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Após um mês de internação, uma jovem de Goiás recebeu alta nesta semana após ser diagnosticada com a doença da urina preta. Ela foi parar no hospital 24 horas após ter comido peixe em um restaurante japonês de Goianésia.

Kelly Silva, 27 anos, chegou a passar 21 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e por sessões de hemodiálise ao longo do último mês. Agora, mesmo com alta médica, seguirá o tratamento com a equipe de nefrologia, psicologia e fisioterapia, informou o diretor do Hospital Jardim América, Patrick Ponciano Lima de Almeida.

Doença da urina preta, ou Síndrome de Haff, pode ser fatal, a depender da quantidade de toxina ingerida (Foto: Pixabay)

 

O restaurante disse não saber o que desencadeou a doença e que segue todas as regras sanitárias. A Polícia Civil apura se houve irregularidades. Mas, afinal, que doença é essa que pode contaminar peixes e causar tanto perigo à saúde?

A doença da urina preta é uma síndrome provocada por uma toxina – sem cheiro e odor que se desenvolve em pescados contaminados. Ela é mais comum em peixes como tambaqui, badejo e arabaiana, além de crustáceos como lagosta, lagostim e camarão.

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Essa toxina, ainda desconhecida, destrói as fibras musculares esqueléticas. Esse processo de quebra libera elementos no sangue, que afetam órgãos vitais, principalmente os rins. Alguns dos sintomas são a rigidez muscular repentina, dor no tórax, náuseas, dificuldade para respirar, dormência, perda de força e urina cor de café.

Santiago Benites, médico veterinário da empresa Biovet Vaxxinova, afirma que o que mais preocupa é a origem desconhecida da toxina, o que a torna incontrolável. "Algumas doenças transmitidas pelo alimento são controláveis pelo processo de congelamento ou cozimento. Para essa toxina, a gente já sabe que não, mesmo o pescado cozido, a toxina mantém sua atividade. Ela é termoestável".

A quantidade de toxina ingerida está relacionada à quantidade de peixe ou crustáceo consumido

Santiago Benites, médico veterinário

A Síndrome de Haff apresenta efeitos rápidos e violentos. Eles começam a aparecer entre 24h e 72h após a ingestão do alimento. De acordo com Benites, uma alta exposição à toxina pode levar a quadros muito agudos de falência renal, e até a morte.

"Em qualquer mal-estar relacionado ao consumo de pescado, é necessário procurar cuidados médicos o mais rápido possível. Quanto mais cedo houver suporte médico, maior a chance de reverter o quadro, porque ela é uma doença super aguda", destaca.

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"A urina fica preta por conta da rabdomiólise, que é quando o corpo começa a realizar a quebra das células dos músculos do corpo, e isso causa dores intensas. Quando o corpo começa a soltar essas proteínas, o rim tenta dar conta para filtrar esse sangue sobrecarregado, e então a urina escurece", explica a nutricionista e técnica em nutrição Tarsila Helena Paes e Silva.

Quanto maior for a porção de pescado intoxicado ingerido, maior a letalidade. "A quantidade de toxina ingerida está relacionada à quantidade de peixe ou crustáceo consumido. Ou também de acordo com a concentração de toxina que esse pescado tenha incorporado na musculatura", explica o médico veterinário.

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Tarsila ainda destaca o papel fundamental do profissional de nutrição em restaurantes para evitar a doença. "Aí existe o respaldo de que aquele alimento passou por uma supervisão", aponta. 

"Se alguém apresentar sintomas da síndrome após ter consumido pescado de um restaurante, os técnicos da vigilância sanitária vão rastrear quais são os fornecedores do estabelecimento, para conferir se são ou não de origem rastreável”, observa Benites.

Associação defende produção

Procurada por Globo Rural, a Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) diz que a tilápia não pode ser responsabilizada por casos da doença em seres humanos. Mas destaca, em nota, que “a ciência comprova que a Síndrome de Haff, sim, pode ser causada pela ingestão de peixes marinhos (água salgada) contaminados".

"O Brasil é o 4º maior produtor mundial de tilápia. A cadeia de produção dessa espécie é industrial e verticalizada. A tilápia é criada em água doce, com total rastreabilidade. As empresas produtoras utilizam rígidos protocolos sanitários e de bem-estar animal, conferindo à tilápia status de alta segurança alimentar”, completa a entidade.

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Source: Rural

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