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Polo agrícola formado pelas províncias de Córdoba, Santa Fé, La Pampa e Buenos Aires é considerado uma das seis regiões mais produtivas do mundo (Foto: Getty Images)

 

*Publicada originalmente na edição 419 de Globo Rural (Setembro/2020)

Os preços baixos e a política cambial ameaçam as margens dos produtores argentinos com soja e milho. As projeções iniciais na Argentina indicam aumento de 2,3% na área semeada de soja e retração de 7% no plantio de milho, segundo estimativas da economista-chefe de estudos econômicos da Bolsa de Cereais de Rosário (BCR), Emilce Terré. 

A produção de soja é estimada em 53,2 milhões de toneladas de soja e 46,7 milhões de toneladas de milho. A economista explica que a perda de área de milho se deve principalmente à rentabilidade, pois os preços do cereal tiveram queda significativa desde o começo da pandemia e as margens de lucro do produtor ficaram prejudicadas.

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Segundo ela, até a primeira semana de agosto, apenas 3% da nova safra de soja (1,5 milhão de toneladas) haviam sido comercializados e 10% do milho (4,8 milhões de toneladas). Os volumes estão menores em relação à mesma época do ano passado, quando 5,5 milhões de toneladas de milho e 2,3 milhões de toneladas de soja estavam vendidos.

Emilce Terré lembra que, antes do plantio do ano passado, o preço do milho estava acima de US$ 150 por tonelada. “Hoje, quando o produtor tem de tomar a decisão sobre a área a ser semeada, vê um preço de US$ 137 para o grão que será colhido a partir de abril do próximo ano. Como o milho exige investimento inicial mais alto que outras culturas, a queda de preços tem impacto sobre a margem do produtor e o deixa desmotivado”, diz ela.

A soja e o milho estão com preços baixos, a situação climática é complexa, por causa da forte estiagem. Existem as incertezas geradas pela pandemia e pelo conflito entre Estados Unidos e China, além da recessão profunda na Argentina e em outros mercados internacionais. Tudo isso leva a estimar que não haveria aumento de produção de soja e milho na próxima safra

Agustín Tejeda, economista-chefe da Bolsa de Cereais de Buenos Aires

 

 

 

O economista-chefe da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Agustín Tejeda, reconhece que a forte desvalorização do peso argentino melhorou os preços para exportação, mas, em contrapartida, elevou os custos internos que são dolarizados, na maioria dos casos seguindo a cotação do paralelo, o chamado “dólar blue”, que tem um spread de aproximadamente 70% em relação ao dólar oficial.

Ele explica que o produtor argentino, ao vender a safra, recebe em pesos convertidos pela cotação oficial do dólar e, na hora de adquirir máquinas ou peças importadas é obrigado a recorrer ao mercado paralelo e pagar cerca de 70% de ágio para adquirir a moeda norte-americana, por causa das restrições do governo à compra de divisas. “E é preciso acrescentar o problema da inflação, que foi de 50%no último ano”, explicou.

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O presidente da Associação Argentina de Produtores de Plantio Direto (Aapresid), Alejandro Petek, observa  que a sensação do agricultor é que, quando há problemas econômicos, as margens de lucro ficam estreitas e, por isso, ele deve diminuir o uso de tecnologia e fertilizantes, o que reduz o rendimento.

Ele acredita que haverá redução da área de milho e aumento em soja, sorgo e girassol. Segundo Petek, “o milho terá superfície reduzida por duas razões: as perspectivas de poucas chuvas nestes meses e a incerteza global gerada pela provável diminuição da participação do etanol na matriz energética norte-americana, como consequência da pandemia, o que deixaria sobrando no mercado vários milhões de toneladas do cereal produzidas pelos EUA”.

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Produção menor no Paraguai

No Paraguai, a especialista Esther Storch, sócia da consultoria DasAgro, prevê que a produção de soja em 2020/2021 deve atingir 10,7 milhões de toneladas, volume levemente abaixo da projeção da safra de 2019/2020, estimada em 10,8 milhões de toneladas. Em relação ao milho, ela projeta um volume de 4,1 milhões de toneladas, inferior aos 4,3 milhões de toneladas da safra passada.

Storch pondera que os preços praticados e as expectativas de demanda em ambas as commodities ao final do ano 2020 e início de 2021 são os fatores que vão definir a área de cada uma das culturas no Paraguai. Na opinião da consultora, a tendência é manter o cultivo de soja no verão e o de milho no inverno, mas cada ano é uma alternativa que deve ser analisada antes de tomar a decisão de semear.

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O país tem uma área de 3,6 milhões de hectares. O milho é plantado no mesmo período que a soja, em setembro, com uma colheita em janeiro ou depois da colheita de soja. A safrinha da soja é implantada em janeiro e se colhe em abril/maio, enquanto a de milho é feita em fevereiro, com uma colheita em julho/ agosto.

O trigo é plantado entre abril e junho e colhido em setembro e outubro. “O milho de verão, embora com rendimentos estupendos de 8 a 9 toneladas por hectare, não ganha da soja, que é implantada em grande escala. Em termos de retorno do custo de produção, é mais rentável semear soja”, analisa.

Ela observa que o Paraguai tem uma estrutura de armazenagem e logística que deve funcionar de maneira eficiente para manejar dois produtos ao mesmo tempo. A comercialização antecipada da soja 2020/2021 já corresponde a 15%da safra, mas este percentual está um pouco abaixo da média registrada em anos anteriores, que é de 25%a 30%.
Source: Rural

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