleos femininos e de jovens em que trabalhei. Aquela que tem medo de fazer uma coisa, o grupo todo incentiva. Assim que eu comecei a trabalhar na administração da cooperativa, as outras mulheres vinham e falavam, ‘Isso, vai mesmo, você está nos representando’. Esse apoio é muito grande", destaca lígia

"São barreiras que ainda temos de romper, apesar de já ter uma mulher dirigindo o Ministério da Agricultura"

Nélida Mara Guerreiro, produtora rural

Ao lado da mulher e da filha, ouvindo a entrevista, o agricultor Antônio Jung, de 63 anos, é questionado pelo repórter. O que ele acha dessa participação toda das mulheres nas decisões da propriedade e da própria cooperativa? “O que acontece é que eu acabo fazendo mais o serviço da casa”, ele responde, com bom humor, logo emendando que o trabalho em família é o grande diferencial. Todos são importantes. Lígia complementa: “A experiência do meu pai nos inspira e nos ensina. Juntamos conhecimentos”.

Segundo dados do anuário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) relativos a 2020, as mulheres representavam 40% do total de 17.121.076 cooperados no país em sete setores: agropecuária, crédito, saúde, transportes, infraestrutura, trabalho e consumo. Entre os empregados em cooperativas, elas representam 39%.

Quando se trata apenas do setor agropecuário, com 1.173 cooperativas e 1.001.362 associados, o percentual de mulheres cooperadas é de 15% e o de empregadas 22%. Em Minas Gerais, Estado que tem o maior número de cooperativas do agro (189), o percentual é ainda menor: as 18.575 associadas representam 11,8% do total.

As estatísticas da OCB apontam que as mulheres ocupam 15% dos cargos de presidente e 8% de vice-presidente no setor agropecuário. Elas não aparecem, no entanto, na linha de frente das grandes cooperativas. Nem uma das dez maiores em receita tem uma mulher na presidência ou vice-presidência. A participação feminina nessas grandes cooperativas se resume basicamente a alguns cargos de conselheira administrativa, fiscal ou suplente.

VOLTA AO LAR: Lígia Jung trocou o trabalho no escritório pelo sítio da família (Foto: Sergio Ranalli)

 

 

 

A produtora Nélida Mara Guerreiro sentiu na pele o que chama de “mensagem velada” do mundo masculino ao perder a eleição, em janeiro deste ano, para um cargo no conselho fiscal da Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), sediada em Cafelândia (PR). Dona de dois aviários em Formosa do Oeste (PR), ela cria 45 mil frangos por ano para a cooperativa paranaense, que integra o grupo das dez maiores do país.

Formada em ciências contábeis e farmácia, Nélida é associada desde 2004 e é uma das 27 mulheres que participam do comitê educativo, formado por 430 associados, que se reúnem a cada 45 dias com a diretoria para debater negócios e assuntos comuns da cooperativa. No total, a Copacol tem 6.800 cooperados, sendo 1.200 mulheres. Para participar do comitê, é preciso ser associado há pelo menos dois anos e receber um convite da diretoria.

“É um mundo muito masculino e dominado por homens, a maioria com mais de 50 anos. E não sei por que, já que as mulheres trabalham tanto ou mais que os homens na produção rural. Temos de ter mais mulheres participando dos comitês e da direção. São barreiras que ainda temos de romper, apesar de já ter uma mulher dirigindo o Ministério da Agricultura”, diz Nélida, referindo-se à ministra Tereza Cristina, a segunda mulher a ocupar a pasta, que tem 162 anos de existência.

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Tania Zanella, superintendente da OCB e primeira mulher a ocupar um cargo no alto escalão da entidade, fundada há 52 anos, lembra que, quando o movimento feminino em cooperativas surgiu, o propósito era totalmente diferente do atual. “No início, eram formados comitês de mulheres e de jovens. Os de mulheres tinham o objetivo de oferecer cursos de crochê, por exemplo. Hoje, esses grupos, como os da Copacol, são responsáveis por criar novos negócios em cooperativas agropecuárias. Foi-se a ideia de que a mulher estava ali (nos comitês) apenas para distrair a cabeça”, afirma.

Filha de suinocultores de Santa Catarina, Tania diz que sua principal missão na OCB é estimular as mulheres a ocupar espaços nas cooperativas com ações que priorizem
o engajamento e a resiliência. Segundo ela, só a prática do famoso ditado “a união faz a força” evita que as mulheres desistam de conquistar seu lugar de direito. Tania destaca que a participação das mulheres no cooperativismo tem registrado crescimentos de dois dígitos ao ano e o segmento das cooperativas de crédito é o que mais tem servido de exemplo nessa questão do empoderamento feminino para outras lideranças cooperativistas brasileiras. E provoca: “Por que não ter uma mulher ali, na presidência, para levar a cooperativa a patamares maiores, com uma mudança sutil de cultura e quebra de paradigmas?”.

