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O aumento no custo de produção e o clima afetaram o preço da mandioca, associado uma série de outros fatores. De acordo com o Cepa, entre 7 e 11 de março, o preço médio nominal a prazo da tonelada de mandioca posta fecularia foi de R$ 750,58 (R$ 1,3054 por grama de amido), recorde da série histórica da entidade. A menor disponibilidade de lavouras com mais de 15 meses e a retração dos produtores por conta da produtividade e do teor de amido baixos continuam determinantes para a tomada de decisão pela colheita.

A alta nos preços pode atingir o consumidor e a indústria de várias formas, uma vez que a fécula de mandioca é usada não apenas para fazer tapioca, sagu, mas também cosméticos, comprimidos da indústria farmacêutica, sacolas biodegradáveis e, até mesmo, é usada no resfriamento de brocas da indústria petroleira.

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Mandioca está mais cara (Foto: Ernesto de Souza / Ed. Globo)

 

Segundo Fábio Isaias Felipe, pesquisador da área de mandioca do Cepea, há uma série de fatores que explicam essa escalada de preços. Em primeiro lugar, a rentabilidade dos produtores tem sido comprometida desde 2020. “Nesse cenário de baixa rentabilidade, outras atividades tiveram preços promissores em regiões onde a mandioca concorre com boi, grãos, cana e amendoim. O que acabou ocorrendo é que os produtores migraram para essas outras atividades ocasionando redução da área cultivada”, diz Felipe.

Houve também impactos do clima, com excesso de chuva, seca, geadas e calor nas regiões produtoras. De acordo com o IBGE, a produtividade da safra 2021/2022 para mandioca de mesa e para a indústria é prevista em 14,4 toneladas por hectare no média no País, uma queda de 3,7% em relação à safra anterior. “Tudo isso reduziu produtividade agrícola também”, explica o pesquisador.

 

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A estimativa de produção do IBGE para a safra 2021/2022 é de 18 milhões de toneladas de mandioca, 2,7% abaixo da safra anterior. Segundo o pesquisador, o Paraná, que é o Estado responsável por 70% da produção de fécula no Brasil, a produtividade deve ter queda de 5% na safra 2021/2022. A produção nesse Estado deverá ser de 2,84 milhões de toneladas colhidas, uma queda de 7%, a menor desde 2004. “Isso é muito relevante”, afirma Felipe.

Como a colheita da mandioca leva no máximo 12 meses, Felipe diz que os produtores estão descapitalizados o que, frente ao aumento de custos de produção, prejudicam decisões sobre plantio. Por isso, mesmo com o preço em alta, parece haver resistência de o produtor plantar. “E estamos em um momento de tomada de decisão de plantio e tem havido pouca movimentação nesse sentido. Não tem sido perceptível a animação dos agricultores em plantar mandioca, porque os custos estão bastante elevados e devem pesar para a cultura da mandioca.”

Nelson de Paula Netto, representante da quarta geração de produtores de mandioca da Fazenda Rosimara, na cidade de Rondon, noroeste do Paraná próxima a Cianorte, diz que os preços dos insumos triplicaram no ano passado. E, a geada em junho e junho, reduziu

drasticamente o teor de amido da mandioca, reduzindo o valor pago pela indústria. É que a planta retira amido das raízes para fortalecer as folhas, que são queimadas pelo frio da geada. “E o prejuízo para o produtor está sendo grande, porque tem produção, mas com baixo teor de amido. E o nosso valor da matéria-prima não é reajustado há muito tempo, apesar de estar alto, não seguiu como as outras commodities”, diz Netto, que planta 50 alqueires de mandioca, com média de produção em torno de 50 a 70 toneladas por alqueire ao ano.

A sorte do produtor é que em junho e julho do ano passado, sua cultura já completava 12 meses. E, nas primeiras previsões de geada, ele saiu para colher o produto. “Eu tive sorte. Mas na minha região, 90% dos produtores estão passando por dificuldades agora.” Segundo ele, além dessa alta da mandioca ir para a mesa do consumidor e também para a indústria de fécula, o preço deve continuar em processo de aceleração até o final do ano. “Acho que, até o final do ano, a mandioca vai subir mais, porque tem que acompanhar o mercado, porque senão as indústrias vão desanimar os produtores e não vai ter mandioca no ano que vem para processar”, diz Netto.

João Eduardo Pasquini, vice-presidente Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (Abam), concorda com Netto e não vê exagero em sua afirmação. A geada realmente foi drástica no ano passado e a indústria não está conseguindo pagar o produtor, mesmo com os preços altos da mandioca, porque o teor de amido extraído é bem menor. Uma tonelada da raiz costuma render 270 kg de fécula, enquanto hoje não é extraído 230 kg. “Mesmo com essa alta que acontece agora, muitos produtores não estão podendo aproveitar porque a raiz não tem concentração de amido. O produtor não está recebendo o preço que normalmente receberia. Mesmo com preço alto da fécula, muitos produtores não estão podendo aproveitar esse momento”, explica Pasquini.

O executivo da Abam explica que a área plantada vem reduzindo há dois anos: caiu 15% em 2020 e sofreu nova redução de até 40% em 2021. “Os preços têm que se manter em alta. E, tendo em vista o cenário (com custos elevados de produção), tem que ser um preço até maior para manter o produtor na atividade. A gente sabe que a situação não está fácil”, diz ele, que é produtor de mandioca e tem empresa de produção de amido de mandioca.
Source: Rural

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