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Porcos sendo levados pelas águas, cinturão verde com várias lavouras inundadas, pés de café desbarrancando, ranchos inundados e estradas rurais sem condições de tráfego, impactando o transporte de leite, ração e insumos. Esse é o retrato de algumas regiões mineiras impactadas por chuvas torrenciais nos últimos dez dias, em Minas Gerais.

Em Pará de Minas, região centro-oeste do Estado, o produtor de suínos Cássio Eglen Dinis Alves estima ter perdido no final de semana 600 dos 1.300 suínos que já estavam quase prontos para o abate. Os animais de 70 a 150 dias e mais de 80 kg estavam no galpão de terminação, invadido no domingo (9/1) pelas águas que transbordaram do rio São João.

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Agropecuária Três Irmãos, em Pará de Minas (Foto: Reprodução/Cássio Alves)

 

“O volume subiu muito em duas horas e carregou os porcos. Conseguimos salvar uma parte nadando e os que restaram já estão há 40 horas sem ração. Nunca vimos tanta água assim aqui na região”, disse Alves, dono da Agropecuária Três Irmãos, que estima um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão. Ele e os irmãos André e Evaristo têm outras duas granjas de suínos, além de bovinos e avicultura de corte, que não foram atingidos.

Nesta segunda (10/1), Cássio passou o dia negociando com frigoríficos o abate antecipado dos porcos salvos no galpão de terminação, por falta de outro local para abrigar os animais. “E, para ajudar, ainda vamos pegar o preço mais baixo do suíno dos últimos seis meses. Enquanto o custo de produção está em R$ 6,90, a bolsa está pagando apenas R$ 5,50, mas temos que vender para não ter um prejuízo ainda maior.”

Eugenio Diniz, presidente do Sindicato Rural de Pará de Minas, diz que além dos prejuízos com suínos, houve danos pontuais para as criações de aves com mortes de frangos por frio, mas ainda não dá para mensurar. “Chove há dez dias sem parar. As estradas estão interditadas e não chega caminhão com ração para os frangos da região, que já foi a capital brasileira da avicultura e hoje ainda é a maior produtora de frangos do Estado.”

Sem conseguir passar, produtores de Minas jogam leite fora na estrada (Foto: Reprodução/PECUÁRIA MG)

 

Criador de gado de leite, ele conta que, como muitos outros produtores, está precisando improvisar para alimentar suas 130 cabeças porque o trator não anda e não dá para retirar a comida dos silos para levar até os cochos. “Além disso, o caminhão de leite ainda não veio e não sei se conseguirá passar pela estrada.” A Prefeitura de Pará de Minas está alertando os veículos de transporte de carga, leite, animais e sementes da possibilidade de tombamento nas vicinais da região.

Uma das propriedades do ex-governador mineiro Newton Cardoso, em Pitangui, também na região centro-oeste, foi inundada no domingo. A sede do rancho que é usado para descanso por Cardoso foi a mais atingida, com perdas de móveis. Segundo o administrador das fazendas do político, não houve grandes prejuízos porque a equipe conseguiu levar o rebanho, formado por 120 cabeças de gado de elite, para locais mais altos. “Perdemos piquetes e bebedouros, mas o estrago foi mínimo porque agimos rápido quando a água começou a subir.”

Os agricultores também contam as perdas na região da Zona da Mata Mineira, leste do Estado, grande produtora de café. Luis Carlos Vinhas, cafeicultor em São Sebastião de Anta, região montanhosa, calcula que perdeu de 3 mil a 4 mil pés de café na fazenda de 60 hectares, o que corresponde a cerca de um terço da sua produção anual. “A lavoura que estava pronta para colher desceu das partes mais altas carregando tudo”, diz o agricultor de 54 anos que é da terceira geração de café da família. Segundo ele, muitos produtores vizinhos também viram suas lavouras desmoronando. “Não temos mais carreadores e a estrada vicinal também está fechada. Nunca vi tanta chuva em tão pouco tempo.”

Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), diz que a chuva é benéfica para todas as culturas agrícolas, mas se torna um problema com o excesso. “Muitas plantas de café já estavam fragilizadas pelas condições climáticas de déficit hídrico de dois anos e altas temperaturas. Agora, com o encharcamento dos solos na região de montanhas onde a cafeicultura se concentra, os solos desmoronaram.”

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A especialista conta que já recebeu relatos de algumas doenças, como o phoma e a ascochita, pelo excesso de umidade e baixa temperatura no café.

O presidente da Faemg, Antonio Pitangui de Salvo, diz que é cedo para mensurar prejuízos no Estado porque a chuva continua. Segundo ele, em dezembro, os agricultores do Vale do Jequitinhonha, norte de Minas e de Mucuri já tinham sido bem impactados pelas chuvas. De Salvo conta que, desde o início do ano, as chuvas torrenciais estão se concentrando na zona central do Estado, com grande prejuízo no cinturão verde de Belo Horizonte, que abastece a capital e várias regiões do Estado.

“Com a inundação do cinturão, podem faltar produtos da horticultura e ter aumento de preços no curto prazo, mas, se as chuvas diminuírem como está previsto a partir da próxima quinta-feira, a recuperação deve ser rápida porque são produtos de ciclo curto”, pondera.

Segundo o dirigente, que tem uma propriedade de grãos em Curvelo e não sofreu prejuízos, os impactos na suinocultura, avicultura, café e pecuária de leite do Estado também terão que ser levantados, mas já houve casos de produtores jogando leite fora na região do Mucuri.

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“Diferentemente da pecuária de corte, o produtor de leite não pode deixar para ordenhar seus animais depois. As vacas têm que ser ordenhadas todos os dias e, quando o tanque do produtor estiver cheio, ele só tem a opção de jogar o leite fora.” No caso dos frangos, o problema maior é a falta de ração com os acessos às fazendas interrompidos, lembra ele. Embora o produtor tenha geralmente estoque de ração para cinco dias, se a chuva continuar, casos de canibalismo entre os frangos podem ser registrados.

Fazenda de café desmoronou em São Sebastião do Antão, na Zona da Mata (Foto: Luis Vinhas)

 

O dirigente pondera que a produção de café de Minas já foi altamente prejudicada pelo estresse hídrico de quatro meses no ano passado e as geadas. Agora, o volume de chuvas no ano agrícola que começa em outubro já passa de 1.500 mm, mais que o dobro da média.

“Não dá para culpar o clima porque isso é cíclico, mas, infelizmente, muitos produtores vão perder suas lavouras e criações por causa da não infiltração de águas das chuvas nos grandes centros urbanos. Os rios se enchem, inundam tudo e fecham as nossas estradas.”

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), nos últimos dias as chuvas ganharam ainda mais intensidade com a formação de uma nova Zona de Convergência do Atlântico Sul. O órgão mantém estado de alerta para chuvas fortes na região metropolitana de Belo Horizonte e na Zona da Mata Mineira. Em algumas áreas de Minas, o volume acumulado neste ano já passa de 400 mm, segundo dados do Inmet.

Em Pará de Minas, onde o produtor teve seus porcos arrastados pela chuva, a Defesa Civil, a Prefeitura e a empresa Santanense, responsável pela usina hidrelétrica do Carioca, emitiram alerta de risco de rompimento da barragem da usina no domingo (9). A determinação é que moradores que vivem nas proximidades do rio São João, abaixo da barragem, deixem suas casas. A empresa identificou avarias na estrutura, devido ao grande volume de chuvas. 

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Source: Rural

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