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Pedagoga e cientista política, Priscilla Veras conta que a startup Muda Meu Mundo nasceu após ela observar que produtores de frutas, verduras e legumes orgânicos têm dificuldade de ter constância nas vendas. Vender para o público diretamente pode ser bom, mas nem sempre traz a frequência e a garantia de consumo que o agricultor precisa.

Além disso, a presença do intermediário pode complicar o escoamento da produção, custar mais para quem compra e resultar no desperdício de alimento. “No começo [da empresa], a gente fazia uma feirinha em cesta para entregar nas casas, mas isso não dava recorrência que o produtor precisa. Em 2019, focamos no varejo para dar essa precisão ao agricultor, de produzir aquilo que ele já tinha garantia de vender”, conta.

O resultado desta visão de negócios foi um crescimento de 433% apenas em 2020. E, para 2021, Priscilla prevê algo na casa dos 400% também. Mas não é apenas esta garantia de venda que é a receita de sucesso da Muda Meu Mundo. O apoio ao alimento orgânico, à agricultura familiar e ao produto fresco é a experiência que varejo e consumidores estão valorizando.

Logística, garantia de venda, redução de desperdício e assistência rural fazem startup Muda Meu Mundo crescer 433% em 2020 atendendo apenas no Ceará e na cidade de São Paulo (Foto: Getty Images)

 

Atuante principalmente no Ceará, mas também na cidade de São Paulo, a startup conseguiu alavancar a renda de 79 famílias no Estado em 120%, em média. “Mesmo na pandemia, graças a essa comercialização inteligente”, comenta.

Esta inteligência entre compra e venda tem muita tecnologia envolvida, incluindo a localização dos sítios e as respectivas distâncias até o supermercado mais perto. Todo produto acompanha um código QR que informa a origem do alimento e o caminho até chegar ao consumidor;

Entre os produtos saírem da casa do agricultor e chegarem ao supermercado, é preciso levar menos de 12 horas. Isso significa que a empresa atua em sítios que estejam em um raio de até 150 quilômetros de Fortaleza (CE) e 200 quilômetros no caso da capital paulista.

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“A gente não pode ter produtores isolados, então trabalhamos agrupando produtores, assim passamos recolhendo as produções todas de uma vez e conseguimos cumprir com a entrega de alimentos frescos”, ela explica ao revelar que trabalhar com cooperativas deve ganhar mais ênfase no futuro de curto prazo.

Esta logística também joga o índice de desperdício para baixo, adiciona Priscilla. “O desperdício do campo ao varejo fica em 2,9%. Em geral, esse índice é de 30%, segundo a Abras [Associação Brasileira de Supermercados]”, comenta a CEO da Muda Meu Mundo.

Suporte para produzir

 

 

Damos assistência [técnica] para garantir a qualidade da comercialização

Priscilla Veras, CEO da Muda Meu Mundo

 

 

No modelo de negócios da startup, o primeiro passo é entender a capacidade de produção do agricultor e qual cultivo há mais probabilidade de produzir e vender. Para isso, os dados valem ouro. “Cada produtor que entra na plataforma recebe uma análise socioeconômica. Com isso a gente faz uma análise da capacidade de produção dele e consegue construir planos produtivos de acordo com o produtor e entendendo o que o mercado quer”, explica Priscilla.

Além da garantia de venda, outra reclamação do produtor que a startup tenta resolver é a falta de assistência técnica. Assim, não apenas a empresa indica o que é mais interessante que ele produza, mas dá subsídios para tal. Todos os produtores que começam a comercializar pela Muda Meu Mundo têm acesso à assistência técnica, inclusive de forma remota.

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“Quando ele entra na rede, tem a certeza que ter essa assistência. Teve qualquer dúvida, entra no Whatsapp e pode fazer até chamada de vídeo com o agrônomo. Damos assistência para garantir a qualidade da comercialização”, afirma.

Próximos passos

Com números tão promissores, a startup, que tem sede no Cubo Itaú, em São Paulo, começa uma nova parceria com o Grupo Pão de Açúcar. Por enquanto, a experiência se aplica a apenas uma loja de Fortaleza, mas Priscilla revela que quer chegar a 100 lojas até o começo do ano que vem.

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“A partir do final de 2022, vamos expandir para o restante do país. Já temos supermercados interessados em várias localidades e produtores cadastrados no Brasil inteiro”, ela conta, ponderando que a logística está sendo estudada. “Uma coisa é fazer para duas cidades. Outra coisa é atender 16 cidades com 6 mil produtores”, diz.

Atualmente, 150 produtores integram a Muda Meu Mundo e todos precisam apresentar a Declaração de Aptidão ao Pronaf, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o comprovante de produção orgânica. Este também é um gargalo do setor, comenta a CEO da startup ao dizer que muitos não conseguem a certificação por ser cara.

“Estamos trabalhando agora para ser uma certificadora coletiva junto ao IBD [certificadora de produtos orgânicos e sustentáveis da América Latina]”, projeta Priscilla.

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De acordo com ela, muitos produtores estão trabalhando para usar o mínimo de defensivos químicos. Esta parcela que usa o agrotóxico, mas é preocupada com outros fatores ambientais, como reflorestamento, reserva legal, preservação da água, também está no radar da Muda Meu Mundo.

“É preciso olhar para a sustentabilidade como ciência. Tem muitos tentando usar menos químico, mas às vezes não sabe como fazer diferente e queremos dar este suporte”, afirma.

 
Source: Rural

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