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O Cerrado brasileiro é conhecido pela sua potência na produção de soja, milho e feijão. Por ser uma região quente em boa parte do ano, é propícia para o cultivo de diferentes culturas, além de coberturas de solo.

Mas não é só de soja, milho e feijão que vive a terra do Centro-Oeste. Há 15 anos, com o desenvolvimento da cultivar de trigo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a cultura começou a ser uma opção lucrativa e as lavouras do cereal vem crescendo a cada safra.

 

O cultivo do trigo no Cerrado começou de forma irrigada, o que garante uma alta produtividade. Na safra atual, a região Centro-Oeste aumentou a área para 161,9 mil hectares (ha), com uma produtividade estimada de 2,6 toneladas (ton), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas o plantio em áreas de sequeiro vem sendo a aposta dos últimos anos.

O trigo chegou à região por influência dos produtores de Minas Gerais, onde o cereal passou a ser uma alternativa de renda na safrinha. No Centro-Oeste, a cultura se encaixou, graças ao exemplo dos produtores mineiros.

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O sorgo, que antes era plantado no centro do Brasil, deu espaço para o trigo, que além de gerar uma nova receita, trouxe inúmeros benefícios aos produtores. O cereal virou mais uma opção na rotação de culturas, entrando depois do término da janela de plantio do milho safrinha. Assim, o produtor não precisa deixar áreas descobertas durante o inverno, pois tem a opção do grão.

No Cerrado, o trigo traz vantagens indiretas para soja, milho e feijão. Como produtor, até brinco que "para colher uma boa soja, tem que plantar trigo". Por ser rico em fósforo e potássio, serve de adubo para a terra e melhora a qualidade do solo, auxiliando no aumento dos níveis de matéria orgânica.

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E os benefícios de plantar a cultura na safrinha vão muito além. O cereal melhora o desempenho da lavoura seguinte, quebrando o ciclo das doenças de solo que atacam a soja como, por exemplo, a rizoctonia. Além disso, melhora o controle de ervas daninhas e reduz multiplicação dos nematoides. A produtividade da soja após o cultivo do cereal aumenta entre cinco a oito sacas por hectare.

Há três safras, aposto no trigo como protagonista da produtividade da minha lavoura e como ferramenta para incrementar o meu ganho. No primeiro plantio, foram 300 hectares. Na época, ele não teve uma boa performance por causa do clima. Já no segundo ano, apostei em 1.100 hectares e deu certo. A produtividade do cereal subiu, pois foi um ano sem muitas chuvas, mas com frio. O preço para comercialização também melhorou, acompanhando as commodities.

O trigo safrinha é uma oportunidade para o Brasil acabar com a dependência do cereal de outros países

Hélio Dal Bello

Neste ano, foram 900 hectares dedicados ao cultivo do cereal. Como teve a estiagem, em algumas áreas as sementes se desenvolveram, em outras, não. Apesar da irregularidade na lavoura, terei uma produtividade 1.800 quilos por hectare em função do clima seco e frio.

O trigo safrinha é uma oportunidade para o Brasil acabar com a dependência do cereal de outros países. Atualmente, os produtores brasileiros colhem cerca de 6 milhões de toneladas de trigo por ano. A produção não supre a demanda interna.

Mas o cultivo do cereal vem crescendo. Neste ano já foi plantado mais trigo do que em anos anteriores. Se o Cerrado plantar 2,5 milhões de hectares, é possível acabar com a dependência do trigo argentino.

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A Bahia, principalmente no oeste baiano, na região de Luís Eduardo Magalhães, tem dedicado áreas importantes para o cultivo do cereal e pode expandir ainda mais. Segundo a Conab, da safra passada para a atual, a área plantada de trigo saltou de 3 mil para 6 mil hectares.

Uma das consequências do crescimento do cultivo do cereal foi a abertura de um moinho na região. Antigamente, a produção tinha que escoar até Salvador, o que prejudicava as margens de lucro do produtor. Outra boa notícia, que dá ânimo e incentiva os agricultores, é a reativação do moinho de Brasília (DF), fechado há seis anos. O trigo colhido no fim de julho seguirá direto para a indústria. Sem a necessidade de armazenamento, os custos vão diminuir.

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Na minha visão, os produtores estão empolgados para cultivar o trigo, principalmente nas áreas de sequeiro. O grande obstáculo para o crescimento da cultura no Cerrado é o clima seco na maior parte do ano.

No entanto, a Embrapa e outras empresas estão desenvolvendo cultivares adaptadas para o sequeiro. E já chegaram novas opções, como o trigo HB4. Isso nos deixa animados para expandir as áreas da cultura, que antes só era possível no sistema irrigado.

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Não há dúvidas que o Cerrado está sendo impactado pela produção do trigo. A lavoura do cereal traz inúmeros benefícios: favorece as culturas plantadas na sequência, reduz a dependência do Brasil das compras de trigo no mercado externo e ainda desenvolve um novo mercado no país, o que gera empregos e renda.

*Hélio Dal Bello é engenheiro agrônomo e produtor no Distrito Federal desde 1978. É consultor de safras, integrante da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (COOPA-DF) e presidente da Associação Brasileira de Consultores de Feijão (ABC Feijão).

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.
Source: Rural

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