(Foto: YouTube/Reprodução)
Enquanto mais de 20% do Pantanal virava cinzas, o debate sobre quem seria o responsável pelo aumento nos focos de incêndio no bioma neste ano ganhou um "boi" expiatório na última semana, quando a ministra da agricultura, Tereza Cristina, promoveu o gado pantaneiro a “bombeiro”.
“Aconteceu o desastre porque tínhamos muita matéria orgânica seca que, talvez, se tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, isso teria sido um desastre até menor do que tivemos este ano”, disse ela, que teve a tese endossada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
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Embora seja verdade que a presença do gado no Pantanal auxilie da prevenção a incêndios como os observados em 2020, o mero aumento do rebanho no bioma não ajudaria a conter o problema. Quem garante é o criador do termo "boi bombeiro", usado pelos ministros.
Para Arnildo Pott, pesquisador da Embrapa e professor aposentado da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, o gado seria fundamental justamente nas áreas onde a pecuária tem baixa atratividade na região e que, por isso, acumulou matéria seca. “Teve mais fogo onde tem menos gado, ou nem tem gado. E por que não tem? Porque são as áreas mais inundadas. Então, ali, a pecuária é muito difícil”, explica.
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Incomodado com o modo como sua teoria vem sendo tratada durante os debates sobre o papel da pecuária nos incêndios do Pantanal, Pott afirma que o conceito do “boi bombeiro” está sendo “distorcido”.
“Não é só colocar mais gado no Pantanal, mas onde colocar. Mas aí tem o lado econômico: quem é que vai investir numa área onde a previsão é ter que vigiar a altura do rio quase que diariamente em algumas épocas?”, questiona o pesquisador, lembrando que as pastagens na beira do rio são “as melhores que existem”.
Não se pode só falar em aumentar o número de bovinos no Pantanal. É preciso aumentar onde queima mais. Agora, se não é econômico, bom, o cara que faz isso está fazendo um serviço [ambiental] e tem que ter uma compensação. O duro é conseguir isso
Arnildo Pott, pesquisador que criou o termo "boi bombeiro
Pott lembra que a sua pesquisa se refere a um manejo que era realizado no Pantanal em pequenas propriedades, bem diferente da pecuária intensiva e de alta produtividade na qual o setor tem se transformado no país.
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“Acho que se voltasse a esse manejo de pequenas roças, com criação de gado de leite, não se acumularia essa montanha de material orgânico que está na propriedade”, diz o pesquisador. O problema, contudo, está no custo para manter essas atividades em áreas alagáveis.
Além da dificuldade logística para receber insumos, os produtores precisariam de uma segunda pastagem em tempos de cheia. “Tudo isso tem muito custo. Os produtores tradicionais eram abnegados, pois, mesmo que desse prejuízo, ficavam. A nova geração é na ponta do lápis. Se não compensa, vende”, relata Pott.
Source: Rural