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Premiado na Coreia do Sul, um estudo de pesquisadoras brasileiras apontou que a equoterapia – tratamento pessoal assistido por cavalos que funciona como forma complementar aos procedimento terapêuticos tradicionais – traz muitos benefícios à saúde de idosos.

"Os ganhos não são só físicos, mas emocionais também. Esse tipo de tratamento traz ganhos psicológicos como autoconfiança e autoestima ao conduzir um ser muito mais forte que você mesmo. Outro exemplo são pessoas cadeirantes que costumam ver o mundo de baixo para cima, e no cavalo isso é ampliado, sua perspectiva de visão aumenta”, explica Ednéia Mello, doutoranda na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP), pesquisadora e uma das condutoras do estudo.

Idosos na montaria durante o programa de equoterapia realizado pela AEV (Foto: Equoterapia Vassoural/Divulgação)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A pesquisa foi feita na Associação de Equoterapia Vassoural (AEV), que atende pessoas com deficiência física e cognitiva que procuram desenvolver desde condições psicológicas, como autoestima, até questões físicas como capacidade funcional e sistema de mastigação.

Localizada na cidade de Ribeirão Preto (SP), a AEV é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos que oferece gratuitamente serviços de equoterapia. "Nós dependemos de doações de pessoas físicas e jurídicas, além de parcerias com o poder público. Contamos muito com as doações para continuar tocando nosso trabalho", diz Elaine Cristina Soares Leite, fisioterapeuta e vice-presidente da AEV.

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Intitulado “Efeito da Hipoterapia na Capacidade Funcional e no Sistema Estomatognático de Adultos Mais Velhos”, o trabalho científico feito em parceria com a Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP) conquistou o 2º lugar como melhor apresentação oral do Congresso HETI Seoul 2021, na Coreia do Sul, em junho de 2021.

Melhorou muito minha disposição. Eu me sentia muito bem, mais animada e me ajudou demais no meu equilíbrio. Hoje, eu estou parada e sinto muita falta dos exercícios que fazíamos"

Maria Terezinha Romero, 74 anos, participante do programa de atividades

Durante três meses de 2019, 16 idosos do Lar dos Velhos Dona Albertina Schmidt, com idade entre 60 e 79 anos, participaram de um programa de atividades de terapia assistida por equinos. “Nós fizemos o programa com o objetivo de descobrir quais benefícios para idosos seriam alcançados a partir da equoterapia, que não é só uma terapia que trabalha o corpo, mas também a mente e o meio social”, afirma a vice-presidente.

Maria Terezinha Romero, de 74 anos, participou do programa de atividades na época. Ela relembra os benefícios que os exercícios e o dia-a-dia na associação a trouxeram. "Melhorou muito minha disposição. Eu me sentia muito bem, mais animada e me ajudou demais no meu equilíbrio. Hoje, eu estou parada e sinto muita falta dos exercícios que fazíamos", conta.

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Após a coleta de todos os dados, a doutoranda da FORP/USP afirmou que a participação de um adulto idoso em um programa regular de equoterapia de intensidade moderada promove melhoras significativas na capacidade funcional, mental e até no desempenho do sistema de mastigação.

Elaine exalta os benefícios do tratamento que se estenderam além do programa, como a socialização, e revela que os idosos criaram um vínculo para fora da fazenda. 

É uma terapia que acontece fora do ambiente convencional, dentro de uma clínica ou consultório, existe o contato com a natureza. Eles receberam toda riqueza de estímulos dessa terapia: auditivos, sonoros, visuais, táteis, que vão além dos ganhos físicos

Elaine Leite, fisioterapeuta e vice-presidente da AEV

Em relação aos idosos, um dos pontos mais desenvolvidos pelo programa foi a socialização na fazenda, que é um ambiente diferente de uma terapia convencional. “Lá, eles têm contato com a natureza. Muitos resgataram o prazer de infância de andar a cavalo”, conta.

O equilíbrio é um dos pontos chave para um envelhecimento saudável e, entre os resultados obtidos, foi destaque na evolução dos idosos. "Para a população mais velha, a queda é um grande risco de fraturas graves e até morte", alerta Edneia.

Alimentação do cavalo após atividades de montaria na AEV (Foto: Equoterapia Vassoural/Divulgação)

 

Além dos exercícios de montaria, os idosos também eram ensinados a cuidar dos animais, como escovar o cavalo. "Eles montavam, faziam exercícios visando a coordenação motora, o equilíbrio, o fortalecimento e o alongamento", conta Elaine.

Após os exercícios, os praticantes alimentavam os cavalos como forma de agradecimento. "Assim eles mantinham esse vínculo com o animal", complementa.

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Maria Terezinha destaca que o trato com os cavalos era um dos pontos mais positivos das atividades. "Para nós, era ótimo poder alimentar, passar a mão, escovar os animais, ter esse contato direto. A socialização era maravilhosa para nós, a gente se dava muito bem e eu encarava como um lazer. Era muito prazeroso frequentar a associação."

Edneia, que é dentista, relata os progressos na eficiência da mastigação e força da língua. “Uma das consequências do envelhecimento é a perda da força dos músculos mastigatórios e a alimentação sólida tem que ser substituída pela alimentação pastosa, mas isso interfere na nutrição”.

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Para elucidar essa melhora, a doutoranda exemplifica. “Crianças com problema cognitivo costumam salivar muito, e a partir da equoterapia, já notamos que após uma sessão de 30 minutos no cavalo, a criança fortalece os músculos mastigatórios e para de salivar."

Criança durante uma atividade de montaria na AEV (Foto: Equoterapia Vassoural/Divulgação)

 

Para servir à equoterapia, os cavalos precisam ser dóceis, mansos e de boa estrutura física. "A fazenda é um haras também. Os animais passam por trabalho com peões da propriedade que já selecionam cavalos propícios para atender os praticantes", explica a vice-presidente.

"Nós sabíamos que nosso projeto estava muito bem feito, mas foi uma surpresa. Inscrevemos nosso trabalho, fomos selecionados e, no fim, fomos premiados como o segundo melhor. Isso nos encheu de orgulho porque elevou o nome do Brasil e da equoterapia à nível mundial", comemora Elaine.

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Edneia acredita que a premiação amplia as fronteiras do conhecimento da equoterapia como terapia complementar para os idosos. "O conhecimento na ciência é construído com cada um dando um passo a mais, e eles consideraram nosso estudo relevante e importante para o avanço da terapia assistida por equinos. Quanto mais a gente elucida esses benefícios e entende melhor isso, serve de base para novas pesquisas e aplicações", finaliza.

Terezinha enxerga o trabalho da AEV como imprescindível às pessoas com alguma vulnerabilidade e que não têm condições de financiar terapias específicas. "Geralmente, pessoas humildes que tem algum tipo de problema ou até filhos com deficiência, mas sem condição de pagar por um tratamento, vão até lá e nós percebemos que crianças se desenvolvem e melhoram muito", destaca.
Source: Rural

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