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(Foto: Secretaria de Agricultura do México/Divulgação)

 

Ao menos 77 milhões de pessoas vivem sem padrões mínimos de qualidade para o acesso à internet em áreas rurais da América Latina e Caribe. Na região, 46 milhões de moradores do campo estão desconectados, o que dificulta os negócios, a evolução da produtividade nas lavouras e ações de educação e capacitação em lugares afastados dos grandes centros.

A análise é da pesquisa "Conectividade Rural na América Latina e no Caribe – Uma Ponte para o Desenvolvimento Sustentável em Tempos de Pandemia", feita pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Microsoft.

O levantamento foca na população rural de 24 países da região, incluindo Brasil, Bolívia, Colômbia, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Equador, Costa Rica e México.

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“Há uma tendência e entendimento, sobretudo por conta da pandemia de Covid-19, de que não é possível seguir adiando as discussões. Honestamente, a América Latina vai passar por uma das crises econômicas mais severas de sua história e a conectividade é algo chave para enfrentar isso”, afirma Sandra Ziegler, doutora em ciências sociais e professora associada da Universidade de Buenos Aires (UBA), uma das autoras do levantamento.

A conectividade permite disseminar o conhecimento e a informação estratégica. Nesse aspecto, essa dificuldade cria uma barreira para o acesso de produtores às cadeias de comercialização e é um problema para que jovens permaneçam nas áreas rurais com oportunidade de emprego e incentivo à economia local. Há um desafio muito grande pela frente

Sandra Ziegler, doutora em ciências sociais e uma das autoras do levantamento

A média de moradores sem acesso à conectividade satisfatória é uma realidade para mais da metade da população, com 63%. Mas, quando se exclui o Brasil, o número chega a 75%. O mesmo ocorre com a baixa qualidade dos serviços.

O uso de equipamentos, como smartphones, estão presentes, em média, em 71% da população rural, enquanto o acesso à tecnologia 4G, que viabiliza a utilização dos dispositivos desde o plantio até o transporte de determinado alimento, soma 37%.

Se desconsiderar o Brasil nos resultados, maior potência do agronegócio na região, a conjuntura é agravada: o uso de smartphones passa para 48%, e os serviços da rede de quarta geração, para 15%.

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O IICA pondera, no entanto, que faltamdados para conclusões mais aprofundadas e precisas, já que só 13 dos 24 países têm informações específicas sobre conectividade no meio rural. Destes, apenas sete contam com uma base robusta, como uso diário da internet, disponibilidade de equipamentos, acesso à banda larga e à tecnologia 4G em áreas rurais.

A pesquisa chama a atenção, ainda, pela quantidade de residentes da região latino-americana e caribenha sem acesso à internet: são 244 milhões de pessoas, ou 32% da população – incluindo os 46 milhões que vivem no campo. Para efeito de comparação, o Brasil tem uma população total de 211,8 milhões de habitantes, segundo o IBGE.

(Foto: Secretaria de Agricultura do México/Divulgação)

 

A falta de um meio rural amplamente conectado reflete diretamente na possibilidade de educação e capacitação das populações dessas áreas. A análise mostra que, em oito dos 10 países analisados da América Latina, menos de 15% das escolas rurais têm acesso à banda larga ou à velocidade de internet suficiente. Quando consideradas apenas as escolas conectadas, a média é um pouco maior, com 34%.

Conectividade x economia

 

O trabalho realizado pelo IICA e parceiros destaca que a conectividade em países em desenvolvimento pode contribuir para a retomada do crescimento das economias após o coronavírus. O

estudo cita levantamento da União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês), de 2018, onde conclui que o aumento de 1% em banda larga fixa resulta em crescimento de 0,08% do Produto Interno Bruto (PIB) de um país, enquanto a expansão de 1% em banda larga móvel gera crescimento de 0,15% da economia.

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Por conta da doença, a estimativa de retração da economia da região varia entre 7,2%, segundo o Banco Mundial, e de 9,1%, de acordo com projeção da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Por isso, os pesquisadores entendem que a crise, “desigual por natureza”, levará o número de pessoas abaixo da linha da pobreza de 185 milhões para 231 milhões, enquanto a pobreza extrema aumentará de 68 milhões para 96 milhões, cenário preocupante para os próximos anos.

(Foto: IICA/Divulgação)

 

“Uma das questões que surgem é que, muitas vezes, as áreas localizadas em pontos de maior pobreza, o custo da conectividade e o acesso são muito mais elevados. Nessas regiões, oportunidades de teletrabalho nas zonas rurais são escassas e acabam ficando de lado. Essa desigualdade se dá nos países, mas também nas zonas mais distantes de um mesmo país”, explica Sandra Ziegler.

Para superar barreiras e manter as atividades locais, bem como a melhora da educação nas áreas extremas, as estratégias de governos, entidades privadas e organizações da sociedade civil serão importantes.

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A pesquisadora da UBA ressalta dois exemplos que podem ser utilizados em ações futuras. Um deles é uma parceria que ocorreu em 2017, na Colômbia.

A unidade local da Microsoft, o governo colombiano, organizações não governamentais e a companhia italiana Lavazza, que atua no mercado de café, trabalharam em parceria para conectar pequenos agricultores e melhorar a qualidade dos grãos colhidos, gerando renda, maior qualidade à produção e estabilidade no mercado às famílias.

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O outro case pode vir do Brasil. Uma parceria fechada em agosto deste ano entre o IICA e o Ministério da Agricultura visa o aumento da oferta de serviços e consultoria de agricultura digital a produtores familiares do nordeste brasileiro. O programa foi desenvolvido pela PAD, que tem entre os fundadores o Nobel de Economia de 2019, Michael Kremer, e deve beneficiar cerca de 1 milhão de famílias com um custo baixo.

"É necessário buscar soluções acessíveis para diferentes lugares e contextos. No caso do Brasil, há milhares de pequenas companhias que levam conectividade de forma remota às áreas rurais, onde essa atividade não é registrada nas estatísticas, deixando de fora uma importante ação que não é avaliada", concluiu Sandra Ziegler, ressaltando a importância de se ter uma base de dados mais qualificada.
Source: Rural

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