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(Foto: Reprodução/ TV Globo)

 

São 600 milhões de hectares com 20% da água doce do mundo, mais de 37 mil diferentes espécies de vida, um subsolo precioso, um solo pobre, mas coberto por 390 bilhões de árvores, em um labirinto de 1.100 rios

Esse é o Bioma Amazônico, a maior floresta tropical do mundo, um ecossistema fechado, complexo e frágil, à despeito de sua exuberância. Pivô do travamento do acordo para criação do mercado comum entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que representa ao menos 780 milhões de consumidores e 25% da economia mundial.

O acordo vem sendo costurado há duas décadas, mas somente no ano passado foi dado um passo decisivo para sua consolidação. De lá para cá, um ano difícil. No centro da discórdia, a questão da sustentabilidade ambiental e, claro, o fogo na Amazônia.

No salve-se quem puder, tivemos desde contradições em notas oficiais até ameaças em listar países europeus coniventes com o fogo e o desmatamento na medida em que comprariam madeira ilegal. As inabilidades, diplomática e técnica, para tratar a questão foram muitas.

A UE, por sua vez, recuou na ratificação do acordo. Áustria e Holanda simplesmente rejeitaram o texto, alegando que o Brasil descumpria uma das principais garantias, a de preservação da Amazônia. Bélgica, Irlanda e França estão resistentes e a Alemanha, antes uma defensora do acordo, deu um passo atrás.

Para a opinião pública é difícil acompanhar esse cenário que oscila ao sabor da política. Nossas reações foram inábeis ao negar fatos, devolver acusações à UE, desmontar e, logo em seguida, pressionados, remontar órgãos de vigilância da Amazônia.

Poderíamos ter evitado essa exposição à crítica internacional, que está sempre de olho na Amazônia e nem sempre bem intencionada. O agronegócio, claro, está no olho do furacão. Possivelmente uma imputação de culpa exagerada e talvez injusta.

Claro, existem as atividades ilegais, mas estão longe de ser maioria. A Amazônia Legal é protegida por Lei. Conta com o Código Florestal, que garante que 80% do seu território sejam intocados. Os verdadeiros produtores rurais cumprem as leis – simples assim – porque é da natureza do verdadeiro produtor rural.

Para o avanço do acordo precisamos desvincular a imagem do Brasil ao desmatamento ilegal e o primeiro passo para exterminá-lo é reconhecer que ele existe. É preciso perceber que os desmatamentos provêm de várias vertentes, desde a exploração de madeira e garimpo ilegais, passando pela grilagem de terras. Neste contexto, a atividade pecuária seguramente é a menos rentável e atrativa.

Se a formação do bloco UE e MERCOSUL, com seu potencial econômico não for suficiente para nos interessar, vale aprender nisso tudo que a Amazônia pode até não ser o tal “pulmão do mundo” – pois o que produz de oxigênio ela mesma consome – mas funciona como um grande filtro do dióxido de carbono.

Além disso, contribui para o equilíbrio do clima no centro sul do país: os rios voadores, formados pelos trilhões de litros de água evapotranspirados da floresta precisam continuar seu curso, indo da Amazônia até os Andes e voltando ao nosso encontro. Sem nossa floresta, o Brasil será árido.

Luiz Josahkian é zootecnista, especialista em produção de ruminantes e professor de melhoramento genético, além de superindente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam necessariamente o posicionamento editorial da revista Globo Rural.
Source: Rural

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