(Foto: Ernesto de Souza/ Editora Globo)
As melhorias em infraestrutura e logística no norte do país, associadas a condições de mercado favoráveis à exportação de grãos, contribuíram para a oferta reduzida de milho enfrentada pelos produtores de proteína animal neste ano.
Segundo o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Dirceu Talamini, a menor oferta de grãos na região Sul do país é um problema histórico, agravado pelos efeitos da pandemia sobre o mercado internacional.
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“Com a conclusão da BR-163 e outras vias, e também com o aparelhamento de alguns portos, o Mato Grosso começou a exportar diretamente muito milho pelo arco norte e isso elevou muito os preços do milho na sua principal região de produção”, explica o pesquisador.
Segundo a Conab, a pavimentação da rodovia BR-163 levou a uma redução de 11% nos custos de frete de Sorriso (MT) para exportação via porto de Miritituba (PA). Via Santarém (PA), a queda foi de 8%.
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Talamini também destaca a maior concorrência com a produção de etanol de milho como fator redutor da oferta de grãos no Sul do país, cujo déficit anual é de cerca de 2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul e de até 5 milhões de toneladas em Santa Catarina.
“Nos últimos anos, estima-se que perto de 5 milhões de toneladas de milho tenham sido usadas para produção de etanol. E embora ele tenha como subproduto o DDG, apenas 25% desse total pode ser destinado ao setor de ração animal”, explica Talamini.
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Localmente, a produção de grãos entre os Estados do Sul do país não tem acompanhado o avanço na produção de proteína animal. Enquanto os abates de aves e suínos cresceram, respectivamente, 27,3% e 32,2% desde 2010, a produção de milho avançou 10,8%.
“Esse cenário de escassez de milho e preço elevado é muito antigo. Inicialmente se pensava em resolver a questão com ferrovias, mas devido a essa possibilidade de exportação a esse preço, somado ao frete, se elevou muito”, observa o pesquisador do Embrapa.
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Diante do cenário atual, Talamini vê poucas possibilidades de os preços do milho voltarem aos patamares pré pandemia, dada a abertura de novas perspectivas para os produtores do Centro-Oeste após a melhoria das condições de exportação via arco-norte, o que deve limitar o crescimento da produção de proteína animal no Sul do país, sobretudo em aves, cujos preços no mercado interno e externo não acompanharam o aumento dos custos.
“O Brasil já é o maior exportador mundial de carne de frango e não se conseguiu transferir, nem pro mercado interno e nem para o mercado externo, esse aumento nos custos de produção. Então, a redução da produção tem que ser tomada como ajuste de curto prazo, já que não tem uma forma rápida pra substituir o milho no curto prazo”, conclui o pesquisador.
Source: Rural