Skip to main content

A Toscana está entre as regiões mais atingidas pela crise. O setor vinícola da região registrou queda de 25% no faturamento devido à pandemia (Foto: Divulgação)

 

*Publicada originalmente na edição 419 de Globo Rural (Setembro/2020)

Os 50 dias de lockdown, a consequente reabertura social bastante restritiva e as limitações do comércio e do turismo internacionais estão provocando uma “catástrofe” nos setores vitivinícola e oleícola italianos. Só no primeiro semestre deste ano, as perdas acumuladas nos dois setores são de quase 6 bilhões de euros.

No caso da produção de vinhos, o prejuízo chega a 4 bilhões de euros, quase metade do faturamento anual direto do setor, um dos mais afetados pela pandemia na Itália.

“Nunca vimos uma crise assim. Lembro-me que, nos primeiros dias do lockdown, fizemos uma comparação com os problemas que tivemos logo após o 11 de setembro, o atentado às Torres Gêmeas. Mas agora vemos que aquilo não foi nada em comparação ao que está acontecendo no setor hoje. É uma catástrofe”, afirma Francesco Colpizzi, presidente da divisão vitivinícola toscana da Confagricoltura (Confederação Geral da Agricultura Italiana).

saiba mais

Empresários de Ribeirão Preto produzem vinho no meio do canavial

 

A Itália é atualmente a maior produtora de vinho do mundo, com 47,5 milhões de hectolitros produzidos em 2019, e uma previsão de produção em 2020 entre 45 milhões e 46 milhões de hectolitros. Cerca de metade do total produzido é destinada à exportação.

O setor emprega direta e indiretamente 1,3 milhão de pessoas. Segundo a Coldiretti (Confederação Nacional dos Empreendedores Agrícolas), durante o lockdown, os produtores chegaram a registrar uma queda de 75% nas vendas da bebida, com uma pequena retomada após a reabertura.

saiba mais

Brasil começa safra 2020/21 com projeção de novo recorde em colheita e rentabilidade

 

Ao final do primeiro semestre, quatro em cada dez cantinas italianas apresentavam sérios problemas de liquidez. Aprevisão é que, até o final do ano, o prejuízo por empresa chegue a 300 mil euros. As mais de 825 mil empresas produtoras de azeite do país também enfrentam problemas. Em 2019, a Itália produziu 365 mil toneladas de azeite. Até o momento, a pandemia já provocou uma perda de 2 bilhões de euros, mais de 60%do faturamento anual, de 3,2 bilhões de euros. 

“Corremos ainda o risco de sobrecarga, porque fizemos a colheita entre outubro e janeiro e, já em fevereiro, tivemos a produção paralisada pela pandemia. Foram quase cinco meses parados, com os armazéns lotados, e agora praticamente já devemos começar a nova colheita", analisa David Granieri, responsável pela divisão azeite da Coldiretti e presidente da Unaprol (Consórcio Oleícolo Italiano).

saiba mais

Região do Alentejo vê Brasil como estratégico para venda de vinhos e azeites

 

Segundo Francesco Tabano, presidente da Federolio (Federação Nacional do Comércio Oleário), o quadro geral da economia também é preocupante. “Depois do verão, ocorrerá um agravamento da crise, porque teremos um aumento do desemprego, terminará o dinheiro das licenças trabalhistas e dos auxílios emergenciais e teremos muito menos liquidez, menos capacidade de compra, com o risco de uma drástica queda no consumo".

A perspectiva para os dois setores é ainda mais alarmante com a constante ameaça da introdução do vinho e do azeite italianos na lista dos produtos europeus que podem sofrer uma supertaxação no mercado norte-americano. A cada seis meses, a lista é refeita e os produtores italianos dizem viver com uma constante “espada sobre as cabeças”.

saiba mais

China paga menos pela carne bovina e Argentina aumenta embarques para os EUA

 

A medida faria parte do pacote de retaliação dos Estados Unidos à União Europeia pelo apoio financeiro dado ao setor de aviação. No ano passado, a OMC (Organização Mundial do Comércio) autorizou o governo dos EUA a impor tarifas num total de US$ 7,5 bilhões a produtos europeus por causa do apoio público dado à francesa Airbus entre 2011 e 2013. Produtos como os queijos parmesão e grana padano já fazem parte da indesejada lista americana e sofreram uma grande redução nas exportações para aquele país. 

“É claro que a medida coloca a Itália em uma enorme dificuldade. Mas o pior é que ninguém lucrará com isso, porque, se a supertaxação for aprovada, um pedaço da economia americana também será prejudicado. Todas as atividades que giram em torno da importação e distribuição de produtos europeus e italianos naquele país vão sofrer”, argumenta Domenico Bosco, responsável pelo setor vitivinícola da Coldiretti.

"Acreditamos que depois do
verão, no outono, ocorrerá
um agravamento da crise,
porque teremos um aumento
do desemprego e terminará
o dinheiro das licenças"

Franceso Tabano, presidente da Federollo (Federação Nacional do Comércio Oleário)

Em 2019, as exportações agroalimentares italianas para os Estados Unidos movimentaram 4,7 bilhões de euros. O carro-chefe foram justamente os vinhos, com um volume de negócios de cerca de 1,5 bilhão de euros.

Segundo Bosco, caso a supertaxação seja aprovada, as exportações de vinho para aquele país podem sofrer uma redução de até 70%. As exportações de azeite para o mercado norte-americano no ano passado movimentaram 420 milhões de euros. As sanções tarifárias podem afetar até 20%das exportações. Várias medidas emergenciais estão sendo adotadas no país para tentar reduzir os prejuízos dos produtores.

saiba mais

Como a vitória de Biden na eleição dos EUA pode impactar o agronegócio brasileiro

Queda na produção causa falta de azeite de dendê na Bahia

 

No caso do setor vitivinícola, o governo publicou um decreto que autoriza a “destilação de crise”, permitindo a transformação de 150 milhões de litros de vinho genérico (sem selo de controle DOC, DOCG ou IGT) em álcool desinfetante e bioetanol. Também estão sendo analisados outros dois decretos que preveem a utilização do vinho como garantia em empréstimos bancários e um bônus aos produtores que reduzirem a produção deste ano em pelo menos 15% para evitar o excesso da bebida no mercado.

Já os produtores de azeite tiveram a compra de parte da produção garantida pelo governo para o programa extraordinário de alimentação, criado durante a pandemia e destinado à parcela da população indigente.
Source: Rural

Leave a Reply