Dentro do cooperativismo, uma fortalece a outra. Aquela que tem medo de fazer uma coisa, o grupo todo incentiva"

Ligia Jung, agrônoma e produtora rural

A valorização uma das outras é um dos caminhos para um aumento de participação das mulheres em cargos de liderança, segundo Eduardo Marcondes, especialista em formação de lideranças e sócio da Youleader, que pertence ao ecossistema da Great Place To Work (GPTW). Ele vê um crescimento da presença feminina nas cooperativas, mas destaca que o ritmo é mais lento no agro, porque o setor é reflexo da elite brasileira, formada por homens brancos e heterossexuais. O espaço da mulher fica, então, mais restrito à média liderança, em que atuam como gerentes e coordenadoras, principalmente de setores como recursos humanos.

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Além da união, o especialista diz que, para ser líder, a mulher precisa buscar capacitação constante, despertar seu espírito de empreendedorismo e ter resiliência para "matar
um leão por dia". Ele prefere não fazer previsões de quando se chegará a uma equidade de gênero nas cooperativas do agro, mas acredita que a valorização da mulher pode ser acelerada com a chegada das novas gerações ao campo.

“Muitas empresas têm nos procurado em busca de apoio para formação de comitês femininos, o que não víamos acontecer cinco anos atrás. O movimento existe, mas precisa ganhar escala.”

Para a cafeicultora Mariselma Sabbag, líder do Comitê Agronegócio do Grupo Mulheres do Brasil (rede que defende a liderança da mulher na construção de um país melhor), a ascensão feminina a cargos de liderança nas cooperativas é um movimento dos últimos dez anos que tende a crescer. Ela destaca que a mulher sempre trabalhou nas atividades agropecuárias, mas a tomada de decisões, negociações e a parte financeira eram assumidas pela figura masculina do pai, marido ou irmão.

FAMÍLIA: Vista do sítio dos Jung e, ao lado, Érica com os pais, seu Antônio e dona Albertina (Foto: Sergio Ranalli)

 

 

“A cooperativa ainda é vista como uma associação dos homens, tanto que a maioria dos funcionários eram e ainda são homens", diz. Segundo Mariselma, a mulher precisa assumir seu papel nas reuniões, empoderar-se, fazer campanha para que mais espaços sejam abertos para elas nos cargos de liderança – e votar em mulher.

À direção da cooperativa cabe buscar uma reestruturação e se comprometer de fato com a igualdade de gênero. A produtora rural reforça que não basta criar comitês ou grupo de mulheres em cooperativas se não forem oferecidas a elas capacitação e oportunidades de protagonismo e desenvolvimento social e financeiro.

“Espero que nos próximos dez anos tenhamos um recorde, um aumento significativo da equidade de gênero nos cargos de direção tanto de cooperativas como das empresas do agro. As empresas que estão olhando para isso serão vistas como empresas de ponta”, diz Mariselma.

Na cooperativa Castrolanda, a Comissão das Mulheres ganha protagonismo e gera protagonistas. Um exemplo é a produtora Débora Noordegraaf, que até 2008 ocupava-se na corrida rotina do lar. É mãe de duas meninas e um menino, que tinham entre 5 e 16 anos de idade naquela época. Enquanto isso, o marido, Arjan Noordegraaf, encarregava-se do trabalho na Fazenda Vale do Guará, de 250 hectares, no município de Castro, nos Campos Gerais do Paraná, onde produziam soja, milho, feijão, trigo e aveia.

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Naquele momento, era importante diversificar a produção, e partiu de Arjan a ideia de começar com a suinocultura. Débora aprovou, mas levou um susto quando o marido disse que ela assumiria todo o trabalho com os suínos, enquanto ele continuaria com as lavouras de grãos. “Eu não sabia nem diferenciar os machos das fêmeas”, recorda-se.

Mesmo assim, Débora não fugiu do desafio. Procurou a Cooperativa Castrolanda, matriculou-se em cursos relacionados à suinocultura e começou a ler tudo o que encontrava sobre o assunto, ao mesmo tempo que arrendavam um barracão com capacidade para 1.200 animais. Na cooperativa, conheceu outras mulheres, trocou ideias, aprendeu, ensinou e concluiu um curso de dois anos de gestão em suinocultura – aí já sabendo muito mais do que diferenciar os animais pelo sexo.

Em 2009, Débora foi uma das idealizadoras da criação da Comissão das Mulheres Cooperativistas da Castrolanda, tendo a oportunidade de aprender ainda mais, em sintonia com as colegas produtoras rurais, e crescer como suinocultora. Tanto que, em 2015, ela e o marido investiram na construção de dois barracões próprios, com capacidade para alojar 3 mil suínos, que recebem da cooperativa com 21 quilos e entregam para abate pesando entre 135 e 140 quilos. Em barracões arrendados, são mais 3 mil animais no mesmo sistema.

