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Plantio de gergelim é feito após a soja, quando não ha viabilidade para o plantio de milho (Foto: Robson Gonçalves/Arquivo Pessoal)

 

O produtor Robson Gonçalves, 38 anos, começou a plantar gergelim na safrinha de 2017/2018, após a soja, em 70 dos 320 hectares da propriedade em Canarana, a 838 km de Cuiabá (MT). No ciclo seguinte, aumentou área para 200 hectares. Neste ano, assim como na safra 2019/2020, ele vai usar toda a área para cultivo de gergelim após a colheita da soja.

No início, o gergelim surgiu como uma opção pelo atraso nas chuvas, que impossibilitou o plantio da safrinha de milho. “Depois, (a área plantada) foi aumentando pela lucratividade que ele agregou. Até este ano, para a safrinha, já optamos direto pelo gergelim mesmo com os preços atrativos do milho”, conta o produtor.

Não é apenas a área do Gonçalves que está crescendo. Introduzido na temporada 2017/2018 como uma alternativa de custo reduzido para a segunda safra após o plantio de soja, o gergelim registrou um crescimento de 132% no ciclo 2019/2020 no Estado, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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A cultura registrou um salto de 41,3 mil toneladas produzidas em 53 mil hectares em 2018/2019 para 95,8 mil toneladas em 175 mil hectares plantados. A produção nacional concentra-se em Mato Grosso, especialmente em Canarana. O município é responsável por mais de 90% da produção nacional, que teve 87 mil hectares plantados em 2020.

No primeiro ano de cultivo, Gonçalves colheu cerca de 500 kg/hectare. Na última safra, fechou com média de 800 kg/ha. Segundo ele, a chegada de empresas exportadoras do grão a Canarana também ajudou a estimular o cultivo e reduziu o frete dos produtores.

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Neste ano, no entanto, o gergelim tem uma concorrência de peso na safrinha e, por isso, área plantada ainda é uma incógnita. Segundo o vice-presidente do Sistema Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso), Marcos da Rosa, o ineditismo dos preços e a previsão climática estão favorecendo o milho como opção.

“Pela primeira vez, há viabilidade total de plantar milho (pela janela), inclusive com preços futuros deixando renda para o produtor. Além de ser viável nesse momento, é uma gramínea, deixa mais palha no solo e as pragas são diferentes. É uma incógnita a área de gergelim agora, mas existem muitos produtores que plantaram soja mais tarde e terão que plantar o gergelim”, afirma Rosa.

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A produtividade média do Estado é de 400 kg/ha, mas poderia ser maior, segundo o executivo, com o desenvolvimento de variedades melhoradas. Por ser uma leguminosa deiscente, a vagem se abre e perde-se cerca de 30% da produção na colheita, por mais eficiente que seja.

Rosa, que também é produtor de grãos em 600 hectares em Canarana, é um dos que vai apostar no milho neste ano. Nesta safrinha, o gergelim ocupará apenas um terço da área total para abrir espaço ao cereal. Na safra 2019/2020, foi metade da área e, na anterior, chegou a ser 100%.

“Olhando o passado recente, até um ano atrás, o milho não deixava renda. Então, uma outra opção para fazer outras culturas precisaria de irrigação. Arroz era muito ruim, feijão é um mercado muito complicado. Não havia nenhuma cultura. Na busca por alguma renda, o gergelim passou ao redor de 2 mil hectares para os mais de 50 mil hectares em 2018/2019”, diz.

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Estímulo

Atuando no mercado de compra de grãos há mais de cinco anos em Canarana, o consultor da Agro Libane, Jailson Lidio, explica que a demanda por gergelim vem aumentando a cada safra por parte de empresas exportadoras. Ele conta que, assim que começou a busca pelo gergelim, a sua empresa entrou nesse mercado incentivando os produtores a plantar.

“As grandes exportadoras de gergelim estão se fixando aqui no nosso município. Trouxeram mais compradores para a região, porque cada vez mais a demanda vai aumentando. Com isso, a gente vem incentivando os produtores a produzir o gergelim por conta da sua janela de plantio, que é muito boa”, afirma Lidio.
 

Plantação de gergelim em Mato Grosso (Foto: Jailson Ligio/Arquivo pessoal)

O preço pago ao produtor pelo gergelim no ano passado variou entre R$ 2,50 a R$ 3,50 pelo quilo. Neste ano, Lidio afirma o mercado já está cotando a próxima safra em R$ 3,50/kg.

“Em novembro, abrimos contrato a R$ 3,00/kg e hoje já está em R$ 3,50/kg. Mais pra frente, temos de aguardar pra ver a demanda e cotação do dólar, já que a maioria da produção é para exportação”, explicou o consultor.

Atualmente, quase todo o gergelim produzido no Brasil é destinado ao mercado internacional através das empresas exportadoras. No entanto, o objetivo é que acordos bilaterais entre o Brasil e outros países sejam firmados, através do Ministério da Agricultura, para abrir outros mercados.

O custo de produção costuma variar de acordo com o aporte que o agricultor faz para as culturas de primeira safra. “Tem agricultor que investe bastante no plantio da soja e acaba sobrando recursos, tanto em adubação e outros fatores. O que tenho escutado é de custos entre R$ 300 a R$ 500 por hectare”, afirma Lidio.

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Segundo da Rosa, o estímulo ao plantio do gergelim abriu os olhos para as necessidades de regulamentação e legislação. “A gente tem que trabalhar registro de defensivos, que são poucos, e quando a escala de uma cultura começa a aumentar, as pragas e doenças também aumentam, e o investimento começa a ser maior”, explica.

No ano passado, o Sindicato Rural de Canarana conseguiu, junto ao Ministério da Agricultura, licença das duas variedades de gergelim mais adaptadas à região e as mais plantadas: Trebol e K3. Rosa explica que as duas melhores variedades não têm obtentor, e a entidade está na busca da semente básica dessas variedades para registrá-las.

“Através da comissão de grãos, oleaginosas e fibras da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), criamos um grupo de trabalho junto com a Embrapa para buscar desenvolver todas as necessidades para a cultura do gergelim, incluindo a abertura de novos mercados internacionais", ressalta.

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Source: Rural

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