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Vários focos de incêndio no início de setembro estão tirando o sono do produtor rural no interior paulista, que já vinha enfrentando os prejuízos da seca prolongada de dois anos e das geadas de julho e agosto.

Na última quinta-feira (9/9), mais de sete focos de fogo atingiram áreas de duas usinas sucroalcooleiras, canaviais, cafezais e mata nativa na região de Batatais. O fogo causou interdições na rodovia Cândido Portinari e chegou bem perto da área urbana, provocando desespero na população, que nunca tinha visto labaredas tão grandes e tanta destruição.

Incêndio na fazenda do Instituto de Zootecnia em Sertãozinho (Foto: Divulgação)

 

No dia anterior, um incêndio que vinha rondando há três dias a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, se tornou incontrolável, entrou na fazenda, queimou mais de 800 hectares de pastagem e reserva e matou 32 bezerras de uma pesquisa de melhoramento genético da raça Canchim, desenvolvida pela própria Embrapa.

No mesmo dia, a fazenda do Instituto de Zootecnia (IZ) de Sertãozinho, ligado à Secretaria Estadual da Agricultura, começou a queimar e, até esta sexta (10/9), ainda havia focos de incêndio sendo combatidos na área. No domingo (5/9), os prejuízos foram na sede do IZ em Nova Odessa, que perdeu 300 de seus 870 hectares de área de pastagem e canavial para o fogo.

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Houve prejuízos também em áreas de cana-de-açúcar nas regiões de Matão, Jaboticabal, Araraquara e Taquaritinga.

“Passei a noite tentando apagar focos de incêndio em minha fazenda. Conseguimos controlar, mas o fogo queimou quase tudo. Cerca de 90% dos 110 hectares da propriedade queimaram, com prejuízos maiores para as lavouras de café, onde havia plantas de até 15 anos, e para as palhadas da cana. O fogo só não atingiu o aviário, onde tenho criação de frangos", diz André Scavazza Bianco, produtor rural e presidente do sindicato da categoria em Sertãozinho, que teve que evacuar sua fazenda e, nesta sexta, (10/9) permanecia no campo com os funcionários apagando pequenos focos e contando os prejuízo

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Ele estima que de 70% a 80% dos 800 agricultores da região tiveram prejuízos com o fogo, que chegou às plantações de todos os lados.

“O fogo estava caminhando há alguns dias vindo de Ribeirão Preto e Jardinópolis. O vento, a estiagem prolongada, a baixa umidade e as plantações e matas queimadas pelas duas geadas deste ano foram combustível para o fogo que chegou a Batatais e causou muita destruição. Sou da terceira geração de produtores rurais da minha família e nunca vimos nada igual.”

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Bianco, que tinha 170 mil pés de café, diz que vai ter que erradicar a maioria e ficar sem safra no próximo ano. Segundo o advogado do sindicato, Rodrigo Barros Benedini, isso deve acontecer com boa parte dos produtores da região, a maioria (80%) formada por pequenos agricultores de café e cana com área de até 40 hectares.

“Hoje, atendi um produtor familiar de tomate cereja orgânico que perdeu para o fogo a estufa que lhe custou R$ 120 mil, financiados no Banco do Brasil. Ele não tem seguro e não sabe como vai alimentar sua família agora”, diz o advogado, acrescentando que os produtores ainda terão pela frente intimações do Ministério Público para explicar as perdas de área de reserva legal.

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Usinas em chamas

O presidente do sindicato destaca que a situação teria sido pior se os produtores não tivessem recebido a ajuda providencial das brigadas de incêndio da usina Batatais, que trabalharam o dia todo também para não deixar o fogo atingir as instalações industriais da usina. Indústria e escritórios foram evacuados na quinta e permaneceram fechados nesta sexta.

Globo Rural tentou falar com os diretores da usina para saber a extensão dos prejuízos, mas só obteve uma nota da assessoria de imprensa informando que os focos de fogo de origem desconhecida atingiram os limites da unidade industrial, mas não houve danos à indústria ou aos colaboradores e as atividades “serão retomadas em breve”.

Vídeo mostra fogo em usina Batatais

 

Também houve danos nos canaviais da Central Energética Vale do Sapucaí Ltda. (Cevasa), usina de Patrocínio Paulista, cujo processo de aquisição pela Usina de Batatais foi concluído em julho, após aprovação do Conselho de Administração de Defesa Econômica (Cade).