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No mesmo ritmo em que Débora tanto cresceu ao lado das colegas, surgiram oportunidades para muitas outras produtoras rurais que antes estavam “escondidas” nos sítios e fazendas, muitas vezes trabalhando com os pais ou os maridos, mas sem buscar capacitações ou acessar as oportunidades oferecidas pela cooperativa. “Em muitos casos, o marido é o cooperado, mas a esposa trabalha até mais do que ele e não aparece. A mulher tem uma visão 360 graus. Geralmente, ela tenta fazer tudo com excelência, porque a gente faz com o coração, e não só com a razão”, destaca Débora, atualmente com 50 anos e coordenadora da comissão.

Foram muitas conquistas na vida de Débora entre 2008 e 2022. Segundo ela, o trabalho em grupo, o empenho, o apoio da família e a paixão pelo agro mostraram-se os elementos fundamentais para as realizações. Fundada por imigrantes holandeses há 70 anos, a cooperativa em que ela atua tem 1.133 cooperados, dos quais 240 são mulheres. O crescimento da participação feminina em número de associados foi de 16,5% em 2021, ano do maior faturamento da história: R$ 5,9 bilhões.

“Mulheres que antes eram apenas a esposa do fulano passaram a ter identidade, voz e acesso a conhecimentos” – ELSA MARIA KUGLER, uma das idealizadoras da Comissão de Mulheres da Castrolanda e produtora rural (Foto: Sergio Ranalli)

 

Muitos dos cooperados são pequenos proprietários, principalmente os produtores de leite, que fazem bom uso da genética do gado holandês, mantendo uma tradição local, por isso, a participação e o interesse das mulheres nas atividades são primordiais. Muitas vezes, elas estão à frente dos negócios. A cooperativa também recebe de seus cooperados, além do leite, grãos, suínos, ovinos e batatas.

Elsa Maria Kugler, de 57 anos, de família de produtores rurais há 40 anos, foi a idealizadora de uma comissão de mulheres. Em 2008, depois de se esconder por alguns anos dos convites, foi eleita para estar à frente da comissão que organizava uma festa anual em homenagem às mulheres cooperativistas. Sem trabalhar diretamente nas propriedades, mas com tino e liderança de quem atua na área comercial, Elsa Kugler percebeu que havia muito potencial a ser desenvolvido com as cooperadas. Elas mereciam mais do que uma homenagem anual e também poderiam colaborar. Por que não criar um grupo?

Alguns torceram o nariz, e houve quem insinuasse que as mulheres se reuniriam apenas para tomar chá e café, porém, ela e as colegas estavam decididas e determinadas. Em 2009, começaram os trabalhos e, no ano seguinte, já tinham até marca própria, que elas ostentam nas echarpes que utilizam com o uniforme.

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“Mulheres que antes eram apenas a esposa do fulano passaram a ter identidade, voz, acesso a conhecimentos, a cursos, palestras, capacitações. Já fizemos três dias de campo exclusivos para mulheres. A nossa ideia sempre foi agregar”, explica Elsa.

As vozes femininas chegaram ao conselho de administração da cooperativa em 2014, quando Elizete Telles Petter, de 58 anos, integrante da Comissão das Mulheres Cooperativistas,foi a primeira eleita na história para integrá-lo. Produtora rural que desenvolve um trabalho de excelência na produção de soja, milho, feijão, trigo, sementes de forrageiras, gado senepole reflorestamento de pínus, Elizete não se intimidou nas reuniões onde era a única mulher para discutir assuntos importantíssimos e cifras milionárias. Afinal, ela também não havia se intimidado quando assumiu os trabalhos com a agricultura na fazenda da família, em 1995, mesmo sem nenhuma experiência na área.

“Eu tive de superar obstáculos que muitos diziam ser intransponíveis. Tive de aprender tudo para ter alta produtividade e administrar as fazendas como verdadeiras empresas. Não foi fácil, mas fui à luta e vi que era possível. Isso é o que procuramos transmitir para as mulheres da nossa cooperativa”, destaca Elizete

A Comissão das Mulheres da Castrolanda tem sete membros. Anualmente, duas cadeiras são renovadas, por meio de eleições. Todas são voluntárias. “Hoje, temos todo o apoio e o reconhecimento, inclusive fazemos parte do conselho estratégico. É um caminho sem volta. Cada vez as mulheres terão mais acesso a conhecimentos e mais espaço. Felizmente”, afirma Elsa Kugler.

“Não foi fácil, mas fui à luta e vi que era possível. Isso é o que procuramos transmitir para as mulheres da nossa cooperativa” – ELIZETE TELLES PETTER, primeira mulher a integrar o conselho de administração da Castrolanda (Foto: Sergio Ranalli)

 

(publicado originalmente na edição 435 de Globo Rural – março/2022)

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Source: Rural

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