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Aos 38 anos, com 20 anos de carreira, o paranaense Wagner José Miqueline, o Péssimo, está realizando um sonho de menino: trabalhar nas arenas da Professional Bulls Rider (PBR) nos Estados Unidos. Conhecido no circuito pelo apelido Péssimo, ele estreou há uma semana em Portland como bullfighter (salva-vidas) de rodeio, na terceira etapa da Velocity Tour, divisão de acesso da PBR. Neste final de semana (22 e 23 de janeiro), com o nome Péssimo estampado nas costas de seu traje, ele vai trabalhar ao lado de um americano e um canadense na etapa de Greenville, na Carolina do Sul, após uma viagem de carro de 15 horas.

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Wagner José Miqueline, o Péssimo, realiza sonho de ser salva-vidas de rodeio na PBR (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal )

 

De onde vem esse nome tão original, que causou estranheza também entre os colegas americanos e que hoje ele carrega com tanto orgulho? “Eu sempre trabalhei com gado e morei em fazendas. Aí veio a vontade de montar bois. Treinava todos os domingos em um arena em Birigui (SP), que atraía muita gente. Um dia, montei seis bois e foram seis tombos diferentes. Meu tio Jorge que estava assistindo gritou: ‘Wagner, você é péssimo, não para em nenhum boi’. Os amigos ouviram e o apelido pegou.”

Péssimo conta que o sonho original aos 15 anos era ser peão de rodeio, mas depois de tantos tombos e dificuldades para obter convites para disputar eventos no Brasil, ele contou com a ajuda de um padrinho para descobrir sua real vocação: ser um anjo das arenas, ou seja socorrer os peões para evitar que eles fossem feridos pelos touros após cair ou pular das montarias. A estreia como salva-vidas profissional foi em 2001, em Ipuã (SP). Em 2006, foi convidado por Emílio Carlos dos Santos, o Cacá, diretor da Festa do Peão de Barretos para trabalhar no rodeio mais famoso do país.

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“No meu primeiro trabalho em Barretos, tirei um caubói de uma situação de perigo e o Cacá, que atuava como locutor, disse ao microfone: ‘O apelido é Péssimo, mas o cara é ótimo no seu trabalho’.” A participação em Barretos abriu as portas para novos trabalhos, incluindo o campeonato da PBR Brazil, e ele passou a fazer 40 rodeios por ano.

Em 2020, depois de ter o visto negado duas vezes, ele foi em busca de realizar o sonho de ser bem-sucedido nos Estados Unidos. “Cheguei em janeiro e em março fechou tudo por causa da pandemia. Ninguém entrava ou saía do país. Eu estava morando na casa do meu amigo José Vitor Leme (bicampeão da PBR) e fiquei desesperado, mas ele me tranquilizou e disse para eu ir ficando e me tentando me adaptar à cultura dos americanos. Participei de vários eventos e no final do ano passado veio o sonhado convite para trabalhar na Velocity Tour.”

Anjo de Arena ajuda a proteger os participantes do rodeio (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal )

 

Contratado para atuar em pelo menos sete eventos da PBR, Péssimo já sonha mais alto: quer trabalhar em uma final mundial, seguindo os passos de Lucas Belli Teodoro, o Gauchinho, primeiro brasileiro a trabalhar como salva-vidas na PBR na Unleash the Leash, a primeira divisão do Mundial. “Gauchinho, com quem trabalhei em muitos rodeios no Brasil, é o Adriano Moraes dos salva vidas”, diz, fazendo uma analogia com o peão tricampeão mundial que abriu as portas para os colegas brasileiros nos Estados Unidos.

Na Velocity Tour, Péssimo ganha US$ 2 mil por dia trabalhado, enquanto no Brasil recebia cerca de R$ 2 mil por evento. Um dos desafios é dominar o inglês. “No começo, foi muito difícil. Agora não sou fluente, mas já sei me virar bem.” O salva-vidas mora no campo em Springtown, cidade que fica a uma hora de distância de Decatur, onde vivem Gauchinho e a maioria dos peões brasileiros, frequenta academia diariamente e faz sua própria comida.

Perguntado se pensa em aposentadoria, Péssimo responde rápido que não. “Tenho 38 anos mas a vontade é de uma garoto de 15 anos.” O salva-vidas diz que não bebe, não fuma, dorme bem e que pensa em trabalhar nas arenas até onde o corpo aguentar e o coração mandar. Mesmo com o risco do seu trabalho, ele conta que, "graças a Deus", nunca teve uma lesão séria. Nos 20 anos de carreira, quebrou o dedão da mão direita uma vez e, em Jaguariúna, em 2012, perdeu quatro dentes da frente. “Fui socorrer um peão e o touro me deu uma chifrada que arrancou os quatro ‘atacantes’. Fui para o hospital, mas voltei a trabalhar no dia seguinte e só depois fui fazer implantes."

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Casado e pai de uma menina de 13 anos e um garoto de 5 anos, Péssimo não vê a hora de rever a família que mora em Buritama (SP), de onde saiu há dois anos. Seu plano é acertar a documentação e levar a família para os Estados Unidos, embora tenha muita saudade da vida no Brasil. “Sempre morei na zona rural, mas a vida no rancho aqui nos EUA é muito diferente. Não dá para andar a cavalo, colher uma goiaba ou pescar uma traíra e fritar na beira do rio como eu fazia na minha terra. Não dá para matar um frango e fazer com polenta, beber um leite de madrugada direto da vaca ou escutar o galo cantar…” Mas, a alegria de ver seu sonho realizado, diz, supera tudo isso.

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Source: Rural

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