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Até o início da década de 80, o Brasil figurava como um dos maiores produtores de cacau do mundo, mas, com a chegada da vassoura de bruxa, esse cenário alterou-se. Na década de 90, o Brasil passou a importar amêndoas de cacau de países africanos, como Costa do Marfim e Gana. Mesmo com a produção nacional de amêndoas em 2021 atingindo um dos melhores volumes nos últimos 5 anos, as 197.654 toneladas recebidas pelas processadoras não foram suficientes para atender à capacidade instalada da indústria moageira, associada à AIPC (atualmente existem 4 unidades fabris no Sul da Bahia, 3 em Ilhéus e 1 em Itabuna, das empresas Barry-Callebaut, Cargill e Ofi).

 

Esse grande volume correspondeu a pouco mais de 70% da capacidade instalada dessas empresas. No entanto, para que a operação industrial seja sustentável é fundamental que as fábricas operem entre 80% e 85% de suas capacidades de fabricação.

Para que a indústria possa operar nesses patamares, e assim, cumprir seus compromissos de exportação (de produtos derivados de cacau, ou seja, com agregação de valor), ainda é preciso recorrer à importação de cacau. Essa importação, na maior parte das vezes, é realizada pelo regime de drawback, mecanismo criado pelo governo brasileiro com o objetivo de tornar a indústria local mais competitiva no mercado internacional. Desse modo, ao importar amêndoas de cacau sob esse regime, a indústria moageira é obrigada a exportar o produto industrializado para fazer jus aos benefícios fiscais.

Diante deste cenário, somente a manutenção das operações das fábricas em plena capacidade permitirá à cacauicultura brasileira voltar a crescer e retomar a relevância no mercado global.

Esse futuro não está tão distante e é muito possível que, nos próximos anos, possamos verificar um aumento estável da produção de amêndoas de cacau no Brasil, fruto de investimentos em assistência técnica e manejo das propriedades. Isso tudo resultará diretamente em aumento de produtividade, além da produção em áreas não tradicionais.

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O mais importante neste movimento é que o aumento da produção de amêndoas de cacau no Brasil está ocorrendo sobre o tripé da sustentabilidade: atento aos aspectos econômicos, esse crescimento leva em conta o aumento de renda do produtor, com investimento em produtividade, novas tecnologias e acesso ao crédito, além de fomento às boas práticas de produção; aos aspectos sociais, ao priorizar a qualidade do trabalho e a manutenção das crianças na escola. E com foco na preservação ambiental: a produção em sistema cabruca na Bahia e Espírito Santo, preservando a Mata Atlântica, e em sistemas agroflorestais no Pará e em Rondônia, são provas de que o cacau brasileiro não só preserva como é um vetor de recuperação de áreas degradadas.

Nesse sentido, ações como o projeto Cacau 2030, Diretrizes para o Trabalho Decente na cadeia do Cacau, e o Currículo de Sustentabilidade são exemplos de ações em discussão e implementação, lideradas pelo CocoaAction Brasil – coalizão patrocinada pelas indústrias moageiras e chocolateiras – que conta em sua governança com todos os elos da cadeia, além da participação dos governos federal e estaduais.

O futuro promissor da cacauicultura brasileira não está longe, mas precisamos seguir firmes no propósito do desenvolvimento sustentável e responsável para que, em poucos anos, voltemos a ocupar nossa posição como um dos grandes players no mercado global.

*Anna Paula Losi é diretora executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

**As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de sua autora e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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