Equipes de bombeiros civis de Batatais também ajudaram a evacuar famílias e animais que foram isolados pelo fogo e fumaça em pequenas propriedades rurais da região. “Resgatamos algumas famílias, mas muitos animais silvestres morreram queimados. Nossa preocupação agora é não deixar que os focos restantes cheguem à reserva florestal do Horto de Batatais”, disse o bombeiro civil Anderson Silva.

Caminhão do produtor Azael Pizolato que foi queimado em Matão (Foto: Arquivo pessoal)

 

 

Azael Pizolato, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-SP) e dono da Ipê Agrícola, que tem quatro unidades de produção distribuídas pelo Estado, sendo 4.000 hectares de cana e mais 2.000 hectares de soja e milho, diz que há dias não dorme porque sua rotina e a dos funcionários é somente apagar fogo.

“Estamos tendo muitos prejuízos financeiros e agronômicos, com perdas de R$ 1.500 por hectare de herbicidas e adubos que aplicamos nas áreas de palhada, que estão pegando fogo. Em Matão, o fogo quase atingiu as casas e currais. Muito prejuízo mental e de saúde, pois a situação está insuportável”, diz Pizzolato, que perdeu um caminhão-pipa de R$ 600 mil para o fogo.

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Segundo ele, os incêndios começaram em agosto e se intensificaram nesta semana, especialmente em Jaboticabal e Taquaritinga. "Após seca e três geadas, as áreas de palhada e também de APPs (Áreas de Preservação Permanente), que geralmente eram verdes e ofereciam barreiras para o fogo, estão muito secas. Com vento e calor, uma faísca queima tudo."

Pizolato afirma que 90% dos incêndios são criminosos e ainda sujeitam os produtores a multas ambientais. “Arriscamos nossa vida e nosso patrimônio em defesa do meio ambiente e ainda ficamos expostos a autuações ambientais absurdas.”

Campos queimados na Embrapa Pecuária (Foto: Gisele Rosso/Embrapa)

 

Animais mortos

Alexandre Berndt, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, disse que a equipe estava lidando com o fogo nas cercanias da fazenda de 2.600 hectares desde domingo. Na quarta, quando o dia estava muito seco, quente e com vento forte, o fogo pulou para a fazenda e ficou incontrolável.

“Vi uma faísca pular cem metros e atingir nosso pasto. A prioridade foi resgatar as pessoas e os animais, mas não conseguimos salvar 32 bezerras de um rebanho de 1.874 que mantemos na fazenda.”

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Os animais que morreram tinham um ano e eram da raça de corte Canchim, mesmo nome da fazenda ocupada pela unidade de pesquisa desde 1975. A brigada de incêndio da Embrapa teve auxílio de vizinhos, da usina Raízen, de empresas e de bombeiros e Defesa Civil de Sertãozinho.

“Foi o pior incêndio, sem dúvida, nos 46 anos de Embrapa Pecuária Sudeste”, diz Berndt, que dirige uma equipe de 40 pesquisadores e 100 funcionários e espera ajuda de entidades e parceiros para o plano de reconstrução da unidade, que tem como prioridade refazer o perímetro de cercas da fazenda e os piquetes. Segundo ele, os prejuízos ainda não foram calculados, mas são muito grandes.

Focos de incêndio em fazenda da Embrapa Pecuária Sudeste (Foto: Divulgação)

 

Em Sertãozinho, na unidade de pesquisa do Instituto de Zootecnia, o fogo começou por volta de 13h na quarta e só foi controlado às 22h30. Segundo o diretor-geral, Enilson Geraldo Ribeiro, ainda não é possível dimensionar o total de área atingida e nem as causas do incêndio.

Não houve perda de instalações ou de animais, que foram manejados para outra área segura. A fazenda tem 2 mil hectares e 2 mil cabeças de gado. Nota da Secretaria da Agricultura informou que nunca houve um incêndio de tamanha proporção na unidade, que fica às margens da rodovia Carlos Tonani, que permaneceu interditada até a noite devido à fumaça.

Vídeo registra fogo no Instituto de Zootecnia

 

Em Nova Odessa, o fogo atingiu pastagem e áreas de canavial do IZ e se prolongou até segunda-feira (6/9), mas não houve perdas de animais ou de material de pesquisa, de acordo com a assessoria de imprensa.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram um grande aumento de focos de incêndio no Estado em agosto, passando de 1.111 no ano passado para 2.277 este ano. Em setembro, os focos já somam 920 em nove dias ante os 2.254 dos 30 dias do mesmo mês de 2020.

Em todo o ano passado, foram 6.123 focos e neste ano o total já chega a 4.549. Segundo o Corpo de Bombeiros, na região de Ribeirão Preto, foram registrados mais de 50 focos só nesta semana.

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Source: Rural

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