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Em plena colheita da safra brasileira de amendoim, produtores e exportadores ficam mais preocupados à medida que avança a guerra entre Rússia e Ucrânia, que, nesta terça-feira, chegou a 13º dia. Os dois países respondem por 48% das exportações brasileiras do grão. E, desde o início do conflito armado e a imposição de sanções à Rússia pelo Ocidente, os embarques para os dois países foram suspensos.

“Prejuízo vai haver, não tem dúvida. O que estamos fazendo agora é levantando o tamanho do problema para poder dimensionar e saber o que pode ser feito”, explica Luiz Antônio dos Santos Vizeu, presidente da Câmara Setorial de Amendoim do Estado de São Paulo, o maior produtor e exportador do produto.

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Rússia e Ucrânia respondem por 48% das exportações brasileiras de amendoim (Foto: Abicab/Divulgação)

 

De acordo com o sistema ComexStat, do Ministério da Economia, o setor exportou em 2021 US$ 331 milhões, uma alta de 3,6% em relação a 2020, com 256.586,3 toneladas. A Rússia comprou US$ 130 milhões em amendoim do Brasil, uma alta de 10,5% em relação ao ano anterior, com uma participação de 39,2% no volume total. 

Em janeiro de 2022, foram embarcados para a Rússia US$ 12,6 milhões, com participação de 40,5% nas exportações. Nos últimos dez anos, os embarques do grão brasileiro para o mercado russo cresceram 50%. No país, o consumo do amendoim está bastante ligado à indústria de doces e confeitos. 

A Ucrânia representou 8,83% das vendas externas brasileiras de amendoim, comprando US$ 29,2 milhões no ano passado, uma alta de 52,7%. Em janeiro deste ano, importou do Brasil em amendoim US$ 1,64 milhão, participação de 5,3% nas exportações do produto.

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“O Brasil é o quinto maior produtor de amendoim do mundo. Embora não represente muito na balança comercial, é muito importante para os produtores de São Paulo”, diz Edeon Vaz Ferreira, presidente da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio do Ministério de Agricultura. No ano passado, 99,3% das exportações de amendoim foram realizadas por São Paulo.

Marcella Cunha, diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL), lembra que o amendoim foi um dos primeiros produtos movimentados nos portos a sentir o impacto da guerra. “A gente exporta pouco amendoim, mas quando exporta vai para o Leste Europeu. Sentimos logo no inicio que houve leve movimentação no início, assim como no caso do frango”, explica.

Segundo ela, os operadores logísticos seguraram a carga no Brasil logo no início do conflito. Portanto, há pouca mercadoria que possa estar parada em algum porto à espera de liberação. “Com isso, o que ocorre é que a carga de amendoim está parada no Brasil, assim como outras, e, como consequência, redução de novos pedidos aos operadores logísticos”, explica. ”Ou seja, o volume maior está parado no Brasil, aguardando novos destinos ou maior segurança e garantias para serem exportados para Rússia. Ucrânia não é uma opção neste momento, dizem os exportadores.”

A diretora-executiva da ABOL explica que os exportadores estão renegociando seus contratos e buscando novos destinos, como Reino Unido, Europa e África, ajustando às exigências sanitárias que alguns deles impõem. “Mas é fácil o produtor já redirecionar essa carga para outro país, fatalmente isso está acontecendo. O volume é pequeno e pode ser redirecionado”, afirma.

Vizeu, da Câmara Setorial, avalia que é possível, mas não é nada fácil. Segundo ele, o amendoim não é comodity e enfrenta um mercado de grande concorrência, que movimenta 3 milhões de toneladas no comércio internacional. “É lógico que o setor vai tentar colocar o amendoim em outros mercados, mas não é tão fácil assim”, explica ele, que espera que a China libere a importação direta de amendoins em grãos, comércio hoje restringido ao óleo de amendoim. “O Ministério da Agricultura está trabalhando para que haja esforços para essa liberação e já realizou todos os encaminhamentos (com as autoridades chinesas).”

São Paulo lidera produção

Segundo Vizeu, os produtores estão ansiosos enquanto realizam a colheita da safra, que vai até abril. Ele acredita que essa crise também pode prejudicar a qualidade do produto, que precisará ficar mais tempo estocado. Além do aumento no custo com armazenagem.

”É difícil especular sobre demissões. O que sabemos é que vai ter prejuízo. Algumas empresas vão sentir mais, outras menos, mas acredito que demissão é a última alternativa. Vamos aguardar que essa guerra acabe logo e o bom senso prevaleça. E que os efeitos sejam os mínimos possíveis”, diz Vizeu.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma colheita de 710 mil toneladas no Brasil. São Paulo representa 93% do volume, em municípios como Presidente Prudente, Tupã, Catanduva, Ribeirão Preto, Barretos, Marília, Assis, Lins, São José do Rio Preto e Jaboticabal. A região do município de Tupã concentra médios e grandes produtores que, em sua maioria, arrendam terras de grandes usinas de cana-de-açúcar para fazer rotação de cultura, uma vez que o amendoim ajuda na fixação de nitrogênio no solo.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Tupã, Márcio Vassoler, há até usinas que aceitam a plantação de soja, que desempenha processo análogo ao do amendoim no enriquecimento do solo, porém o amendoim produz na região até 500 sacas por hectare, quanto que a soja, 200 sacas. “O plantio de amendoim não é mais barato que a soja, mas tem maior rendimento, embora os valores de negociação sejam diferentes.”

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Para Vassoler, a guerra não vai impedir que o produtor de amendoim continue a sua plantação. Além de ser uma tradição, ele investou em máquinas e sistemas de secagem.

“Ele pode diminuir o plantio, mas não vai deixar de produzir, porque tem mercado interno para óleo de amendoim para as industrias. Se o produtor parar, ele tem uma estrutura que hoje tem um valor muito grande em maquinário e secadores. Vamos torcer para que isso passe, e que o Brasil procure novas alternativas para exportar para outros países”, diz o presidente do sindicato. Segundo ele, o produto pode ficar estocado por até um ano, limite máximo para que o amendoim não perca a qualidade.
Source: Rural

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