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(Foto: Getty Images)

 

 

A pesquisa inédita que aponta a redução no consumo de carne e o crescimento do mercado plant-based no Brasil, divulgada com exclusividade pela Revista Globo Rural, reforça como a indústria tem sido uma engrenagem decisiva na mudança de comportamento dos consumidores e no incentivo à redução da carne no prato.

Prova é que 59% dos 2 mil entrevistados pelo Ibope em todas as regiões do país afirmaram que, nos últimos 12 meses, comeram alternativas vegetais para carne, leite e ovo ao menos uma vez por semana.

O avanço do setor no Brasil acompanha uma tendência mundial. Em cinco anos, o consumo de alternativas vegetais cresceu 80% na Europa e no Reino Unido e quase dobrou nos Estados Unidos, apontou relatório recente do Rabobank.

 

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O movimento também ganhou força com a Covid-19. “A pandemia mostrou a boa parte da população que o consumo de produtos de origem animal tem relação com o risco de novas pandemias. E muitos aproveitaram esse período em casa para testar novas propostas alimentares”, analisa Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Mas a peça-chave é a capacidade de a indústria entregar sabor, aroma e textura semelhantes aos produtos de origem animal. Um desafio regado à tecnologia e que traz lucros mesmo diante da necessidade de importar a maioria dos ingredientes – o que já faz o setor mirar parcerias com o agro de olho na produção nacional.

Desde o lançamento da primeira alternativa vegetal à carne, há um ano e meio, os negócios superam as expectativas, e o Brasil já exporta para pelo menos 10 países. “Percebemos que era uma mudança de comportamento, não uma tendência”, conta Camille Lau, gerente de marketing da Unilever Food Solutions.

 
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A empresa trouxe ao país neste ano a marca holandesa The Vegetarian Butcher com receitas exclusivas para os brasileiros – o Brasil é o primeiro país fora da Europa a oferecer produtos personalizados. O resultado é tão favorável que o plano é nacionalizar a produção de matéria-prima no 1º semestre de 2021.

Já a Vida Veg, fundada em 2015, dobrou o faturamento entre outubro de 2019 e outubro deste ano. E prevê dobrar novamente em 2021. Já são 27 produtos vegetais similares a leite, lácteos e carne em cerca de 2 mil pontos de venda no Brasil. Além disso, recentemente, a empresa inaugurou uma nova fábrica em Lavras (MG), que já tem plano de ampliação.

“O potencial é enorme. Quando a pessoa começa a diminuir o consumo de produtos de origem animal e sente os benefícios, começa a buscar mais. Hoje, nosso hambúrguer já tem a mesma quantidade de ferro e o leite possui mais cálcio do que o animal”, conta Anderson Rodrigues, diretor executivo e um dos fundadores da empresa.

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O alvo dessa indústria são os flexitarianos – pessoas que querem reduzir o consumo de produtos de origem animal. Outro diferencial é o conceito de melhoria contínua dos produtos, com lançamento de novas versões a partir do feedback dos consumidores.

A inteligência artificial é outro trunfo. A chilena NotCo, que oferece similares para leite, carne e ovo, usa a tecnologia para formular receitas, combinando conhecimento científico e opinião de chefes de cozinha e clientes. Um software sugere as proporções de ingredientes e projeta que sabor o ser humano vai sentir ao provar.

“Nossa batalha é contra o sistema alimentar, que está falindo. Acreditamos que tudo o que os animais dos quais nos alimentamos têm para fornecer está disponível em radicais moleculares na natureza. A questão é encontrar e recombinar para que fique o mais próximo possível”, afirma Luiz Augusto Silva, head de global business development da NotCo.

 
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Gigantes no páreo

E não é só empresas 100% vegetais que estão no jogo. Já há gigantes da indústria de proteína animal dando as cartas, como a Seara Alimentos. Nove meses após lançar sua linha de produtos, que conta com 11 itens, a meta é ampliar os pontos de venda no país de 6 mil para 20 mil até metade de 2021.

“A linha vende de oito a nove vezes mais do que o planejamento inicial. E ainda é muito pequeno diante da oportunidade de pelo menos 30 milhões de brasileiros dispostos a experimentar”, conta José Cirilo, diretor executivo de marketing e trade da Seara Alimentos.

Mesmo tendo de importar ervilha da França e soja dos Estados Unidos, a Seara aposta em sua capacidade de escala, processamento local e fidelidade dos consumidores para tornar as alternativas vegetais algo rotineiro no prato do brasileiro.

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“Nosso compromisso é ampliar o portfólio para o dia a dia. E vamos trazer uma novidade para chacoalhar o mercado em março de 2021. O crescimento deste setor é exponencial. Queremos que ele represente 15% dos negócios mundiais da JBS em três anos”, diz Cirilo, observando que a entrada de grandes empresas no setor contribui para a oferta de preços mais acessíveis.

Já a Marfrig lançou no fim de 2019 uma linha focada no canal de food service e, em julho deste ano, embarcou o primeiro contêiner de hambúrgueres vegetais para a Europa. Os produtos vendidos hoje têm soja como base, mas o plano é diversificar o uso de ingredientes.

Foi pensando nisso que a companhia se uniu à ADM na joint venture PlantPlus Foods, focada em alternativas vegetais. Estão no radar parcerias com o agro para estimular a produção nacional de insumos. A previsão é de novos lançamentos no primeiro semestre de 2021.

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“O mercado de produtos alternativos cresce em torno de 8% ao ano, e a expectativa é de que isso aumente ainda mais”, informou a Marfrig, em nota. A empresa ressaltou, ainda, que o investimento no mercado plant-based não incentiva a redução da carne bovina, mas sim "mantém próximos da companhia aquela parcela da clientela que optou por diversificar".

