É geralmente aceito que o grande fator responsável pelos espetaculares saltos de produtividade e de produção da agropecuária brasileira nos últimos 30 a 40 anos foi determinado pelas inovações tecnológicas geradas em nossos institutos de pesquisa públicos e privados e em nossas universidades, e, naturalmente, pelo empreendedorismo de nossos produtores rurais, que incorporaram rápida e decididamente essas tecnologias.
É claro que alguns planos de governo ajudaram muito o setor ao longo desse período. Com isso, a partir dos anos 1980 do século passado, o Brasil passou de importador de alimentos a um dos maiores exportadores, abastecendo nossa população e as de outros mais de 170 países em todos os continentes.
Entre as políticas públicas mais relevantes – e foram muitas – ressalta-se o Prodecer (Programa de Desenvolvimento do Cerrado), lançado nos anos 1970, num acordo entre o Brasil e o Japão. Até então, o Cerrado era tido como improdutivo, com terras de pouca fertilidade, ácidas, com baixo teor de matéria orgânica e de nutrientes químicos para plantas.
Mas a ciência domou o Cerrado. Os primeiros estudos realizados pelo Instituto Agronômico de Campinas nas décadas de 1950/60 sobre o café no Cerrado já davam indicações de tecnologias que mudariam os velhos conceitos contra o bioma. Mas a Embrapa deu um impulso ainda maior para seu aproveitamento.
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Aliás, a ocupação do Cerrado se identifica com os avanços tecnológicos do agro brasileiro, que, segundo algumas narrativas, teria três capítulos distintos: um primeiro em que a ênfase da pesquisa era voltada para o melhoramento genético, visando à geração de variedades e espécies de plantas e animais adaptados às dispares condições edafoclimáticas de nosso vasto território.
O segundo foi dirigido para a fertilidade do solo, e coincide com a conquista do Cerrado. Sistemas de correção e adubação foram desenvolvidos exatamente para viabilizar o uso desta gigantesca área, cujo tamanho era calculado em mais de 200 milhões de hectares.
E o terceiro foi o advento da mecanização. As áreas planas do Cerrado permitiam o uso de máquinas muito maiores e mais eficientes e econômicas em termos de resultado.
A ocupação do Cerrado se identifica com os avanços tecnológicos do agro brasileiro. E o ciclo muda agora com outras inovações
Roberto Rodrigues
O Cerrado foi “conquistado” por gente empreendedora e corajosa que largou para trás sua história e se embrenhou naquele vazio geográfico para criar o Maracanã onde será jogada a partida final da Copa do Mundo da Alimentação e que o Brasil conquistará ao seu tempo.
Gente que levou a soja adaptada ao Cerrado, a brachiaria e o zebu para iniciar a conquista da região. E que, com o progresso material e financeiro alcançado, passou a usar as máquinas modernas “descobertas” a partir da Agrishow de Ribeirão Preto em 1994, seguida pelo Moderfrota logo depois.
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E o ciclo muda agora com outras inovações, como a digitalização da agricultura, os bioinsumos e os biopesticidas, com as sequências genômicas, com a carne carbono zero, como poderoso impacto da sustentabilidade no agronegócio global. E com a crescente preocupação com a segurança alimentar.
O Cerrado ganha importância e a ciência precisa estar presente com todo vigor nessa nova fase do mundo agro.
*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as cooperativas, titular da Cátedra de Agronegócios da USP e ex-ministro da Agricultura.
As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu aturo e não representam, necessariamente, o posicionamento da Revista Globo Rural.
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Source: Rural