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(Foto: Joana Colussi/Globo Rural)

 

Iniciada no auge da pandemia de Covid-19, ameaçada por tempestade com força de furacão e impactada pela estiagem no fim do ciclo, a safra de grãos no Meio-Oeste dos Estados Unidos chega ao fim com resultados distintos entre as principais regiões produtoras.

Enquanto em Illinois os produtores respiram aliviados ao alcançar altas produtividades, agricultores de Iowa veem a produção reduzir à medida que a colheita se encaminha para o fim. 

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O fator positivo e comum a todos é a recuperação dos preços da soja e do milho na Bolsa de Chicago, puxada por projeções menores de estoques e compras recordes da China. Mesmo assim, parte da rentabilidade da agricultura norte-americana será garantida com ajuda do governo.

 

 

 

Produtor rural em Bement, no condado de Piatt, região central de Illinois, Steve Ayers, 71 anos, deve concluir a safra de soja com média de 60 bushels por acre (equivalente a 67,25 sacas por hectare) e a de milho com 200 bushels por acre (209 sacas por hectare).

A produtividade do produtor é superior à média estimada para a soja no país, de 51,9 bushel por acre (58,2 sacas por hectare), e para o milho, de 178,4 bushel por acre (186.6 sacas por hectare), segundo o último levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).

Ayers disse que teve "muita sorte" diante dos problemas climáticos que atingiram o país (Foto: Joana Colussi/Globo Rural)

 

No total, Ayers cultivou 500 acres de soja (202 hectares) e 475 acres de milho (192 hectares). “Realmente tive muita sorte. Tivemos eventos catastófricos neste ano, como tempestade e chuva de granizo, mas minhas lavouras não foram atingidas”, comemorou Ayers, que começou a colheita no final de setembro e deve concluir até o começo de novembro.

E com a recente reação dos preços da soja e do milho, ele prevê lucro para a safra deste ano, levando em conta a ajuda do governo federal, como duas rodadas do Programa de Assistência Alimentar do Coronavírus.

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Com a esperança de cotações ainda maiores, o produtor ainda não vendeu a produção, que está sendo armazenada na Topflight Grain Cooperative, localizada a menos de cinco quilômetros da propriedade. “Estou esperando o melhor momento. O preço pode subir mais”, disse esperançoso.

Produtor americano Steve Ayers está confiante que preço da soja e do milho vão subir mais (Foto: Joana Colussi/Globo Rural)

 

Forte recuperação dos preços

A recuperação das cotações na Bolsa de Chicago teve início no final de agosto, após longa recessão causada pelos altos estoques no mercado interno e pelo agravamento da crise do coronavírus. Em 7 de agosto, por exemplo, os contratos de milho para dezembro eram de US$ 3,21 por bushel e os contratos de soja para novembro eram de US$ 8,68 por bushel.

Em 20 de outubro, os negócios futuros de milho chegavam a US$ 4,08 por bushel, aumento de 27%, e o de soja a US$ 10,64 por bushel, variação de 22%. No dia 26 de outubro, o preço da soja chegou ao maior patamar desde janeiro de 2017, de US$ 10,87 por bushel.

Na soja, esses são os níveis de preço mais altos que os agricultores dos EUA viram nos últimos anos, anteriores à Covid-19 e a incerteza comercial com a China

Mac Marshall, vice-presidente de inteligência de mercado do United Soybean Board e do U.S. Soybean Export Council

Segundo Mac Marshall, vice-presidente de inteligência de mercado do United Soybean Board e do U.S. Soybean Export Council, a lucratividade e o ponto de equilíbrio variam de agricultor para agricultor, apesar de os níveis de preço serem os mais altos dos últimos anos.

Presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho, John Linder pondera que as atuais cotações do milho não trouxeram lucro para todos, pois a comercialização da safra é um processo que se estende por 18 meses. “Parte da safra foi vendida no início do ano para pagar contas e gerenciar o fluxo de caixa”, explica Linder, produtor no Estado de Ohio, que plantou o milho tardiamente e começou a colher mais tarde.

(Foto: Joana Colussi/Globo Rural)

 

Na análise de economistas do Farmdoc, grupo de extensão agrícola da Universidade de Illinois, as recentes altas de preço aumentaram consideravelmente a perspectiva de retornos agrícolas para a safra deste ano.

Em terras agrícolas de alta produtividade no centro de Illinois, por exemplo, os lucros projetados são de US$ 220 por acre para milho e US$ 290 para soja. A projeção leva em conta o preço médio de US$ 3,55 por bushel para o milho e de $ 9,45 por bushel para a soja.

Esse retorno porém, ponderam os analistas do Farmdoc, é alcançado em lavouras com produtividades acima da média e levando em conta os subsídios do governo federal, como a segunda rodada de pagamentos do Programa de Assistência Alimentar do Coronavírus.

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Do pacote de US$ 14 bilhões anunciado em setembro, por exemplo, US$ 3,5 bilhões foram para o milho e US$ 1,4 bilhão para a soja. Às vésperas das eleições presidenciais, a participação do governo na receita líquida em dinheiro dos agricultores em geral chegará a 39,7% nos EUA, a maior em 20 anos.

Safra reduzida e compras da China

A redução do tamanho da safra, que chegou a ser projetada como recorde em agosto, foi um dos fatores que ajudou a elevar as cotações na Bolsa de Chicago. A última projeção do USDA, divulgada em outubro, estimou a colheita de soja em 116 milhões de toneladas (a quarta maior da história), 20% acima do ano passado, mas 1,04% inferior ao levantamento anterior.

Já a produção de milho foi projetada em 373 milhões de toneladas (a segunda maior da história), 8% superior a 2019 e 4,5% menor do que a última projeção. A safra menor é resultado da escassez de chuva no final do ciclo e a estragos provocados pela tempestade com força de furacão que atingiu principalmente Iowa, maior produtor de milho e segundo maior de soja nos EUA.

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Estimativas do USDA apontam que 850 mil acres (344 mil hectares) foram perdidos no Estado em razão do fenômeno climático. “Agricultores em Iowa viram danos devastadores do derecho (nome dado à tempestade de vento de longa duração e distância). E em outros bolsões do país os agricultores viram secas moderadas a severas impactar nos rendimentos”, acrescenta Marshall.

Os danos nas lavouras coincidiram com a aceleração das compras de soja e milho dos EUA pela China. Embora os volumes ainda estejam bem abaixo dos US$ 36,5 bilhões prometidos na fase 1 do acordo comercial, o aumento dos embarques nos últimos meses ajudou a valorizar as cotações.

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Dados do US Census Bureau mostram que as 2,45 milhões de toneladas de soja vendidas para a China em agosto superaram o volume dos seis meses anteriores combinados. O dirigente do U.S. Soybean Export Council destaca que nas primeiras seis semanas do ano comercial, que iniciou em 1 de setembro, os EUA venderam mais 6 milhões de toneladas à China, volume recorde para o período.

Grandes embarques de milho também ocorreram, como 1,18 milhão de toneladas em agosto. E, mais recentemente, o atraso no plantio da safra brasileira também ajudou a sustentar as cotações diante de um possível alongamento da janela norte-americana de exportação.

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Assim que terminar a colheita, em novembro, os produtores americanos já se voltarão para a próxima safra de grãos, onde a reconstrução da demanda pelo milho é considerada uma das prioridades.

“O mercado de etanol não voltou aos níveis anteriores ao coronavírus, em parte porque a pandemia ainda não foi embora. Precisamos que os mercados se recuperem”, resume o presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho.
Source: Rural

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