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Tomate e alface são cultivos em área experimental de olericultura orgânica na UFPR, em Pinhais (PR) (Foto: Divulgação)

 

*Publicado originalmente na edição 420 (Outubro/2020) de Globo Rural

No passado romantizado e associado apenas à produção orgânica, o uso de organismos vivos no combate a pragas e doenças e na nutrição de plantas começa a ganhar escala na agricultura brasileira.

Embora ainda represente apenas 2% do mercado de defensivos agrícolas no país, o controle biológico vem crescendo a cada ano, puxado pela pressão da sociedade por consumir alimentos mais saudáveis, pela necessidade de redução dos custos de produção e pela dificuldade das indústrias químicas em obter novas moléculas e princípios ativos.

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O movimento recente pode ser observado nos números do setor. Entre os 340 produtos biológicos registrados no Ministério da Agricultura (Mapa) desde 2005, quase a metade ocorreu de 2018 para cá. Em agosto passado, houve recorde de autorizações para um único ano, com 56 novos produtos.

O mercado tem crescido, em média, 15% ao ano e deve chegar a R$ 776 milhões em 2020, segundo projeção da CropLife Brasil, associação formada por especialistas e empresas de produtos biológicos, defensivos químicos, biotecnologia e germoplasma.

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“O uso de controle biológico não pode mais ser visto como alternativo. Ele é obrigatório dentro do sistema de defesa vegetal e manejo integrado de pragas”, destaca Amália Borsari, diretora de biológicos da CropLife Brasil. Com o constante aumento da resistência a produtos químicos, devido a repetidas aplicações, os biológicos aparecem como uma ferramenta a mais para proteção e defesa nos campos.

“Quem salvou os produtores rurais da Helicoverpa armigera foram vírus e bactérias”, lembra Amália, acrescentando que há 29 inseticidas microbiológicos para combate da Helicoverpa nas lavouras. Entre os agentes naturais de controle mais usados na agricultura brasileira destacam-se os microbiológicos, seguidos dos macrobiológicos. Dos 79,2 milhões de hectares plantados no Brasil, cerca de 20 milhões de hectares são tratados com algum tipo de biodefensivo, segundo estimativas da CropLife Brasil.

Cerca de 80% do mercado de biológicos está concentrado hoje em grandes culturas, como soja, milho, algodão, café e cana-de-açúcar. “Mas a maior taxa de adoção ainda está na produção de frutas e hortaliças, que, por serem consumidas in natura, têm maior pressão dos consumidores para a rastreabilidade e menores limites de resíduos”, afirma Amália.

O controle biológico não é mais alternativo. É obrigatório dentro do sistema de defesa vegetal e manejo integrado de pragas

Amália Borsari, diretora de biológicos da CropLife Brasil

O avanço da agricultura digital no campo, por meio de aplicaticos, softwares e drones, auxiliou a aplicabilidade do controle natural nos últimos anos, destaca o agrônomo Dori Edson Nava, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, que atualmente pesquisa parasitoides nativos para controle da mosca-das-frutas.

O desenvolvimento de um produto de baixo impacto, assim como os químicos, pode levar dez anos. A maioria dos agentes que estão sendo registrados agora começou a ser estudada há quase duas décadas, explica Nava. “Boa parte do impulso veio de institutos de pesquisa e universidades, assim como de empresas e startups que nasceram focadas no controle biológico.”

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Incubada no Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a startup BioIn desenvolveu um sistema de produção biológica on-farm. Por meio de uma estufa com ambiente controlado e ovos de microvespas (tipo Trichogramma), fornecidos pela empresa, é possível produzir os agentes que parasitam ovos de mariposas e impedem o avanço de lagartas na produção de grãos, frutas e olerícolas.

“É uma minibiofábrica móvel, onde o produtor consegue ter o controle de todo o processo, com o nosso acompanhamento técnico, da produção até a liberação dos agentes biológicos”, explica a agrônoma e doutora em fitotecnia Camila Vargas, CEO da BioIn, criada há dois anos juntamente com os sócios Fernanda Borges, engenheira química, Thiago Kern, engenheiro mecânico, e Thiago Petersen, administrador.

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A ideia surgiu para resolver o problema de logística que envolve a produção de biológicos, visto que se trata de organismos vivos, explica Camila. Cada miniestufa é capaz de produzir agentes para cobrir até 250 hectares de produção. As minifábricas portáteis foram comercializadas até agora para produção de arroz e tomate.

Outra iniciativa que nasceu nas universidades foi a primeira patente verde com potencial para registro como biofertilizante do país, expedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em junho deste ano. Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveram uma solução à base de microalgas capaz de reduzir o ciclo produtivo e aumentar o tamanho das plantas.

“Os experimentos foram feitos na produção orgânica de alface, mas os resultados extrapolam para qualquer espécie vegetal”, explica Átila Francisco Mógor, professor do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade da UFPR.

Área experimental de olericultura da UFPR, em Pinhais (PR) (Foto: Divulgação)

 

Para chegar ao mercado, a matéria-prima sustentável precisa agora ter o registro encaminhado por alguma empresa interessada. “As microalgas já se mostraram efetivas também em setores como fármacos e energias alternativas”, acrescenta o professor, um dos autores da patente, ao lado da bióloga e pós-doutoranda Gilda Mógor e de dois pesquisadores da Universidade Széchenyi István Egyetem, na Hungria.

Recentemente o setor de biodefensivos ganhou força também com a investida das indústrias químicas. Entre as 91 detentoras de registros no Brasil, figuram gigantes como Bayer, BASF, Syngenta e FMC. Atualmente com sete produtos biológicos no portfólio no Brasil, a alemã BASF aumentou a atuação nesse mercado em 2012, quando adquiriu a empresa norte-americana Becker Underwood, focada no controle biológico de cultivos.

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“Até então, não tínhamos pesquisa básica em biológicos. Com a aquisição da Becker, e depois parcerias com a Embrapa, conseguimos oferecer soluções mais completas, combinando químicos e biológicos”, destaca Ademar De Geroni Junior, vice-presidente de marketing estratético da BASF para a América Latina.

Em julho deste ano, após oito anos de pesquisas, a multinacional lançou seu primeiro biofungicida, indicado para o controle de doenças em cultivos como tomate, uva, batata e maçã. “A melhora da formulação desses produtos é o nosso grande desafio, juntamente com a logística”, afirma Geroni Junior.
Source: Rural

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