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A nossa sociedade consome, atualmente, uma grande diversidade de produtos de árvores nativas brasileiras, e em grandes quantidades. Estamos falando de madeira tropical para os mais diversos usos, castanhas, óleos vegetais, frutos, compostos naturais para as indústrias farmacêutica, cosmética e alimentícia, fibras, alimentos processados, rações, proteínas e outros.

Já há conhecimento, expertise e exemplos no Brasil de como atender essa demanda com competitividade econômica e benefícios ambientais. Em todo o país, produtores rurais, empresários e empreendedores apostam em sistemas produtivos inovadores, como a silvicultura de espécies nativas, os sistemas agroflorestais e a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF).

 

A silvicultura de espécies nativas pode atender à demanda por produtos madeireiros e não madeireiros com grande eficiência no uso da terra. São produtos que, por serem provenientes de reflorestamento e manejo sustentável de florestas nativas plantadas, tornam-se uma alternativa ao consumo dos produtos de exploração de florestas na Amazônia, pois podem fornecer madeira com competitividade e benefícios socioambientais.

A eficiência no uso da terra se dará à medida que os milhões de hectares de áreas degradadas são reflorestados com esses sistemas produtivos. A cadeia produtiva de madeira tropical se destaca pelo seu potencial de crescer sobre essas áreas. Estima-se que as áreas plantadas com espécies madeireiras nativas podem ocupar mais de 1,4 milhão de hectares hoje degradados, conciliando a recuperação de serviços ambientais com a produção dos produtos comerciais.

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Modelos produtivos como os sistemas agroflorestais e a integração lavoura-pecuária-floresta também são cruciais para responder à demanda por produtos madeireiros e não madeireiros. São diversas as cadeias produtivas atendidas por estes sistemas, entre elas as de chocolate, erva-mate, palmito, pinhão, café, mandioca e óleos vegetais, além das espécies exóticas tradicionais que se consorciam no sistema, como banana, eucalipto, grãos e proteína animal.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, em conjunto com o WRI Brasil e mais de 30 instituições parceiras, levantou alguns desses casos inovadores em uma publicação que traz conhecimento sobre o cultivo de árvores nativas para fins produtivos e comerciais. O estudo “Reflorestamento com Espécies Nativas: Estudo de Casos, Viabilidade Econômica e Benefícios Ambientais” mostra que a silvicultura de nativas, sistemas agroflorestais e sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta são viáveis economicamente.

A análise mostra que 32 dos 40 casos estudados tiveram uma taxa de retorno sobre o investimento em um intervalo entre 9,5% e 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%. Isso significa que, para cada R$ 1.000 investidos nesses modelos com espécies nativas, o retorno mediano seria de R$ 81.519 após 30 anos.

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Os modelos apresentados são bastante diversos, atendendo perfis de pequenos e médios produtores. Um dos exemplos analisados é o da Futuro Florestal, que apresentou dois modelos implantados entre 2009 e 2010, consorciando espécies madeireiras nativas e exóticas com culturas agrícolas consolidadas na região, sendo um modelo com café e outro com palmito pupunha, que geram renda no curto e médio prazo até que a madeira esteja pronta para a colheita.

O que falta para que esses arranjos econômicos se espalhem pelo país, criando uma verdadeira economia florestal sustentável? Alguns fatores podem aumentar a competitividade da silvicultura de nativas, como investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de árvores nativas, um processo regulatório mais simplificado e o estabelecimento de mercados consumidores preocupados com produtos aderentes às normas e com impacto socioambiental positivo. Vantagens logísticas de plantios mais próximos às regiões consumidoras, maior eficiência na conversão de toras e aproveitamento de subprodutos e uma economia de escala de produtos mais homogêneos também são fatores que podem ajudar a impulsionar esses modelos.

Mesmo hoje, em que essas lacunas ainda existem, a competitividade econômica da silvicultura de nativas, sistemas agroflorestais e sistemas iLPF é expressiva quando comparada às alternativas usuais na agropecuária e no setor florestal tradicional. Com inovação, empreendedorismo no campo e sustentabilidade, o reflorestamento com espécies nativas para fins econômicos pode transformar a economia brasileira, gerando emprego e renda, ao mesmo tempo que recupera milhões de hectares de áreas degradadas em todo o país.

*Daniel Soares é analista de investimento do WRI Brasil e membro da Força-Tarefa Silvicultura de Nativas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e Rodrigo Ciriello é diretor comercial da Futuro Florestal e colíder da Força-Tarefa Silvicultura de Nativas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

**as ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da revista Globo Rural
Source: Rural

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