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O açafrão-da-terra (Cúrcuma longa), cultivado principalmente por agricultores familiares em Goiás, ganha cada vez mais espaço na medicina alternativa e na mesa do brasileiro como tempero, suco ou chá. Entre os benefícios do açafrão-da-terra estão o combate a doenças respiratórias e cardiovasculares e até no emagrecimento.

De origem asiática, o pó alaranjado é coletado da raiz da planta da família do gengibre. Diferente daquele açafrão que é considerado o temperomais caro do mundo, originário do sudeste da Europa e sudoeste da Ásia e extraído do estigma (abertura superior do pistilo por onde entra o pólen) de uma flor roxa com o uso de pinças especiais. Um único grama custa cerca de US$ 60 ou R$ 323. Já o açafrão-da-terra é vendido a partir de R$ 25 o quilo. 

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Açafrão-da-terra (Foto: Ernesto de Souza)

 

Segundo a nutricionista Simone Castelllani, pós-graduada em fitoterapia, o produto nacional tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, é rico em potássio, vitamina B6, vitamina C, podendo ser usado para o combate aos radicais livres, doenças respiratórias e cardiovasculares, na prevenção do envelhecimento e até no emagrecimento. “No caso das doenças autoimunes, não há consenso sobre o uso do produto porque há estudos que apontam benefícios na recuperação, mas há outros que indicam o contrário”, diz ela.

Simone afirma que o ideal é comprar a raiz seca em feiras orgânicas e triturar, já que o pó vendido em supermercados muitas vezes é misturado com fubá. A nutricionista recomenda que o uso do açafrão-da-terra, também chamado de cúrcuma, seja limitado a dez gramas por dia para evitar alergias de pele e complicações, como rinite.

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“O açafrão é um ótimo ingrediente para o preparo do antigo chazinho da vovó no combate às doenças respiratórias.” A receita de Castellani para uma xícara do chazinho que deve ser consumido preferencialmente à noite, antes de dormir, é simples: ferva duas xícaras de água com cinco rodelinhas finas de açafrão por dez minutos; coe e tome. 

No ano passado, pesquisadores da Embrapa, USP de São Carlos e Universidade Federal de São Carlos (UFScar) anunciaram em artigo científico a criação de um curativo biodegradável à base de nanofibra e composto extraído do açafrão-da-terra. O pesquisador Daniel Souza Correa, da Embrapa, diz que, atualmente, o grupo busca parceiros para avançar no desenvolvimento da tecnologia.

Capital nacional

O Estado de Goiás é o maior produtor de açafrão-da-terra, com cerca de 80% do volume. Mara Rosa, município goiano de aproximadamente 9.200 habitantes a cerca de 350 km de Goiânia, é considerada a capital nacional da cultura, com produção de cerca de 800 toneladas secas por ano. A cúrcuma foi introduzida na região pelos bandeirantes que usavam a planta para demarcar locais em que encontravam ouro. 

Enivaldo Rodrigues dos Santos, presidente da Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão), que reúne cerca de 45 dos 300 produtores da região (inclui Amaralina, Formoso e Estrela do Norte), diz que a economia da região se baseia no plantio de soja e de açafrão e na criação de gado, mas é a especiaria que emprega mais pessoas e garante renda aos agricultores familiares. A maioria tem área plantada inferior a 2 hectares, mas há cinco propriedades maiores que chegam a 30 hectares.

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Produtor de açafrão há 15 anos, ele diz que a cultura é bem rentável, mas demanda muito trabalho. “Neste ano, estou colocando todos os gastos no papel para saber exatamente quais são os custos de produção, mas estimo que a rentabilidade seja por volta de 30%.” Em suas contas, um hectare rende aproximadamente 2.500 kg, o equivalente a R$ 25 mil.

Neste ano, Santos reduziu em 50% sua área plantada por falta de mão-de-obra. “É uma lavoura que dá muito trabalho e tudo é manual, no enxadão. No ano passado, precisei de 35 pessoas para colher o açafrão em quatro meses e, mesmo assim, não demos conta de colher tudo.”

O bioquímico da cooperativa, Nilo José da Silva, conta que se mudou para Mara Rosa há 15 anos e, seis anos depois, se tornou também produtor de açafrão. “Comecei a estudar a cultura e foi paixão quase à primeira vista. O clima quente desta região é propício para o cultivo de açafrão, como solo rico em fósforo e ph favorável.”

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Além de plantar 5 hectares da especiaria, ele cultiva 10 hectares de milho. Estima o custo de produção do açafrão em R$ 5 mil por hectare, contando o arrendamento da terra, já que a cultura exige renovação e terra nova a cada dois ou três anos. Ele conta que o produto não tem doenças, mas pode chegar contaminado no beneficiamento por manejos errados na propriedade. Além da cooperativa, três agroindústrias beneficiam o cúrcuma em Mara Rosa e há processamento também em algumas propriedades. Após secar, o produto é cozido e comercializado in natura como pó ou raiz.

Com ciclo de 18 meses, o açafrão-da-terra é plantado de outubro a dezembro e colhido a partir de junho. Segundo Silva, a expectativa é colher uma boa safra neste ano, já que as chuvas ajudaram. Os produtores têm assistência técnica da Emater, da prefeitura e de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás.

Em 2016, o açafrão da região foi o primeiro do país a obter o selo de Indicação Geográfica (IG), junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A indicação de procedência reconhece o produto pela sua origem, características e qualidade exclusiva a área delimitada.

A cooperativa abastece os mercados de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Bahia, mas o maior volume vai para indústrias da capital paulista, que processam o açafrão como base para medicamentos, temperos, tintas, produtos cosméticos (sabonete, pasta de dente) e até cachaça. Nos dois últimos anos, a cooperativa também exportou uma pequena parte para Israel.

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Source: Rural

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