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Lavoura de soja no Paraná. Técnicos estão pesquisando causas de abortamento de vagens e de perdas nas produção do Estado (Foto: André Brando/Embrapa)

 

Casos de abortamento de vagens de soja vem sendo registrados no Paraná, com perdas na produção, principalmente nas regiões norte, noroeste e oeste do Estado. Segundo técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e da Embrapa Soja, com sede em Londrina, as condições climáticas adversas durante os meses de janeiro e fevereiro, com chuvas muito acima da média, podem ser a principal causa do problema ocorrido em algumas propriedades.

“Temos registrados mais de 50 situações, mas o número deve ser bem maior, pois nosso objetivo é pesquisar o problema e não levantamos o número total”, diz André Brando, pesquisador da Embrapa Soja.

No município de Marialva, no norte paranaense, o produtor Helton Pelison plantou 220 hectares entre 17 de outubro e 20 de novembro. Em 40% da área, o abortamento das vagens foi total. Foram 17 dias seguidos de chuva só neste mês, com muita nebulosidade, na região onde ele tem a fazenda.

Além da queda na produtividade, que estimava em 68 sacas por hectare, Pelison está enfrentando dificuldade de acessar o seguro agrícola que contratou. Segundo o produtor, a seguradora já foi acionada e a primeira vistoria foi feita. Mas ele ainda aguarda uma segunda visita para definir a dessecação da soja na área afetada.

É a primeira vez que ele aciona o seguro na safra da oleaginosa. “Nunca tive uma situação dessa. A gente vai tirar a soja e entrar com o milho na área toda. Se a seguradora tivesse colaborado, isso já teria acontecido e o plantio do milho antecipado ajudaria a diminuir um pouco o prejuízo”, diz o produtor.

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O produtor Marciano Battaglini, também em Marialva, sofreu com o problema. Em 48 dos 180 hectares que plantou, teve perdas que, em alguns talhões, chegaram 100% das plantas com abportamento de vagens de soja. A área semeada mais tardiamente, no final de outubro, sofreu mais com o excesso de chuvas, reduzindo a produtividade. Ele previa colher cerca de 60 sacas/hectare, mas, agora, estima cerca de 45 sacas/hectare.

Pela primeira vez, o produtor acionou o seguro para a soja e já está sendo atendido. No entanto, Battaglini já havia vendido a sua safra antes do plantio, fazendo contrato de troca por sementes. “Infelizmente, já tinha vendido quase tudo, agora não sei como vou fazer para cumprir o contrato. Na época, o contrato foi feito a R$ 95/saca (60 kg) e hoje está em torno de R$ 150/saca”, conta Battaglini.

Por conta do prejuízo e dos riscos, o produtor diz que não faria a segunda safra de milho se não tivesse efetuado os contratos já firmados também com a safrinha. “Por causa da chuva, a soja alongou muito o ciclo (vegetativo). Ainda faltam 15 dias para começar a colher e já vai atrasar a safrinha, com um risco muito grande de pegar geada”, explica ele.

Fatores climáticos

De acordo com o coordenador de soja da Extensão Rural, o Edivan Possamai, as condições climáticas nesta safra foram similares aos que havia ocorrido durante a safra 2017/2018 no Paraná, com chuvas iniciando no terceiro decêndio de dezembro de 2017 e com dias chuvosos em sequência até o final de janeiro de 2018. Essa seria a hipótese mais aceita pelos especialistas para o abortamento das vagens da soja no atual ciclo agrícola. O problema também pode ocorrer por fatores genéticos.

“Não tivemos um padrão de cultivares nem de época de semeadura que justificasse o abortamento das vagens. A gente teve um período de plantio que coincidiu em quase todo o estado, mas não é característico. Os casos que aconteceram foram mais isolados, não foi em todas as lavouras, mas há relatos de 30% a 100% de perda de produtividade, e por isso não deve afetar de forma significativa a safra paranaense de maneira geral”, explica Possamai.

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De acordo com nota técnica divulgada pelo IDR-Paraná, na região Sudoeste, município de Pato Branco, choveu em janeiro 395,6 milímetros, superando em 206,4 milímetros a média histórica. Em Paranavaí, Noroeste do Paraná, foram 341,4 milímetros, 153,3 acima da média histórica. Já na região Oeste, em Palotina, 143,3 milímetros acima da média esperada. Além do excesso de chuvas, que acarretou alta umidade, com saturação do ar e do solo, a baixa radiação solar também contribuiu.

“A condição de solo mais úmidos e mal drenados pode ter acarretado uma dificuldade do solo de realizar as trocas gasosas, impedindo a respiração das raízes e pode reduzir a transpiração e a translocação de nutrientes da raiz para outras partes, além da baixa fotossíntese. Isso pode levar a uma produção de hormônio na planta que leva a planta a ter o abortamento por falta de condições de nutrir suas vagens e provocar o abortamento”, explica Possamai.

Segunda safra

Produtores que tiveram perdas na soja e não conseguiram ainda definir com a seguradora o que fazer nas áreas afetadas temem o atraso no plantio da safrinha de milho. É o caso de Diovan Vieira dos Santos, no município de Atalaia. Em sua propriedade, dos mais de 500 hectares plantados com a oleaginosa, uma área superior a 100 hectares teve 100% de abortamento de vagens. Em outros 188, houve abortamento parcial.

Os insumos para o plantio do milho já estão comprados e prontos para o trabalho de campo, mas ele ainda aguarda o parecer da seguradora. “Essa área (onde houve o abortamento) era pra estar sendo colhida e sendo plantado o milho na sequência, mas a seguradora está dificultando”, afirma Santos.

“A segunda safra de milho não tem muitos riscos climáticos associados à semeadura. Em termos gerais, chove bem (no plantio) e os riscos maiores têm a ver com déficit hídrico em março e abril, e riscos de geadas”, explica o coordenador de agrometeorologia do IDR-Paraná, Pablo Nitsche.

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Nesse sentido, o agrometeorologista avalia que a cadeia produtiva do Estado precisa ser repensada, para que os riscos climáticos e seus efeitos sejam minimizados. Nitsche salienta que a segunda safra não deve ser de sucessão de culturas, mas considerar os três parâmetros do plantio direto: não revolvimento do solo, cobertura verde e rotação de cultura.

“Isso (Soja e milho) é sucessão, e não rotação. Logisticamente, para o setor cooperativo de venda de insumos, fica mais facilitada em trabalhar com essas duas culturas. Mas pensando em qualidade e tecnificação, se tivéssemos uma área maior de milho na primeira safra, migrando para outras culturas de inverno como cevada, aveia, culturas que trabalham com adubação verde, melhoria a microbiologia do solo, problemas de compactação. A gente tem que parar com essa cultura de soja e milho que não é saudável para a agricultura, até climaticamente”, reforça Nitsche.
Source: Rural

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