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O preço do trigo, que chegou a subir mais de 40% desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, deve chegar aos derivados, como massas e pães, pelo menos até o mês de junho. As cotações no mercado internacional do cereal, referenciado na Bolsa de Chicago, são os maiores desde 2008. No mercado brasileiro, as cotações também subiram para níveis históricos. 

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“É um movimento irreversível”, afirma Élcio Bento, analista de trigo da consultoria Safras & Mercado. Bento explica que, neste momento, os moinhos estão ainda estão processando o trigo comprado antes dessa alta. Mas chegará o momento em que o grão comprado a preços mais altos será incluído no processamento.

"Os moinhos estão processando o trigo comprado antes dessa alta. É possível que o quanto antes o moinho poderá repassar os preços”, diz Élcio Bento. "Se a demanda cair pode ser que não se consiga repassar o preço, se o consumidor não aceitar. Mas é um produto básico para alimentação. Poderia usar como alternativa derivados de arroz, cujos preços estão mais baixos", acrescenta o analista

Com Rússia e Ucrânia fora do mercado, preço do trigo subiu mais de 40% no mercado internacional (Foto: REUTERS/Enrique Marcarian)

 

O Brasil importa pequenos volumes de trigo da Rússia, que, junto com a Ucrânia, responde por cerca de 30% das exportações globais do cereal. No entanto, com os dois países fora do mercado, a demanda tende a se voltar para países que tem o cereal, influenciado os preços em locais que fornecem para o Brasil, como a Argentina e Estados Unidos, e movimentando os preços do produto produzido no Brasil.

“O maior exportador da América Latina acabou de colher a maior safra da sua história e, com o comércio na principal região exportador de trigo no mundo paralisado, passou a ser uma das alternativas dos compradores internacionais. Assim, as cotações saíram de cerca de US$ 300/tonelada no início da guerra para cerca de US$ 415/tonelada nesta segunda semana de março”, registra o relatório.

E os produtores brasileiros já escalam os preços, em decorrência da paridade com os preços da Argentina. “Neste início de semana foram reportados negócios entre R$ 2.070 e R$ 2.100 a tonelada”, informa o relatório da consultoria sobre preços praticados no Rio Grande do Sul.

Oferta e demanda de trigo

Nesta quarta-feira (9/3), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) revisou para cima sua previsão de produção mundial de trigo, de 776,42 milhões para 778,52 milhões de toneladas no ciclo 2021/2022. O governo americano aumentou suas preojeções de estoques globais, de 278,21 milhões para 281,51 milhões de toneladas.

No entanto, as exportações globais foram reduzidas, de 206,69 milhões para 203,11 mihões de toneladas. Por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia e das sanções econômicas aplicadas contras os russos, a previsão de exportações dos dois países foi reduzida. Mas o USDA considera que essa redução deve ser, em parte, compensada por Índia e Austrália.

O Brasil deve produzir 7,7 milhões de toneladas e importar 6,7 milhões, segundo o USDA. Do que o Brasil importa, 85% vêm da Argentina, explica o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa. “O custo do trigo nos últimos dois anos vem aumentando gradualmente. E, nos últimos 15 dias, o preço duplicou. Mas não temos ameaça de falta de trigo para abastecimento interno”, afirma.

O presidente da Abitrigo diz que a entidade não comenta a política de preços da indústria moageira, mas ele avalia que o impacto da alta dos preços do trigo no bolso do consumidor só ocorrerá a partir do segundo semestre. De acordo com o relatório da Safras & Mercados, esse movimento de alta já vem ocorrendo.

"Os moinhos, tanto no Paraná, quanto no Rio Grande do Sul, não conseguem operar em níveis de paridade com o exterior, alegando dificuldade de repassar esses preços para a farinha. De qualquer forma, os preços atuais nas regiões de produção do país superam os do início da guerra em quase 15%, operando em níveis recordes", informa o relatório.

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Segundo o executivo, a Abitrigo e a Embrapa vêm buscando junto ao governo a criação de uma política de autossuficiência na produção nacional de trigo, para reduzir a dependência brasileira das importações. A expectativa da entidade é que o Brasil colha 7,8 milhões de toneladas nesta safra, abaixo do nível de consumo do País. “Essa é uma das conseqüências da guerra e da pandemia: isso nos mostrou a vulnerabilidade do mercado brasileiro e a necessidade de uma política par contornar essa vulnerabilidade”, diz Barbosa.

Procuradas pela reportagem, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) não retornaram os pedidos de entrevista. A Associação da Indústria de Massas e Panificação (Aimapi) informou que não vai comentar o assunto.
Source: Rural

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