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O Produto Interno Bruto (PIB) da Agropeuária, que mede o crescimento da produção e teve seu pior desempenho em 12 anos, com um tombo de 9% no terceiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020, pode ser novamente afetado pela estiagem prolongada em Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul e pelo excesso de chuvas em Minas Geraise na Bahia.

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O PIB do agro cresceu 2% em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que deve divulgar em março o fechamento de 2021. Estimativas de secretarias de Agricultura dos Estados afetados já apontam prejuízos de mais de R$ 45 bilhões e queda no Valor Bruto da Produção (VBP), que fechou o ano passado, segundo o Ministério da Agricultura, com R$ 1,129 trilhão, 10,1% acima do valor alcançado em 2020, mas deve crescer bem menos neste ano: 2,9%, ou R$ 1,162 trilhão.

O núcleo econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estimou em dezembro uma alta de 1,8% para o PIB da agropecuária de 2021 e de 3% para o índice em 2022, mas já está revendo o número deste ano, diante da queda de produção das culturas impactadas pelo clima adverso. Segundo Renato Conchon, coordenador do núcleo, a CNA baixou a estimativa para um crescimento de 2,4%.

“Vai haver retração porque o principal item do cálculo do IBGE é justamente a produção dentro da porteira", diz Conchon, acrescentando que a CNA, em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, calcula outro PIB, o do agronegócio, que mede a evolução da renda de toda a cadeia: setor primário (agricultura e pecuária), insumos, agroindústria e agrosserviços.

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Diferentemente do índice do IBGE, o PIB do agronegócio foi revisado pela CNA para cima: em dezembro, a previsão era de crescimento de 2,4% e agora subiu para 3% a 5%, sustentada principalmente pelo fato de alguns elos da cadeia, como fertilizantes e fretes, estarem mais elevados.

José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MBAgro, tem uma estimativa mais otimista para o PIB da agropecuária deste ano. Ele acredita em um crescimento de mais de 6%, baseado na expectativa de que a redução da primeira safra nas regiões afetadas pelo clima seja compensada pelo aumento de produtividade em outras regiões, que deve render ao país uma boa safra em volume e ainda com bons preços.

Segundo ele, a safrinha, prejudicada no ano passado pelo atraso na janela de plantio e pela seca em boa parte do país, deve ter um desempenho bem melhor neste ano. O que fica como incógnita é se as culturas de cana-de-açúcar, café e laranja, fortemente impactadas pelo clima na safra anterior, vão se recuperar.

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“A tendência, se as condições climáticas previstas se confirmarem, é de safras bem melhores. A produção de cana, por exemplo, deve crescer de 8% a 10%. Recuperando a produção eleva o PIB. Não veremos isso no início do ano, mas esperamos um crescimento muito forte a partir do segundo semestre.”

Para Conchon,embora a redução de grãos impacte o preço da ração e, consequentemente, das proteínas animais, o preço de alimentos e bebidas neste ano deve crescer bem menos que em 2020 e 2021.

“Alimentos não devem ser o grande vilão da inflação. A CNA estima que a massa de renda do brasileiro vai crescer neste ano e estimular o consumo de alimentos, mas a inflação do setor de serviços, com o avanço no combate à pandemia, deve ser bem maior que a dos produtos alimentares.”

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Hausknecht estima que feijão e hortifrútis devem ter aumento de preços no curto prazo, mas também não vê pressão inflacionária no preço dos alimentos e projeta uma oferta maior de carne bovina ao consumidor brasileiro neste ano.

Salatiel Turra, chefe do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria de Agricultura do Paraná, avalia que a renda do agricultor e pecuarista do Estado deve sofrer uma retração, porque a estiagem prolongada afetou as culturas de soja, milho e feijão e a redução de grãos ainda vai impactar o custo de produção das cadeias de frango e suínos. O prejuízo estimado já é de R$ 25,6 bilhões.

“Faltou chuva na formação de grãos, e já perdemos 39% da soja, que teve a maior área plantada da históriae representa 92% de nossa primeira safra”

Salatiel Turra

 

No Rio Grande do Sul, a estimativa também é de renda menor. A estiagem prolongada já provoca prejuízo de mais de R$20 bilhões aos produtores, valor que pode chegar a R$ 25 bilhões nas contas de Tarcisio Minetto, economista da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS). Segundo ele, só as perdas com as safras de soja e milho já somam R$ 20 bilhões. Além disso, sem pasto para os animais e com dificuldade para produzir silagem, os produtores de leite gaúchos estão deixando de recolher 1,7 milhão de litros de leite por dia. “Houve perdas acentuadas também na uva e na produção de hortifrútis no Estado”.

*publicada originalmente na edição 434 da revista Globo Rural (fevereiro/2022)

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Source: Rural

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