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As lavouras não são espacialmente uniformes, o que oferece oportunidades para se lidar com essa variabilidade em busca da otimização de cada pequeno espaço e são várias as estratégias possíveis. O tema tem sido revisitado, mas somente passou a gerar algum impacto quando uma série de fatos convergiram para que fosse possível materializar e visualizar essas manchas no campo.

No final dos anos 1980, com o surgimento do sinal de GPS, de uma série de inovações na indústria de máquinas e de iniciativas da academia, o tema retornou à pauta, especialmente na América do Norte e Europa. Em poucos anos formou-se uma comunidade no seu entorno e na década de 1990, depois de várias tentativas de se atribuir um nome, naturalmente surgiu a Agricultura de Precisão (AP), que nada mais é do que fazer agricultura errando menos, ao não tratar as lavouras como uniformes.

 

Desde o início, a indústria, especialmente a de máquinas, teve muito protagonismo nesse movimento. Grande parte das tecnologias embarcadas nas máquinas a partir de então, passou a ser vinculada à AP, ao ponto de gerar confusão aos entrantes na comunidade. Essa fase já foi superada e hoje, sempre que nos referimos à AP, estamos contemplando formas de lidar com o errar menos para otimizar os recursos e insumos.

Na agricultura mecanizada, isso só é possível com equipamentos tecnologicamente apropriados. Mas existe, e em grande quantidade, a agricultura de pequena escala e não mecanizada. Nesse caso, a meta de errar menos precisa ser trabalhada muito mais com o domínio das técnicas do que das tecnologias.

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No Brasil, as primeiras inserções são de 1995, com a aparição de equipamentos em feiras. Atividades, ainda muito esparsas, datam de 1998, com a importação de equipamentos e de um modelo comercial de serviços, que se consolidaria a partir do início da década de 2000, com o surgimento das consultorias e serviços, estabelecendo-se assim um modelo local de negócios de AP. Esse processo aconteceu com forte contribuição da pesquisa, indústria e organizações de produtores, especialmente do setor cooperativo. Com base nisso, pode-se estabelecer que a AP por aqui, está apenas chegando à maioridade.

Alguns eventos foram acontecendo e naturalmente a comunidade foi se formando e se consolidando. Em 2004, esses eventos convergem para o que passaria a ser o ConBAP (Congresso Brasileiro de AP), desde o início com forte presença da academia, indústria e do setor produtivo. Nos anos que se seguiram o mercado se consolidou com as máquinas e as tecnologias nelas embarcadas e com o setor de serviços focado nas práticas de correção e adubação dos solos com mais precisão.

Mas os desafios são muito maiores e passou-se a lidar com a variabilidade da ocorrência de pragas, doenças e plantas invasoras, com possibilidade de alterar protocolos ao longo da lavoura, por exemplo alterando a população de plantas em função dessa diversidade de condições. Com isso, obviamente surgem novas demandas tecnológicas e paralelamente o agro descobre as potencialidades do mundo digital e abrem-se inúmeras oportunidades.

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Só é possível lidar com a variabilidade das lavouras se existirem bons e abundantes dados do seu histórico, o que gera a necessidade de sensoriamento mais intenso, tanto das culturas quanto do solo. Grandes conjuntos de dados somente são trabalhados com técnicas mais avançadas, o que traz para o agro uma quantidade de novos perfis profissionais. A automação dos processos de diagnósticos e de recomendações só se dá com soluções que ainda são um desejo.

Mesmo no item mais popular da AP – de tratar a variabilidade da fertilidade do solo – ainda precisamos aprofundar para avançar e colher resultados mais contundentes, que se resumem em otimizar a produtividade com a melhor disposição possível para os insumos nas lavouras. Ainda estamos em busca da abordagem com a máxima sustentabilidade. A precisão desejada ainda não está sendo atingida na maioria das áreas, por uma série de limitações conceituais e técnicas que somente serão superadas com mais empenho na busca pela maior precisão em todas as etapas do processo de produção.

Nesse contexto, em 2016 foi criada a AsBraAP (Associação Brasileira de AP), com a missão de congregar a comunidade (pessoas e empresas) e uma dessas tarefas naturalmente herdadas, de seguir organizando os ConBAP. Veio a pandemia e como no resto no mundo, os encontros e eventos cessaram. É hora de retomar e o ConBAP, cancelado em 2020, que acontecerá entre 09 e 11 de agosto de 2022, em Campinas, SP.

*José Paulo Molin é professor da Esalq/USP, ex-presidente e sócio fundador da AsBraAP (Associação Brasileira de Agricultura de Precisão)

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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