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O aumento generalizado nos custos de produção do agronegócio observados desde o ano passado, com pressão sobre a margens dos setores dependentes de grãos e outros insumos, pode ter levado o mercado internacional de commodities agrícolas a um novo patamar de preços após o surgimento da pandemia de Covid-19.

A análise é de economistas dos dois maiores produtores mundiais – Brasil e Estados Unidos – e parte das semelhanças entre a conjuntura macroeconômica atual e a vivida em meados dos anos 2010: aumento da demanda e baixos estoques.

Demanda chinesa no pós-Covid-19 é apontada como fator chave para o direcionamento dos preços internacionais da soja e do milho (Foto: Reuters)

 

“Neste momento, nós estamos muito provavelmente discutindo entre preços altos ou mais altos. Tenho dúvida se alguém esteja prevendo um preço médio para 2021 abaixo de US$ 4,50 o bushel”, observou Gary Schnitkey, professor de gestão agrícola da Universidade de Illinois, durante apresentação on-line a jornalistas.

Ele lembrou que, considerando as cotações registradas em agosto de 2020, quando o milho de vencimento mais curto chegou a ser negociado a US$ 3 o bushel na bolsa de Chicago, seria impossível prever os preços atuais.

“Suspeito que, se estivéssemos tendo essa conversa neste mesmo momento do ano passado, estaríamos falando sobre um milho abaixo de US$ 3 e os preços da soja e abaixo de US$ 9 por bushel. E agora estamos onde estamos”, completa o pesquisador.

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Com o milho cotado acima de US$ 6 o bushel e a soja acima de US$ 15 o bushel, ele classifica de “dramática” a valorização que as duas commodities apresentaram nos últimos dez meses e reforça a sua previsão de manutenção de alta nos preços diante dos elevados custos de produção do setor e a forte demanda chinesa.

“Acho que os chineses serão permanentemente mais ativos no comércio internacional de milho porque estão começando a aumentar a capacidade de produzi-lo internamente e, se obtiverem safras muito boas, acho que não entrarão no mercado tão forte quanto agora. Portanto, acho que haverá mais um comprador residual, mas com uma tendência de alta de longo prazo”, avalia o economista.

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A análise do economista brasileiro e secretário de política econômica do Ministério da Fazenda entre os anos 1995 e 1998, José Roberto Mendonça de Barros, é de que o maior consumo chinês está na origem da valorização expressiva da soja e do milho no último ano, tendo sido catalisado pelos efeitos da Covid-19 no comércio mundial.

“Muitos países começaram a inibir a exportação e a tentar aumentar a importação para fazer estoques reguladores. Tão logo a demanda explodiu, os preços ficaram realmente extraordinariamente grandes”, explica Mendonça de Barros ao prever pelo menos dois anos de preços elevados até que a produção mundial cresça o suficiente para recompor os estoques globais das duas commodities.

“A oferta agrícola é sensível a preços. Nós imaginamos, especialmente se não houver um programa climático mais significativo, que a produção tende a aumentar à medida que o mundo sai da pandemia e a demanda tende a se normalizar. Mas, seguramente, por dois anos a demanda vai ser forte”, afirmou o economista durante evento on-line promovido pela Fundação FHC.

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Para o colega de Schnitkey na universidade de Illinois, o economista agrícola Scott Irwin, a resposta dos agricultores dos EUA, maior produtor mundial, não será tão rápida quanto o mercado prevê. Segundo ele, o padrão histórico de reação da área plantada dos EUA às oscilações de preço no mercado futuro é de certa “inércia”, podendo levar alguns anos para ocorrer.

“As pessoas parecem esquecer que os fazendeiros dos EUA só experimentaram esses preços muito mais altos por cerca de sete ou oito meses – e geralmente leva mais tempo que isso para os hectares nos EUA responderem”, observa Irwin.

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Ele lembra ainda que, entre 2014 e 2019, os preços das duas commodities estiveram pressionados pela guerra comercial entre EUA e China, resultando em preços médias difíceis de serem repetidos daqui pra frente.

“A questão é com que rapidez e quando isso acontecerá. Onde os preços se estabelecerão? Eu tendo a dizer que as médias de 2014 a 2020 seriam uma previsão prudente, mas provavelmente será um pouco mais alto do que isso porque a guerra comercial claramente deprimiu os preços. Além disso, estamos saindo de preços tão altos que, quando descermos, não acho que iremos tão baixo”, avalia o economista.
Source: Rural

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