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(Foto: Ibá/Adobe stock)

 

Produzir e conservar está no DNA do setor de árvores cultivadas, uma agroindústria que trabalha com os dois pés dentro da bioeconomia. Ao passo que planta, colhe e replanta madeira para fins industriais em 9 milhões de hectares em todo o país, destina uma área de 5,9 milhões de hectares para conservação de mata natural.

Esse olhar cuidadoso para o meio ambiente está presente em todas as etapas do processo, desde a muda de árvore até a chegada do produto final às mãos dos consumidores.

No campo, o setor adota práticas de manejo sustentáveis, que auxiliam na regulação do fluxo hídrico, e realiza monitoramento quantitativo e qualitativo em mais de 50 pontos e microbacias em todo o Brasil, entre outras ações.

Na indústria, investimento e tecnologia têm feito a diferença. Nas últimas quatro décadas, os segmentos de papel e celulose diminuíram em 75% o uso de água no processo fabril, por exemplo. Já os de pisos laminados e painéis de madeira devolvem cerca de 53% do recurso captado ao corpo d’água e reutilizam outros 12%.

Esses números comprovam: não é de hoje que o setor trabalha com manejo responsável e uso racional da água. O esforço continua de forma consistente. O resultado é que, no mês em que se celebram os dias da Floresta (21 de março) e da Água (22 de março), a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que representa as companhias do setor de árvores cultivadas, lança a primeira edição de relatório específico voltado para o tema, chamado Cuidar da Água É Cuidar do Futuro de Todos.

“Trata-se de uma ferramenta de transparência que vai viabilizar a mensuração e o acompanhamento contínuo da gestão hídrica do setor. O relatório também apresenta compromissos de melhoria e 12 casos práticos de como empresas do setor implementam a gestão da água em suas florestas e fábricas”, afirma o diretor executivo da Ibá, embaixador José Carlos da Fonseca Jr.

Cinco ações
Entre as boas práticas do setor com relação aos recursos hídricos destacam-se:
1. A preocupação em compatibilizar a disponibilidade hídrica na região com a demanda das florestas, fábricas e outros usos da terra.
2. O monitoramento dos efeitos do manejo na qualidade e na quantidade de água em mais de 50 pontos e microbacias.
3. A adoção de técnicas para evitar e mitigar a erosão do solo, que causa assoreamento dos corpos de água, por exemplo. São técnicas para a prevenção da erosão e a manutenção de estradas rurais, além da conservação de vegetação próxima a fontes hídricas.
4. O plantio em mosaico, que intercala talhões comerciais de diferentes idades com florestas naturais, podendo contribuir para a disponibilidade hídrica.
5. A aplicação de conceitos da economia circular para diminuir o uso de água na indústria.

Esse conjunto de ações demonstra que, se bem manejadas, as florestas plantadas podem ajudar na infiltração da água no solo, potencializando a recarga do lençol freático, e na conservação da sua qualidade, provendo, portanto, importantes serviços ambientais para a sociedade.

Uso de água pelas árvores cultivadas
Em termos de manejo, é importante lembrar que, quando boas práticas são adotadas no campo, especialmente a compatibilização entre a demanda de água da floresta e a disponibilidade hídrica do local, o mito de que o eucalipto seca o solo não se sustenta. Em média, 83% da água que cai sobre as plantações de eucalipto na forma de chuva é evapotranspirada, retornando limpa à atmosfera. Os 17% restantes são escoados, alimentando os córregos e rios das bacias hidrográficas. Esses valores são semelhantes aos reportados em florestas nativas, que são de 81% de evapotranspiração e 19% de escoamento para os corpos d’água, segundo documento do Programa Cooperativo sobre Monitoramento Ambiental em Microbacias Hidrográficas (PROMAB) do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF).

Casos de sucesso
“Lançamos publicamente, em 2020, nossas metas relacionadas ao tema”, informa Robert Sartório, especialista de P&D da Suzano. “Na indústria, além de continuar buscando viabilizar um maior reúso de água, a meta é reduzir em 15% a água captada nas operações industriais até 2030.” Na floresta, a meta, até o fim da década, é aumentar a disponibilidade hídrica em 100% das bacias hidrográficas consideradas críticas em seus estudos.

“Atualmente, 40 bacias hidrográficas são classificadas como críticas, em um total de 2.006 com presença de plantios da empresa. A Suzano possui tecnologia para fazer recomendações visando aperfeiçoar as práticas de manejo que compatibilizem a disponibilidade hídrica com a demanda das florestas e outros usos da terra na paisagem e, principalmente, certificar, com base em sensoriamento remoto, a eficácia dessas recomendações nas regiões onde está presente.”

Já a Veracel realiza o monitoramento ambiental do Rio Jequitinhonha, em Minas Gerais, e do manguezal na foz do rio desde 2005. “Esse monitoramento de longo prazo consiste em uma importante ferramenta de gestão ambiental, que nos ajuda a avaliar periodicamente possíveis interferências do lançamento do efluente tratado da fábrica na qualidade da água e na biota do rio”, explica Tarciso Matos, coordenador de meio ambiente e licenciamento da Veracel Celulose.

Custo-benefício
Ao longo do tempo, a Veracel percebeu que é possível realizar ações de alto impacto sem investimentos altos. “Inicialmente, pensávamos que para fazer reduções significativas no uso de água na fábrica seriam necessários grandes investimentos. Porém, não estávamos totalmente certos.” As ações permitiram reduzir a vazão média anual de uso de água para fabricação de celulose em mais de 11% em quatro anos.

Para a Duratex, o cuidado com os recursos naturais é premissa básica. “Nas operações florestais, um fator primordial para o uso eficaz da água é a escolha de espécies adequadas às condições de solo e clima do local de plantio, o que, aliado com o alto nível tecnológico, favorece a produtividade e reduz a demanda por novas áreas”, diz Lennon Franciel Neto, engenheiro especialista da área de gestão ambiental da operação madeira da companhia.

“Empregamos a técnica do cultivo mínimo, em que o preparo do solo é feito somente na linha de plantio e os galhos e folhas das árvores colhidas são deixados no campo protegendo o solo e minimizando, assim, o risco de assoreamento dos cursos d’água”, ele narra. “Com essa mesma finalidade, utilizamos as melhores técnicas de construção e manutenção de estradas florestais, propiciando condições adequadas de infiltração e drenagem da água.”

Técnicas pioneiras
Por sua vez, a Klabin desenvolve o plantio em mosaico. “É um sistema de manejo no qual florestas plantadas de pinus e eucalipto de diferentes idades são entremeadas por vegetação nativa destinada à conservação”, explica Júlio Nogueira, gerente de sustentabilidade e meio ambiente da companhia. “Esse manejo garante a proteção dos recursos naturais e permite a criação de corredores de biodiversidade.”

Além disso, a empresa utiliza o chamado manejo hidrossolidário, uma estratégia baseada no equilíbrio entre a produção florestal e a produção de água. “Dessa forma, é possível integrar as diferentes necessidades de água, incluindo comunidades vizinhas e processos ecológicos”, diz Nogueira.

Além disso, em 2020, a vazão de água reaproveitada na Klabin foi de cerca de 2,2 vezes o volume de água bruta captada. “Sistemas mais robustos de quantificação de água, em diferentes etapas das operações de manejo florestal e da produção industrial”, afirma o gerente, “permitiram à Klabin calcular a pegada hídrica da sua produção de celulose de eucalipto no Paraná”.
Source: Rural

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