Skip to main content

Fossa séptica biodigestora (Foto: Pedro Hernandes/Arquivo pessoal)

 

Bastam três caixas d’água de mil litros, alguns metros de cano e um balde de esterco bovino para converter um problema que atinge mais de 70% das residências rurais do país em uma fonte mensal de mais de três mil litros de biofertilizante e resolver dois problemas que incomodam qualquer produtor rural: disponibilidade hídrica e produtividade. Criada pela Embrapa para substituir a fossa séptica comum, onde as fezes e a urina humana muitas vezes contaminam lençóis freáticos, a fossa séptica biodigestora, como é chamado o sistema, permite reaproveitar tanto a água da descarga quanto substâncias presentes nas fezes e urina humana.

“O esgoto que vem do vaso sanitário, é um esgoto basicamente orgânico, composto por fezes e urina, que é facilmente possível de fazer o tratamento num sistema anaeróbico – que é o caso da fossa séptica biodigestora”, explica um dos responsáveis por desenvolver o sistema, Wilson Tadeu Lopes da Silva.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Instrumentação, a biodigestão, facilitada pela presença do esterco bovino, torna solúveis os nutrientes presentes nas fezes e na urina. “Essa água que sai da fossa tem uma quantidade de nutrientes que não é desprezível. Tem também uma matéria orgânica dissolvida, que também é bom e ajuda a corrigir a acidez do solo e outras coisas importantes pra produtividade agrícola”, destaca Silva.

Em testes realizados pela Embrapa no plantio de milho, o pesquisador constatou que o uso do efluente tratado, associado a outros nutrientes, permitiu atingir produtividades iguais àquelas observadas em culturas submetidas a adubação mineral. “Sem a preocupação de colocação de micronutrientes, porque isso já vem com o efluente e tudo isso ajuda muito o produtor porque é muito importante tanto para a produção de grãos quanto de massa verde”, explica Silva, ao lembrar que, em pequenas propriedades, o plantio de milhos muitas vezes é destinado à produção animal ou à pecuária leiteira.

“Como o efluente tem muito nitrogênio, que é o principal nutriente que o capim e as gramíneas utilizam, elas respondem muito bem”, observa o pesquisador. A partir dos dados obtidos nos estudos realizados com o uso de efluentes na fertirrigação, a Embrapa quer criar um protocolo que possa embasar uma legislação que regulamente o reuso do esgoto em áreas rurais – ainda inexistente no Brasil.

saiba mais

Sítio usa sistema de saneamento para produzir mudas de alto valor em SP

Gestor ambiental reaproveita resíduos do vaso sanitário para plantar abóboras de forma sustentável

 

 

“Isso é possível, vários países fazem isso e não há nada de muito novo. E no Brasil o reuso crescido pelas questões climáticas e com os períodos de seca cada vez mais comuns. Só que para fazer isso tem que saber o que está fazendo, ter conhecimento e mostrar como fazer isso de maneira adequada”, explica o pesquisador.

No caso da fossa biodigestora, a recomendação da Embrapa é de que o uso do efluente se dê diretamente no solo, sendo desaconselhado o uso de irrigação por aspersão para evitar contato com os alimentos. Além disso, devido à elevada presença de nutrientes, o uso excessivo da água tratada pelo sistema pode gerar a salinização do solo e prejudicar a produção. “Isso significa que você não pode usar de maneira indistinta, tem que trabalhar de maneira dosada”, pontua Silva.

saiba mais

Bananeiras ajudam no tratamento do esgoto de cozinha e lavanderia

Tratamento de esgoto nas áreas rurais é 50% menor do que nas urbanas

 

 

Uma vez bem utilizada e bem construída, contudo, a fossa pode ser fonte não só de saneamento, mas também renda. “Uma senhora, certa vez, muito desconfiada, comentou com a gente a respeito da fossa. Disse que era ótima, que não dava cheiro, não dava bicho, mas se recusava a usar coco de gente pra adubar as próprias plantas”, relata o pesquisador.

Depois de muito convencimento, a agricultora testou a aplicação do efluente numa pequena área de pés de graviola que, em cinco anos, nunca deram frutos. “Depois de seis meses essa mulher pegou na minha mão para me mostrar os pés de graviola e estavam com graviola. Eu achei que estariam mais viçosos, mas não. A planta começou a produzir”, conta.

Com o resultado, a produtora hoje cultiva graviola em cerca de 200m² de onde obtém o fruto, processa e vende a polpa na sua região. “Não é simplesmente chegar e falar “usa”. Tem que saber usar, usar com critério e, com isso, você tem os retornos que você deseja” conclui Silva.

Como fazer fossa séptica biodigestora
Source: Rural

Leave a Reply