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(Foto: Reprodução)

 

A falta de chuvas nas principais regiões produtoras de grãos, entre setembro de meados de outubro, já causa preocupações para a safra de verão em 2020/2021. Analistas e representantes do setor já avaliam que há risco do atraso no plantio da soja comprometer a janela ideal da segunda safra de milho e encurtar o calendário do algodão. Além da possibilidade de afetar a qualidade da própria oleaginosa que está indo para o campo.

Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, com safra estimada em 75,4 milhões de toneladas – sendo 35,8 milhões de soja -, dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) mostram que a área plantada de soja alcançou 8,19% do total de 10,3 milhões de hectares na última sexta-feira (16/10), queda de 33,61% em relação à temporada passada, quando tinha 41,80% nesta mesma época do ano. Até a sexta-feira anterior (9/10), esse percentual estava em 3,02%, o menor dos últimos 10 anos.

“Se o clima começar a melhorar ou se as chuvas forem regulares daqui para a frente, por mais que acabe atrasado, a safra de soja pode ser boa. Ainda está em uma janela onde o problema é contornável”, afirma o analista da consultoria Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque.

Para o milho, que tem 75% da produção brasileira é plantada após a colheita da soja, o risco é maior. A safra do cereal está estimada em 105 milhões de toneladas para o atual ciclo. “O milho é um pouco mais sensível para plantar no outono, após o verão, e existe o perigo de geada lá na frente. No caso do milho, os riscos não são tão contornáveis assim. O impacto do clima é um problema mais potencial para o milho do que para a soja”, diz Roque.

Para Rafael de Lima Filho, analista da Scot Consultoria, junto ao dólar valorizado e a demanda acentuada, o adiamento da semeadura no Brasil tem gerado especulações que ajudam a manter o preço dos grãos em patamares recordes. “A preocupação com o clima e a situação do plantio gera especulações e são fatores de sustentação para as cotações elevadas”, avalia. “Esse cenário de preocupações tende, também, a sustentar os preços do milho, principalmente se, de fato, a gente tiver esse encurtamento consolidado”, completa.

Replantio

Na Terra Santa Agro, com 7 unidades de produção no Mato Grosso (MT), mesmo com a incerteza sobre o clima, 55% da área de soja, de 80,8 mil hectares, já está plantada. “Nós estamos muito à frente do restante do Estado. Isso significa que a gente plantou soja em condições adversas, em solo seco, sem nenhuma chuva. E o ideal é que você plante com um determinado nível de umidade no solo para que a semente não passe por nenhum estresse durante o período de germinação”, afirma à Globo Rural o presidente da empresa, José Humberto Teodoro.

De modo geral, ele evita fazer projeções, mas já considera a possibilidade de perda de produtividade na soja. Uma parte das lavouras não está se desenvolvendo da maneira esperada, mesmo sem replantio. Em outra parte da área, no entanto, as plantadeiras vão passar novamente. O percentual, que estava projetado em 3% no início da safra, pode chegar a 8%. “Neste ano o risco está realmente muito alto e pode ser que o replantio ultrapasse esse número, mas ainda é muito cedo para falar”, pontua o executivo.

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Para alcançar a meta de ter uma segunda safra em 70% da área, dividida entre 43,3 mil hectares para algodão e 23,3 mil para o milho, será preciso acelerar as atividades após a colheita do ciclo de verão, o que inclui o reforço com o aluguel de máquinas. “A gente movimenta toda uma rede de relacionamento, com o aluguel de maquinário, para aumentar o ritmo de plantio diário em 70%, pensando no algodão e também no milho", explica Teodoro.

Em um ano sem grandes entraves, o plantio de algodão da Terra Santa começa no início de janeiro, depois da colheita da soja, e vai até o final do mês. Neste ano, no entanto, a semeadura da fibra deve se prolongar até o dia 5 de fevereiro, com redução de 30 para 15 dias no tempo de plantio. “O nosso desafio será organizar o planejamento para plantar algodão e milho em uma janela muito menor”, avalia.

No Sul

A adversidade não se restringe ao Centro-oeste. No Paraná, segundo maior produtor de grãos do país, com safra estimada em 40,6 milhões de toneladas, os agricultores haviam semeado 900 mil hectares de soja até o dia 13 de outubro, a metade dos 1,83 milhão de hectares plantados no mesmo período de 2019, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Estado.

“Os técnicos do Deral das duas regiões (Cascavel e Toledo) destacam a preocupação dos produtores. Primeiro a necessidade imediata do retorno das chuvas, não só para restabelecer as condições do solo para efetuarem a semeadura; segundo que as mesmas ocorram nas épocas necessárias para garantir um bom desenvolvimento da safra”, diz o boletim do órgão, divulgado no início desta semana.

“Além disso, a janela menor de plantio do milho 2ª safra também deixa em alerta os produtores, que torcem para que as previsões climáticas se confirmem e as chuvas retornem ao estado'', completa o Deral.

Considerada uma das maiores cooperativas do Brasil, a Coamo, de Campo Mourão (PR), faturou R$ 13,3 bilhões em 2019 com 29 mil produtores associados no Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. Neste momento da safra 2020/2021, o presidente do Conselho de Administração, José Aroldo Gallassini, destaca que o produtor está capitalizado, mas alerta para os efeitos do atraso no plantio de soja diante da falta de chuva.

"Os produtores, que já compraram todos os insumos de olho em uma grande safra de milho, estão preocupados. Se continuar atrasando o plantio de soja, vai afetar o milho de segunda safra, que corre risco de sofrer com a geada”, ressalta.

Gallassini observa que, apesar dos cooperados terem seguro da área, a situação exige atenção, diante da possibilidade do frio causar perdas na área cultivada de milho safrinha. "Já tem um certo atraso, mas ainda dá tempo de recuperar. No ano passado, inclusive, houve um atraso, mas ainda assim conseguimos uma grande safra", afirma.

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No Rio Grande do Sul, terceiro maior produtor de grãos do Brasil, com safra avaliada em 36,4 milhões de toneladas – 18,9 milhões de toneladas de soja -, a semeadura está em 4% na soja, 1% superior à mesma época sa safra passada, quando uma seca severa levou a perda de 28,7% da produção de grãos no Estado. A área da oleaginosa está estimada em 6 milhões de hectares.

De acordo com o boletim técnico da Emater-RS, datado de 15 de outubro, o tempo seco fez os produtores reduzirem o ritmo. Na região de Ijuí, o solo muito seco impediu a continuidade da semeadura, enquanto em regiões como Soledade, Santa Rosa, Bagé, Santa Maria e Passo Fundo, as lavouras semeadas apresentam "germinação desuniforme e dificuldade no desenvolvimento inicial".

Na regional de Porto Alegre, onde 12% da área está plantada, "a antecipação do plantio nesta safra reflete atenção ao prognóstico de estiagem de dezembro a março", por conta do La Ninã, fenômeno climático tido por especialistas como o principal fator de desequilíbrio no período de chuvas este ano.

Para Rafael de Lima Filho, da Scot Consultoria, as próximas semanas serão decisivas. “Tem chuva prevista para o final de outubro de forma mais regular, o que deve ajudar para o avanço da safra. As próximas semanas serão muito importantes para o aumento da semeadura, já que gera incerteza e especulações, e, claro, pode levar a uma redução na intenção de plantio em função de uma condição mais adversa”, finaliza.
Source: Rural

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