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Apesar dos desafios impostos pela pandemia, 2021 foi um ano de excelentes resultados para o agro nacional. Com recorde de exportações e diversificação de destinos, garantimos superávit à balança comercial brasileira e encerramos mais um ciclo como setor mais dinâmico da economia do País.

Para os cotonicultores brasileiros, a boa notícia foi a retomada da demanda interna e externa em um ritmo mais rápido e intenso do que imaginávamos. Por ficarem mais tempo em casa, as pessoas acabaram descobrindo – ou redescobrindo – o algodão, uma fibra natural, confortável e biodegradável. O consumo mundial passou de 25 milhões de toneladas por ano para 27,1 milhão, aquecendo o mercado global e elevando a cotação da pluma.

 

Ao mesmo tempo, nos deparamos com alta de 100% no custo de fertilizantes, vulnerabilidade diante de gargalos logísticos históricos em relação à disponibilidade de navios e contêineres para transportar a nossa produção e forte resistência de nossos concorrentes, com a imposição de novas condições e barreiras aos produtos brasileiros. Assim, novos desafios se impõem em 2022 e nos próximos anos.

Um dos principais, sem dúvida, é garantir o fornecimento e reduzir o custo dos insumos, essenciais para obtermos maior produtividade. Atualmente, importamos 95% do cloreto de potássio, 70% da ureia e mais da metade do fósforo que utilizamos como fertilizantes. Também é grande a dependência de fornecimento de defensivos agrícolas, que garantem a produtividade das nossas lavouras. Precisamos fortalecer a indústria nacional e, cada vez mais, buscar defensivos de origem biológica – um caminho que já vem sendo adotado pelos cotonicultores brasileiros.

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Em 2021, essa dependência externa nos expôs ao gargalo logístico global e resultou na alta generalizada de preços. Internamente, também temos nos deparado com problemas de infraestrutura, pois a velocidade de crescimento da agropecuária nacional tem sido maior do que o País consegue avançar, o que coloca a questão logística entre as preocupações do setor.

Nesse sentido, aplaudimos a recém sancionada Br do Mar, que torna mais flexíveis as regras para o afretamento de embarcações estrangeiras para transporte de mercadorias entre os portos do País, e apoiamos o Marco Legal das Ferrovias, que simplificará a participação de investidores no esforço de ampliação e modernização da malha ferroviária nacional.

Ainda no âmbito doméstico, a regularização fundiária é outra pauta prioritária para o agro nacional. A titulação de terras é extremamente burocrática e muitos produtores sequer têm a posse da área onde plantam. A nova lei, em tramitação no Senado Federal, facilitará a regularização daqueles que estão em conformidade com o Código Florestal e beneficiará famílias que, historicamente, foram incentivadas pelos governos a ocupar áreas e produzir alimentos e têm, naquela terra, o único imóvel para sua subsistência e geração de renda.

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Externamente, devemos enfrentar, com contraposição de dados, o uso de questões ambientais como barreiras comerciais, para proteção de mercados. Nenhum país possui Reserva Legal ou Áreas de Preservação Permanente como exigido pela lei brasileira. Nossa agricultura sequestra mais carbono do que emite e caminha para um modelo de neutralidade de carbono, produzimos com sustentabilidade e o mundo precisa conhecer e reconhecer o que fazemos.

Como cotonicultores, temos ainda o desafio de nos empenharmos para melhorar a qualidade do algodão brasileiro como um todo. De nada adianta boas iniciativas de alguns produtores. Temos que subir a régua e alcançar um padrão internacional de excelência. Só assim conquistaremos credibilidade, confiabilidade e maior valorização da nossa pluma no mercado internacional.

O cenário é promissor, com previsão de aumento de 13,4% na área plantada de algodão na temporada 21/22, em relação ao ciclo anterior, chegando a 1,547 milhão de hectares. A recuperação deve se refletir no crescimento de 16,5% da produção, estimada em 2,71 milhões, sendo que 65% já estão comercializados.

Podemos dizer que demos uma ótima largada na safra 21/22. As chuvas permitiram a antecipação do plantio de soja no Mato Grosso, onde é cultivado 70% da nossa fibra. Isso favorecerá a cultura do algodão, majoritariamente de segunda safra, pois teremos maior espaço para iniciar o cultivo e poderemos até aumentar um pouco mais a área plantada.

Sem dúvida, o horizonte é de oportunidades para a cotonicultura brasileira. Cabe a nós aproveitá-las para, num futuro próximo, nos tornarmos os maiores exportadores globais da fibra e, mais adiante, o Brasil assumir o posto de principal produtor de algodão do mundo.

*Júlio Cézar Busato é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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