Outra gigante que entrou no setor plant-based é o Grupo Mantiqueira, que projeta crescer três dígitos em 2021 com a startup N.Ovo, com substitutos ao ovo. “O sucesso foi tão grande que decidimos em setembro ter a startup olhando só para este mercado. A ideia é que o produto seja tão gostoso e acessível que vire uma escolha óbvia”, diz Amanda Pinto, head de inovação.

Segundo ela, a decisão de ingressar no mercado plant-based partiu da premissa de que é melhor ser pioneiro do que resistir a uma demanda crescente do consumidor. “Entendemos que, se não fizermos esse movimento, outros farão. É muito melhor olhar para isso como uma oportunidade”, avalia Amanda.

(Foto: Pixabay)

 

Vendas em alta

O resultado de tantas novidades é um frisson nos mercados. Na rede Pão de Açúcar, um terço dos hambúrgueres congelados vendidos já é vegetal. Mesmo após a pandemia, as vendas do mercado plant-based subiram 70%. E, para 2021, a meta é crescer dois dígitos.

“Temos trabalhado para a produção ganhar escala e ter preços competitivos. Com ofertas, percebemos que há interesse na experimentação e na recompra”, ressalta André Artin Machado, gerente de desenvolvimento comercial da rede.

Ele também destaca que, hoje, os produtos plant-based estão espalhados por todo o mercado. “Mas o local que dá mais retorno é ao lado do produto convencional equivalente, seja leite, carne, queijo, o que for”, observa.

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Desafios financeiros e políticos

Apesar de promissor, o mercado plant-based no Brasil ainda tem gargalos. Um deles é reduzir o preço dos produtos. Outro é fomentar uma produção nacional de ingredientes. Medidas que, segundo indústria e varejo, passam por regulamentação e redução de impostos.

“Pago oito vezes mais para importar a matéria-prima, pois não encontro no Brasil leite de coco com padrão de qualidade elevado e sem conservantes. Outro fator são os impostos, pois não temos isenções do governo, como a indústria de leite animal”, diz Rodrigues, da Vida Veg, destacando a importância de os produtos ganharem escala no país para reduzir os custos.

N.Ovo e NotCo também endossam a importância de incentivos governamentais. “O primeiro passo é a tributação. Depois, a competição vai ajudar. No caso do leite, a bebida vegetal paga 4,7 vezes mais imposto”, ressalta Silva, da NotCo.

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O The Good Food Institute (GFI) tem liderado um movimento para levar um discurso de consenso a Brasília. O primeiro passo foi um manifesto assinado por 22 empresas, incluindo gigantes como BRF, Seara e Danone. O setor também mantém conversas com o governo desde 2019, por meio dos ministérios de Agricultura, Ciência e Tecnologia e Economia.

Entre as estratégias, estão o argumento de que o Brasil tem potencial de ser protagonista no mercado e o plano de vincular a redução tributária à sustentabilidade dos produtos plant-based. Além disso, o GFI está contratando um estudo regulatório com recomendações que vão desde produtos à base de plantas até carne cultivada.

Historicamente, a inovação sempre andou na frente do regulatório. E a ação do governo é importante para regular e reduzir a insegurança jurídic

Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do GFI Brasil

 

Procurado pela Revista Globo Rural, o Ministério da Agricultura diz estar fazendo um “diagnóstico preliminar” para um possível marco regulatório, “tendo como objetivo a parametrização da produção e comércio” e promete diálogo, apesar de não dar prazo.

Agro no radar

A escalada dos produtos à base de plantas não muda o papel decisivo do agro na alimentação. Pelo contrário, abre oportunidade de agregar valor à produção se o setor atender à demanda da indústria por ingredientes nacionais.

No caso da soja, a pesquisa mostrou que não há resistência pelos consumidores, mas, pelo forte apelo sustentável, a indústria não cogita abrir mão de grãos não transgênicos e, preferencialmente, orgânicos.

Para fazer essa ponte, o GFI Brasil criou o Programa Elo, que visa mostrar que a proteína vegetal pode trazer renda adicional ao produtor, ser menos sazonal e até mais lucrativa. “No caso de integração lavoura-pecuária-floresta, o pecuarista pode criar boi sustentável, manter a floresta e ainda produzir ingredientes ao mercado plant-based”, diz Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo GFI Brasil, que coordenou a pesquisa feita pelo Ibope.

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Outro trunfo é a biodiversidade brasileira, que pode ser explorada por meio de investimento em pesquisa para desenvolver novos produtos. “Ao fazer uso de ingredientes locais, a indústria passa a apoiar comunidades produtoras e ajuda a manter a floresta em pé, criando uma atividade econômica que depende da preservação ambiental”, observa a gerente.

Para Victor Ikeda, analista sênior do Rabobank, um dos desafios deste novo mercado, que ainda precisa amadurecer, é conquistar a confiança do produtor e oferecer garantias para estimular o plantio.

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Nesse sentido, segundo ele, um caminho seria formar parceria com cooperativas. “Temos uma cultura no Brasil de cooperativas muito fortes. Uma forma de ganhar escala seria diluir o risco. Em vez de um produtor plantar 1 mil hectares de lentilha, por exemplo, 1 mil produtores plantariam um hectare cada”, salienta.

Para Ricardo Laurino, da SVB, a transição é inevitável. “Estranho é achar que a mudança não pode ser tão rápida. Para o agro, é questão de sobrevivência diante de uma nova visão sobre o que as pessoas vão comer no futuro”, afirma.

O mercado plant-based é um convite para o agro olhar de forma mais ampla e ver oportunidade. Não ter que decidir planta ou vaca, mas planta e vaca. E essa diversificação vai permitir ser mais eficiente

Luiz Augusto Silva, head de global business development da NotCo

 
Source: Rural

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